A mansão do coven estava se tornando um lugar cheio demais. Cada vez mais bruxos chegavam para se juntar ao grupo e ter um momento a só já tinha deixado de ser um desejo para uma necessidade e por isso fugiu quando ninguém estivesse vendo.

A floresta era pacífica e as árvores boas ouvintes. Respirando o ar limpo e mais gelado que o de costume, deixou a sensação limpar sua mente do estresse que vinha tendo com tantas preocupações e horários rígidos. Podiam sair, mas não chamar a atenção, por conta disso Gwena se manteve longe do centro da cidade, se concentrando em caminhar pela trilha de terra que se estendia a sua frente.

Seu instrumento musical estava consigo, então a elfa aproveitou para tocá-lo um pouco. Fechando os olhos ela sabia exatamente quais notas tocar para que o ambiente a sua volta ganhasse um ar mais melancólico. A música a fazia relembrar a infância, quando toda a sua família estava junta e eram felizes, mesmo na simplicidade. O esforço de manter o fôlego e não perder o ritmo era grande e a jovem por vezes precisava encher rápido os pulmões. Essa ação somada ao ar mais gélido deixava sua garganta seca, o que dificultava manter a música, porém ela insistia.

Talvez os deuses ou apenas o destino tivesse trago o sacerdote do caminho da montanha até ela. O que importava foi que sua chegada a obrigou a parar sua música, de forma abrupta e forçada, a fazendo respirar ofegante assim como o draconato a sua frente. De início Gwena apenas franziu o cenho sem entender o motivo da aproximação ou certa urgência em suas palavras após agradecer o elogio que recebeu.

— Eu não trabalho tocando. — Sua voz rouca a obrigou a pigarrear para que suas palavras saíssem mais claras. Algo no que ele havia dito tocou no fundo do peito da elfa e mesmo que o que tinha dito fosse verdade, talvez ajude a fizesse se sentir um pouco melhor por causa do que não teve. — Mas posso ajudar. Há motivo para esse desejo em especial? — Perguntou curiosa ajeitando sua postura. Se fosse tocar para outros, queria parecer apropriada. — Inclusive, me chamo Gwena, senhor Hiro Imai, sacerdote do Caminho da Montanha.

O tom de brincadeira estava claro em sua voz pela forma que repetiu a forma como ele se apresentou. Não queria desrespeitá-lo e ter os deuses contra si por uma frase não compreendida pela falta de um grande sorriso em sua face ou expressão mais animada.

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Gwena manteve seus olhos fixos no rosto do sacerdote, notando a cicatriz quando ele sorriu. O que teria acontecido para que ele tivesse ganho aquela marca? Ele não aparentava ser velho, mesmo para a idade dos draconatos pelo o que sabia parecia estar na flor da idade, ainda assim o que quer que tivesse sido não parecia tê-lo abalado.

— Um menino? — Questionou franzindo o cenho sem entender como aquele motivo fosse ser especial.

Logo sua pergunta foi respondida e o motivo foi pior do que esperava. A perda de um ente querido nunca era fácil, mas de uma mãe ou um pai poderia parecer como se o mundo estivesse desabando, ainda mais para uma criança. Gwena apenas balançou a cabeça afirmativamente ao entender melhor o pedido e compreender como ele era importante.

— Eu já ouvi falar sobre essa religião, mas não conheço muito. Você foi o primeiro sacerdote que eu vi até hoje e olha que eu já vivi por vários anos. — Respondeu ao ser questionada sobre o Caminho da Montanha. — Se minha mente não falha seria algo relacionado a Ayo, não?

A bruxa tinha um conhecimento básico sobre os deuses, e Ayo era um dos que os elfos mais cultuavam em sua terra. Dentre as três divindades — Ayo, Manaem e Uno — o senhor da terra parecia tem um destaque especial, ainda mais sua raça vivendo na floresta e tendo uma grande ligação com ela.

A pergunta sobre perder alguém importante a deixou desconfortável. Sim, ela tinha, mas preferia pensar que ele estava vivo em algum lugar do que seu corpo frio sem vida. A simples imagem que apareceu em sua mente a fez estremecer, mas balançou a cabeça para deixar aquilo de lado. Felizmente o sacerdote pareceu perceber e continuou a falar perante o silêncio de Gwena.

— Obrigada pelo elogio. Me faz realmente feliz ouvir isso. — Disse sentindo suas bochechas ruborizaram. Havia treinado bastante para conseguir aquilo e finalmente estava dando resultados. A pergunta em forma de proposta fez a barda morder o lábio. — Que tal me contar mais sobre os deuses? Dessa forma ambos saímos felizes fazendo algo que gostamos. — Sugeriu erguendo uma sobrancelha.

Mesmo não tendo uma fé tão fervorosa, a elfa já tinha ouvido falar de verdadeiros milagres que tinham acontecido graças a intervenção divina e pelo jeito que estavam trabalhando naquele coven, precisariam bastante para sobreviver o suficiente para chegar até o destino final.

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