• Azor Hokar, o deus da destruição, o senhor da consumação, retornou. Reencarnado no mês de Era, em 329, no Império Corrompido de Aronian. Enquanto o continente dos heróis, Samaria, está mergulhado em guerras e conflitos territoriais e políticos, Hokar reúne suas forças para trazer por fim sua vingança sobre toda a Criação – E por sua trágica derrota na Era dos Deuses.

    Enquanto isso, Mahoro Trakarhin, o rei dos imortais e guardião do Criador, prepara os reis e tenta apaziguar as guerras de Samaria para que possam olhar para o verdadeiro perigo que reside ao norte, no Império Aroniano.

    Não se renda ao temor que Azor Hokar representa e todo o mal que ele ameaça trazer. Una forças com o lado que melhor te convier e participe dessa aventura épica!
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    As Crônicas de Samaria :: Ducado de Caligo

    Caiaphas S. Moureau
    Civil
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    There's Blood On Your Lies
    "what doens't kill me better run"
    A história se passa 328 E.R., e na localidade do Ducado de Caligo. Se trata sobre a resolução de problemas internos envolvendo a criatura "Duplos", do Bestiário. A personagem é Caiaphas S. Moureau, unicamente.
    「R」
    Caiaphas S. Moureau
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    there's blood in the water
    Carne quando se rasga revelava sangue vermelho, independente do que sua superfície demonstrava. Essa era uma das verdades pelas quais operava a consciência de Caiaphas, uma verdade que sustentava seu raciocínio e a fazia ser quem era.



    Líquido carmesim que se assemelhava tanto a vinho, mas ao mesmo tempo mundos de diferença do entorpecente. Rico de um aroma doce frutífero enlaçado com a força do álcool qual conquistava o paladar apenas de se aproximar das narinas.



    Definitivamente era preferível ao pungente odor de ferro e podridão. Aquele que a acompanhava naquele instante, remanescente da ajuda que ofereceu ao extermínio de um grupo perigoso de criaturas que atrapalhava o vilarejo havia alguns dias. Porém, foi finalmente abatido, com auxílio de um punhado de seus melhores guerreiros e investidas de sua espada.



    E aquele era, até então, o evento mais interessante de sua semana. Várias tarefas ducais se acumulavam em uma velocidade assustadora, já começava a genuinamente acreditar que papéis podiam se reproduzir entre si e bem mais aceleradamente que qualquer animal.



    Havia pensado, sim, que envolveria papelada com o título..., mas sua estimativa não estava nem perto da correta.



    Reformas menores, disputas comerciais, troca de funcionários, gerenciamento de investimentos, cobrança de impostos... E isso tudo era apenas na parte da tarde, pensava apressando levemente o passo em direção à área de banhos, tentando se recordar se havia avisado ou não ás empregadas que preparassem para sua limpeza.



    Ah, os crimes que não cometeria por uma taça de vinho.



    Forçava a coluna á se manter em pé enquanto via empregadas carregando lençóis e utensílios de limpeza pelos corredores, em direção á lavanderia ou entrando nos quartos para mantê-los como deveriam ficar. Riam entre si, mas abaixavam o tom quando se aproximavam em respeito á sua presença. Em alguns momentos, olhos a seguiam por um tempo antes de se perderem pelos caminhos do castelo.



    Presenças que a faziam sentir algo agradável no coração quando via abrirem um sorriso, que a recordavam seu objetivo como a governante daquele território.



    Beirava a porta e ainda continuava se indagando, preocupada no tempo a mais e atraso que poderia causar no seu dia. Teria que adiar as reuniões, mas talvez pudesse adiantar tudo que precisava ser revisado e corrigido de sua sala. Desconfortável, mas manejável mesmo com os puxões que o sangue seco fazia quando movia.



    Não conseguia recordar de forma alguma, mas esqueceu desse questionamento assim que viu a água e pensou em tirar a sujeira que tinha virado quase parte de sua pele. Deu dois passos para frente, admirando a sala de banho exclusiva. A madeira negra substituía a pedra usual do piso do castelo, e no meio da sala redonda abria uma cavidade em lua nova preenchida de água morna. Adequadamente preparada, embora com mais pessoas que o pedido. Do outro lado, na parede se estendia um grande espelho qual mostrava sua imagem quase irreconhecível, coberta de lama e sangue.



    Algumas poucas empregadas permaneciam em pé perto da porta.



    Ignorou a leve estranheza que arranhava sua consciência em razão da memória que alguns funcionários haviam sido trocados recentemente, então nem todos estavam cientes que esta nobre em específico tomava seu banho sozinha.



    Direcionou o olhar para as presenças, reconhecendo alguns rostos, mas passando por cima disso com um levantar e acenar de mãos para que se fossem todas. Só então se despiu, expondo a pele pintada de um tom escuro de vermelho e algumas cicatrizes espalhadas pelo corpo.



    Pequenas estatuetas decoravam lacunas pela sala, junto com formatos arabescos intricados pela parede escura. Era dedicado apenas para membros da família regente, e se lembrava claramente de um rosto específico lascado, os olhos sérios ainda acusadores sobre o crime de Caiaphas em deixa-la cair.



    Arrepiou quando pensou na reação do pai naquele dia.



    Seu avô, aquele que possuía aquelas expressões ríspidas e angulares. Perto dele, o primeiro de sua linhagem na lacuna mais alta, um jovem de expressão serena descansava o olhar sobre a porta. Ao contrário do restante, possuía todo seu torço armadurado detalhado em mármore.



    Recuou o olhar das estatuetas mais recentes, do olhar gentil de sua irmã e o relaxado de seu pai.

    Era estranho imaginar que teria uma daquelas lacunas preenchida pelo seu rosto em pedra fria e pálida. Por algum motivo, sentiu a boca secar em busca de vinho com o pensamento.



    Recolheu os itens necessários e começou a esfregar a sujeira para fora, deixando uma pele levemente irritada nos lugares onde o sangue havia secado e apresentou resistência em sair. Uma tarefa pouco graciosa, mecânica, mas que dava o descanso necessário para a cacheada exausta de todos os problemas que tinha para resolver.



    Quando se julgou limpa, subiu as mãos até o cabelo, desfazendo as tranças apertadas para retirar a sujeira impregnada nos fios. Pouco a pouco, chegou até o couro cabeludo onde se concentrava resíduos da batalha e de poeira e friccionou até retirá-los. Os cachos, normalmente mais curtos, caíam até a metade das costadas molhados e finalmente limpos.



    Respirou fundo deixando a água recolher também a tensão de seus músculos e suas preocupações. Apenas flutuou, sabendo que deveria estar se vestindo para a reunião com membros importantes da corte para regulação dos impostos mensais.



    Fechou os olhos com um suspiro.



    Seu tio veio á mente, e pensou que precisaria também consultar com ele para se informar sobre os resultados dos investimentos já feitos, os relatórios que deveria revisar de acordo com os dados que haveria de receber, mudanças que precisaria calcular, o mistério das fumaças que subiam na floresta recentemente, a doença que atormentava seu povo, a árvore de Yomunhal... Isso sem nem comentar analisar possíveis perfis para um novo mestre de armas, depois do fiasco de Deimos.



    Puxou o ar para os pulmões e segurou, esperando infantilmente que ele a inflasse e a fizesse voar para longe como um balão. Mas obviamente, sabia que não aconteceria e que era necessária aqui. Precisavam dela, mesmo que ela desejasse ser livre.



    Levantou lentamente da água, vestindo o tecido fino temporário para cobrir-se e caminhando pelo corredor privado até seus aposentos. O quarto era largo, com vários quadros pendurados e um tapete felpudo que harmonizava com as cortinas que ondulavam no vento.



    Uma das paredes tinha uma abertura detalhada em madeira, com uma espaçosa varanda iluminada com singelos raios de luz. Abriu seu guarda-roupa e pegou algo apropriado, vestindo-se rapidamente e encaixando sua espada na bainha da cintura.



    Fez o caminho até a Sala de Reuniões Álamo com a postura correta e as feições inexpressivas, passando por corredores até a porta de madeira clara com ocasionais manchas castanhas que deixava alguns ruídos escapar. Abriu a porta antes que deixasse mais um suspiro sair, prendendo o cansaço em algum lugar bem longe e se carregando da forma que aprendeu como: Imponente e inquestionável.



    Os sussurros cessaram na presença da duquesa. Seu tio se encontrava na mesa com um olhar afiado, provavelmente a repreendendo pelo atraso mentalmente. Manteve-se neutra, encarando as pessoas de ambos lados e reconhecendo como os nobres responsáveis pela economia e os outros poucos comerciantes com altos lucros pela sala.



    Sentou-se na ponta, na cadeira mais alta e detalhada. Manteve a cabeça erguida e o olhar superior enquanto pronunciava palavras no mesmo tom que seu pai e irmã produziam. Ainda não havia se acostumado em como ele vibrava, mas o fez ressoar resoluto no cômodo menor que o comum.



    “Começaremos agora a análise dos impostos mensais. O Mestre da Moeda, Alexius S. Moureau fará seus pontos sobre o tópico discutido.”



    Seu tio levantou na menção de seu nome, já também começando seu discurso.



    “Por conta da falta de produtividade de grãos esse ano, os preços subiram á preços exorbitantes quais muitos camponeses tiveram dificuldade em comprar. Cobrar os impostos comuns viria com altos riscos, inclusive de alimentar revoltas. Assim sendo, apresento a proposta de abaixar temporariamente os números até a economia se estabilizar novamente.”



    Mal terminou sua fala e o nobre sentado ao seu lado se exaltou.



    “Isso é um absurdo, não podemos simplesmente resolver o problema abaixando tudo! Como manejaremos o castelo, as despesas, os funcionários com apenas isso? Isso sem falar nas reformas necessárias, com questões problemáticas surgindo no horizonte. Não é possível esse ducado sobreviver com menos, precisamos de mais!”



    Continuaram quase uma dezena de discursos que se aproximavam de um ou outro, com poucas nuances entre os semelhantes.



    Os dois estavam corretos, na verdade. E esse era exatamente o problema, já que os dois necessitavam de medidas opostas. Problemas estavam chegando á sua porta, e precisava do poder monetário para investir em proteção e em desenvolver segurança. Além disso, parar de movimentar a economia era perigoso por si só, a estagnação carregando seus próprios perigos. Com a doença das fadas correndo, e todas as ameaças... Segurou um suspiro e apertou o punho em volta do apoio de braço.



    Não podia sair do castelo para auxiliar, com o governo ainda instável e necessitando de sua presença para fazer uma troca sem maiores problemas.



    Quanto aos impostos, precisava de uma medida que cobrisse tanto aqueles que se beneficiaram tanto os que mal tiveram de comer. Algo que igualasse, consciente de que não podia deixar ninguém muito insatisfeito.



    Conduzia o olhar pela discussão que continuava, e pelos rostos que expressavam cada vez mais com o aquecimento dos olhos e das vozes.



    Caiaphas bateu a taça de prata na mesa uma vez, estufando o peito e fazendo questão de manter a cabeça acima da linha comum de visão. Declarou na voz mais poderosa que conseguia, com os olhos frios e as mãos calmas em cima do colo agora que atraíram a atenção necessária.



    “Tenho certeza que o conselho presente não irá voltar a levantar a voz em minha presença, pois sabe as consequências de tal decisão.”



    Sua voz esfriou o debate, suas palavras deixando a ameaça bem clara mesmo que não declarada. Não aceitaria nenhum que falasse mais alto que ela, ou este lugar não funcionaria como deveria. Cruzou as pernas e voltou a falar com clareza no timbre.



    “Não há possibilidade de sobrevivermos com um corte no orçamento. Porém, continuar com os impostos assim realmente causará revoltas e prejuízo, e então não ajudaria ninguém. Mande que se faça assim, cobre os impostos baseado na renda que o individuo produziu durante a colheita. Cobre com rigidez, não aceitarei falta de honestidade por motivo qualquer. Aquele que ainda sim não puder pagar terá de vir até mim, e irá contribuir para o estado de outra forma.”



    Não deixou espaço para protestos em suas feições, mas deixou o silêncio pesar em cada um para que soubesse exatamente á quem pertencia à palavra final nas reuniões. As cores presentes embaixo dos olhos eram prova das noites em claro, lendo e relendo vários aspectos econômicos e a história do estado.



    Devorou livros como se fosse comida, e bebeu de seu conhecimento como se fossem água e ela estivesse perdida no deserto há dias. Quase não tinha dormido, e quando dormia quase nunca era em sua cama. Os ouvidos cansaram de ouvir a voz de Alexius, e todos os nuances eram estudados em detalhe sob seus olhos.



    Se levantou então,só então todos podendo ficar de pé. Saiu primeiro, em direção á seu escritório para analisar os papéis que deviam estar sobre sua mesa esperando crítica e alguns, uma resposta.



    O escritório era um cômodo de tamanho razoável, com quatro pequenas janelas posicionadas para ventilar e iluminar. Pedras luminosas estrategicamente posicionadas para oferecer conforto ao olhos que analisavam os materiais em cima da superfície de madeira escura e detalhada em linhas sinuosas. Descansou a espada na poltrona perto da porta, se liberando de possíveis distrações.



    Encontrou os documentos, e sentou na cadeira almofadada já pensando nas horas que levaria para chegar até o fim na pilha em sua frente. Tomou a pena na mão direita e se pôs a começar. Letras viravam palavras, que viravam linhas que viravam páginas e levavam suas horas para o passado.



    Cada papel era rabiscado com um símbolo e separado quando terminado, e mais outra seção para as cartas que ela mesma escrevia em resposta. Cada folha demandava seu tempo e concentração para atravessá-la, e também um número de suspiro. A maioria era sobre a atual economia do estado, os pedidos de aumento de orçamento de variadas categorias.



    Deslizava entre os números e os livros que tinha recebido do Mestre da Moeda rapidamente, com um olhar atento para com cada um que estava em sua linha de visão e o que deveria se feito com eles. Voltava e ia pelas páginas de diversos livros, absorta em sua pequena área por horas e horas até cair a noite e vir a madrugada.



    Dentro de sua cabeça, frases e números se misturavam em uma dança friamente coreografada, cheia de voltas e passos leves. Pontos, elogios, números eram usados como instrumentos em uma orquestra, e Caiaphas se dedicava a conduzir todos excepcionalmente.



    Mal acreditou em seus olhos quando não viu nada em sua frente. Olhou pela mesa, e foi agraciada com apenas a visão de seus trabalhos finalizados. Afundou na cadeira com um suspiro, pensando e várias coisas e nada ao mesmo tempo.







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    (c)
    Caiaphas S. Moureau
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    There's Blood On The Floor
    Bem á tempo, pois uma faca cravou exatamente no lugar onde estavam seus olhos segundos atrás. Pouquíssimos centímetros acima do ponto mais alto da testa.



    Levantou-se no susto, sem pensar corretamente nos perigos que a ação poderia trazer. A espada, agora atrás de quem havia lhe lançado a adaga, estava relativamente perto mas terrivelmente distante. Com olhos arregalados, viu a empregada que havia atendido seu banho mais cedo fazer uma expressão que não poderia se descrita de outra forma se não maligna.



    Magra e alta, ela tinha uma grande vantagem sobre Caiaphas que ainda estava sentada.



    Avançou repentinamente, pulando em cima da mesa e desferindo a mão na orelha esquerda, deixando a duquesa ver toda a sala girando e o ouvido zunindo. Desnorteada, empurrou a mesa de cima para baixo mandando a mulher para longe e todos os papéis voando.



    Piscou com força duas, três vezes antes de assumir um pouco do senso novamente, mas a este momento já era tarde demais e recebeu o soco na boca do estômago com dor. Caiu no chão, tossindo e respingando algumas gotas de sangue nos documentos jogados pelo chão.



    Sentiu puxarem seu cabelo até levantarem sua cabeça, e a mulher olhou em seus olhos e então... Aquilo não era uma pessoa. A cacheada percebeu que as pupilas começaram a diminuir, o brando doentio tomando conta de seus olhos. Sentia como se alguém arranhasse seu cérebro, rasgando os tecidos de sua consciência de forma lenta e extremamente incômoda.


    “Não se preocupe, duquesa. Viverei na sua pele de agora em diante, com certeza faremos proveito dela.”


    Aquele sorriso seria ator principal de seus pesadelos por muitos dias.


    O pânico era palatável, tinha um gosto amargo e cheirava como fogo queimando um pavio. Se sentia rodeada, sobrecarregada, frio congelante se aproximando de suas extremidades e a roubando dela mesma. Suava frio, e as batidas aceleradas apenas a faziam ter mais vontade de fugir.


    Viu lentamente um espelho de si mesma a encarar, pele transformando com sons aterrorizadores e vários formatos de ossos apontando a pele e sendo reestruturados. Seu mesmo cabelo cacheado e olhos castanhos, mesmo nariz e sardas espalhadas pelo rosto.


    Agonia pura, como se houvesse engolido algo podre.



    Fechou os olhos com toda força que tinha, virando a cabeça e mordendo o braço que a agarrava até sentir o gosto metálico na boca e o afrouxar na cabeça. Levantou parcialmente o corpo, subindo o punho direito até se conectar com o queixo da criatura. Quando finalmente em pé, tentou caminhar até sua espada, mas foi impedida por um chute na altura de seu joelho.



    Falhou por um segundo, mal conseguindo parar o soco que vinha em suas costelas. Subiu o braço esquerdo e desceu no braço que havia tentado atingi-la. Percebendo que não conseguiria chegar á sua espada sem desacordar seu oponente, atracou as mãos atrás de sua cabeça e empurrou para baixo enquanto subia o joelho.



    Conseguiu se desvencilhar de seu golpe muito tarde, e já estava desnorteado. Caiaphas foi com o punho na mandíbula, e foi surpreendida em saber que estava consciente o suficiente para redirecionar seu punho e subir a canela em direção suas costelas novamente, dessa vez acertando em cheio. Sentiu o gosto metálico na língua. Ouviu um barulho muito preocupante do seu próprio corpo.



    A dor que veio depois do chute não era normal.



    Forçou a dobra do braço até quem a segurava ceder, o cotovelo em linha do ouvido agora atingindo sua marca na cabeça. Rápido, girou e desceu o cotovelo no ombro do monstro. A reação que veio foi um chute reto no centro do peitoral, que a jogou para longe. Conseguiu cair em pé, mesmo que sentisse a ferida nas costelas piorar cada vez mais.



    Cuspiu sangue. Assumiu novamente a posição de ataque.



    Chegou com um golpe alto com a perna. Foi bloqueada com o braço esquerdo, mas não deu tempo de uma resposta e abaixou sua coluna para acertar um soco que entrasse embaixo das costelas. Pisou no seu pé em seguida, tirando seu equilíbrio.



    Foi surpreendida com uma quase vitoriosa joelhada na boca. Esquivou-se por pouco e então se levantou novamente. Aproximou-se mais, levando o impacto de um soco, mas não se deixando parar. Agarrou o braço estendido e usou de sua força para força-lo para trás e então para baixo. Ela mesma havia girado em volta do alvo.



    Agarrou com a outra mão o cabelo da criatura, e enviou voando para a mesa caída. A mesa quebrou-se em vários pedaços, mas a criatura apenas grunhiu. Era seu corpo, sabia que isso não era suficiente para matá-la. A criatura provavelmente também possuía alto treinamento de combate, o cuidado era essencial.



    Ofegante, girou os olhos pela sala. Pegou a espada e caminhou até a porta, mas ouviu ruídos acelerados e rapidamente se viu em uma situação complicada. Provavelmente reforços depois do estrondo com a mesa, e provavelmente não estavam aqui para ajudar Caiaphas.



    Só então percebeu as roupas de seu clone ainda eram de empregadas. Uma ideia mirabolante passou pela cabeça, mas suas costelas já doíam demais para pensar na possibilidade de pular a janela. Tinha em torno de dez minutos, pela altura dos passos.



    Despiu-se totalmente em menos de um minuto, correndo por cima dos papéis e despindo sua cópia. Ver seu próprio corpo nu em uma perspectiva terceira é algo que ela nunca imaginou que iria fazer, mas aconteceu e era uma sensação bizarra que subia em seus braços como aranhas.



    Se vestir foi fácil, as roupas de empregada passando rapidamente pelos braços e pernas até que ela mesma fosse uma imagem exata do monstro alguns momentos antes. Mas vestir o outro... a camiseta foi uma luta para passar pelo corpo desacordado, e as calças quase não permaneceram uma peça só. Agradeceu á tudo que podia imaginar por não ter vestido nenhum tipo de armadura.



    Vários rasgados em sua calça, mas ainda mais na camiseta.


    No exato momento em que levantou, a porta se abriu. Entraram dois homens – suas aparências, pelo menos – um elfo alto, visivelmente forte e fios claros refletindo a lua. O rosto era estranhamento pequeno dentro da face, e os olhos caídos o faziam parecer sonolento. O outro era mais baixo, não tão forte e mais esguio. Uma fada de aparência mais jovem, pálido e com os olhos distantes um dos outro. As asas eram pequenas e proporcionais ao corpo, levemente transparentes e com um ar brilhante rodeando-as.



    O mais novo estava furioso com alguma coisa. Vermelho como uma espinha nojenta, pisou pesado e começou a falar agressivamente. Gesticulava para cima e para baixo, e Caiaphas não pode deixar de lembrar as antenas de uma barata. O menino fedia.



    “Seu idiota! Eu falei para esperar! Ela é a duquesa, vagabundo incapaz, não podemos simplesmente arriscar enfrentá-la desse jeito! Meu deus, a Mamãe vai ficar tão brava com a gente se descobrir o que você fez...”


    O baixinho gritou, com as mãos puxando o cabelo com força e olhos esbugalhados.


    O loiro apenas encarava a janela como se estivesse sozinho na sala. Ainda em grave estado de choque pela luta, nem passou pela cabeça da cacheada que, caso fossem qualquer outra situação, sua expressão surpresa e assustada teria sido descoberta. Ele, depois de mais murmúrios, balançou a cabeça em desistência e desistiu.


    “Bem, pelo menos você conseguiu pegar a pele dela. Lembra que a gente só ta segurando, esse rosto é da Mamãe. A gente vai dar um jeito nela, mas não se acostume com essa pele.”



    Essa frase a acordou.



    Não sabia o que ia acontecer, e o perigo caminhava em seu lado. Mas não podia simplesmente fugir agora, mesmo que a sensação horrível fosse crescente. Precisava continuar do lado daquele corpo. Usou todo seu corpo para reproduzir uma imagem diferente, uma postura relaxada e mais próxima da criatura que a havia atacado demonstrava no jeito de andar.



    Precisava descobrir mais. Quem era Mamãe? Quais os números deles? E o mais importante, como iria exterminá-los do castelo?



    Apostou na pequena informação que tinha, nas dicas minúsculas que as entrelinhas deixavam transparecer. Exigia tudo de si para tentar manter seus próprios tiques e manias sob controle, mas tentou o máximo que podia.



    “Eu quero ver essa daqui se remoer, ela me deu um trabalho ridículo. E eu sei que não é minha, pode parar de me lembrar a cada cinco minutos.”



    Na verdade, era mais sua do que de qualquer um deles.



    As sobrancelhas subiram em uma descrença fria, subestimando a mordida daquelas palavras. O loiro continuava alienado, mas agora encarando o corpo. Recebeu uma cotovelada do mais baixo, e quase pulou de susto. Então se virou e comentou com um olhar frio, suspeito.



    “Você pegou o jeito dela muito bem. Parabéns.”



    O alto andou até o corpo e levantou-o com facilidade. Um calafrio desceu sua coluna ao ver carregarem uma réplica de seu corpo como se fosse um grão de areia.



    Pôs-se a andar, acompanhando o ritmo deles com dificuldade por conta da dor nas costelas.



    Andaram, e andaram, saíram do castelo usando seu rosto e entraram na floresta e ainda andaram mais. Caminhos escondidos, trilhas estreitas e partes muito pouco exploradas com relevos complicados. Atrasava muito por conta da costela, e acabava quase se perdendo em vários pontos. Nenhum deles olhava apara trás.



    Um grande declive foi alcançado em um ponto, tão íngreme que quase parecia uma parede de terra e raízes. Os dois subiram com facilidade, prosseguindo a jornada sem muito esforço. O grande escalou, se agarrando em raízes e chegando ao topo em um piscar de olhos mesmo com o corpo amarrado em suas costas. O pequeno era habilidoso em desviar dos galhos que fechavam seu caminho, as asas pequenas encaixando em aberturas apertadas.



    As asas bateram com força, a levantando alguns metros. Foi surpreendida, no entanto, pelos galhos que se estendiam e desciam, dificultando acesso pelo ar. Escalar com a costela naquelas condições seria impossível. Mas passar pelos galhos grossos e sinuosos com as asas largas não seria nada fácil, também.



    Tentava dosar a força com a delicadeza, e passou pelas primeiras galhas mais abertas dessa maneira. Ajoelhou-se em cima de uma levemente mais grossa, calculando como iria passar pela pelas próximas passagens. Precisou encarar e pensar seriamente antes de levantar voo, asas dobradas na quantia exata.



    Asas essas que estavam com leves câimbras por não serem usadas como deveriam, largas e esticadas, mas ignorou a queimação e continuou.


    Passou sentindo pequenos galhos arranharem suas penas.



    Mas não havia galhos grossos o suficiente para pousar dessa vez, e ficou presa entre aberturas impossíveis de se passar daquela maneira e o caminho de volta.



    Por um mísero instante, logo no momento onde iria dobrar para encaixar de volta e montar uma estratégia, as asas travaram e bateram com força no galho que a serviu de apoio segundos atrás.



    Sua asa direita, que havia recebido o maior impacto, fez um barulho horrível aos seus ouvidos. Conseguiu abri-la para aliviar sua queda, mas não sentia força nenhuma nelas para subir novamente. O pé esquerdo também não tinha aterrissado da melhor maneira possível, com muito peso repentino o girando em um ângulo desconfortável.



    Torcido.



    Encarou o desafio em sua frente sabendo que ia doer. Muito.



    Precisou se lembrar de todas as pessoas sob sua proteção. Todos que colocaram fé nela. Todos que dependiam dela.Precisou respirar fundo, mesmo que essa ação em si já lhe trouxesse dor. Se roubassem sua pele, tinha certeza absoluta que não usariam suas armas para defender e florescer o ducado. Tinha certeza que manchariam seu nome, e a tornariam um exemplo de luxúria e avareza. E o pior, provavelmente traria ruína para sua casa.



    Podia ver isso na maneira que os olhos brilhavam na menção de poder, e não consideravam responsabilidade. Como suas mãos eram tão rápidas para tomar, para matar, e nunca chegavam para ajudar e curar.



    Tinha deveres como duquesa. E ás vezes, esses deveres incluíam escalar uma parede com a costela fraturada e pé torcido.



    Segurou a raiz mais alta que conseguia alcançar, sentindo a dor se alastrar só de esticar o braço. Mordeu o lábio inferior com força, segurou mais forte e puxou seu peso.



    A dor excruciante veio imediatamente, reclamando de sua decisão de uma forma tão convincente que quase soltou e deixou-se cair no chão novamente. Apertou os olhos e seguiu. Pisou em outra raiz como apoio, e a dor amenizou levemente e lentamente.


    Mal tinha subido um metro, e já sentia suar por todo o corpo.



    Tomou outra raiz nas mãos.



    Puxou outra vez.



    Os espasmos quase a mandaram para baixo. Todo seu corpo tremia, mal aguentando o esforço contínuo que necessitava para se manter em pé nas finas raízes que aguentavam sue peso. Sentia o lábio rasgar.



    Apertou mais ainda a raiz quando mais uma onda de dor percorreu seu corpo e a fez prender a respiração. Apertou os olhos e contorceu o rosto, uma pequena lágrima escapando o canto de seus olhos.



    Pisou mais alto.



    A lágrima se multiplicou. Misturada com o suor, pingava e molhava as roupas de empregada que vestia no momento. Segurou outra raiz, e segurou as lágrimas também. Uma duquesa não chorava.



    Era como tivesse engolido facas vivas que lutavam para sair de seu corpo. Era como se estivesse pegando fogo, ardendo todo seu tórax. Mais que tudo, doía como o inferno.



    Metade do caminho.



    Puxou mais uma raiz, agora levemente mais acostumada com a dor. As mãos já estavam vermelhas com a força qual apertava. O lábio sangrava, e as lágrimas tinham parado de correr mas o suor ainda gotejava.



    A tremedeira também estava presente, fazendo usar o dobro de força para compensar.



    Precisou de um pausa antes de dar o próximo passo, se recuperar um pouco, mais umas duas raízes e chegaria ao topo.



    Logo quando achou que não podia piorar, a raiz embaixo de seus pés cedeu.



    Caiu um pouco antes se segurar em outra raiz, novamente mandando dor enlouquecedora pelo seu sistema nervoso. Espasmos mais fortes percorreram o corpo, tentando fazê-la soltar e desistir. Mas o preço a se pagar pelo alívio era alto demais.



    Todo seu peito se contraiu para levantá-la novamente, e mesmo com toda sua força mal conseguiu achar outra raiz para se apoiar. Até mesmo ela sentia o corpo gelado. Todos os seus pensamentos foram clareados pela agonia pura, que consumia cada centímetro de seu ser.



    Dessa vez, sua força engatinhou até os braços para puxar novamente. Nem parecia sua mão mais, se sentia quase uma marionete em um show horrendo e sádico. Não conseguia mais ver a tremedeira pelos olhos desfocados, mas conseguia senti-la claramente.



    Quando precisou subir a perna até a superfície nivelada novamente, sinceramente achou que fosse morrer.



    Não havia explicação para a sensação que tomou seu corpo quando dobrou a perna para cima, mas estava com certeza entre os piores momentos da vida da duquesa.



    Chegou suada, tremendo, com o rosto vermelho, a asa direita inutilizada e o pé torcido.



    Mas o que viu em cima a quebrou em níveis diferentes. Uma pilha havia corpos queimados, fadas e elfos completamente chamuscados. O fedor veio como um soco, e foi obrigada a reparar na fileira restringida de olhos quebrados e bocas trêmulas e roxas.



    Pessoas que ela imaginava ter visto essa semana, sorrindo e conversando pelo castelo. Empregadas, a cozinheira chefe, alguns guardas e mais que não reconheceu a estrutura facial.



    Nenhum deles parecia consciente.



    Os que estavam de olhos abertos muito menos.



    Completamente horrorizada. Completamente culpada. Completamente desesperada.



    E completamente incapaz de demonstrar qualquer coisa além de desdém. Pois, qualquer falha que tivesse, apenas agravaria ainda mais o peso de seus pecados. Demonstrar emoções, lamentar a situação não era a posição de uma duquesa: Ela estava ali para resolver o problema, e teve que engolir cada palavra, golpe ou xingamento que desejava mais que tudo deixar sair.



    Como uma cavaleira, poderia. Mas não era mais uma cavaleira, e esse fato nunca bateu tão forte quanto agora. O fato de que carregava a segurança de vários cidadãos na palma de suas mãos, e que não trabalhava mais para contar os salvos.



    Agora, seu trabalho era contar as vítimas e cada número acima de zero era uma sina. Não podia mais pensar em salvar, mas em prevenir e proteger. Sua espada deveria cortar o perigo antes que ele aparecesse e salvar os inocentes antes que se tornassem... como aquelas pessoas. Quebrados.



    Deu um passo, e a dor nas costelas parecia mais suportável agora.



    O loiro tinha largado o corpo no chão, e o baixinho amarrava suas mãos e pés. Já terminava quando virou para se olhar na direção da cacheada com olhar desinteressado.



    “Tá vendo, se tivesse esperado a gente, não tinha se machucado que nem um tolo. Mas foi querer se mostrar para a mamãe, agora melhor sofrer mesmo pra largar de ser idiota.”



    Desceu os ombros em uma pose relaxada e forçou os lábios a se repuxarem para cima. Doeu, mas bem menos do que deveria quando chutou a boca do corpo desacordado no chão.



    “Essa vagabunda, acabou com as minhas costelas.”



    Seu clone foi amarrado junto á linha de outros prisioneiros, e novamente foi tomada com um senso horrível de ver seu próprio rosto naquele estado.



    Não acordou, apenas murmurando em meia consciência. Os dois que a amarraram começaram a descer novamente, e Caiaphas ligeiramente olhou uma última vez aqueles que sofriam e os que sofreram nessas mãos.





    Confrontando novamente o quase precipício, sentiu como se tivesse engolido agulhas ao encarar o chão tão distante. Encarou as asas, e então os galhos que fechavam seu caminho.



    Tentou esticar as asas, e percebeu que não as forçando elas não doíam tanto. Comparado ao que tinha vivido para subir, não doíam nada. Sentou na queda, alcançando os pés no obstáculo mais baixo que conseguia encontrar.



    Então deixou seu corpo cair.



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    There's Blood On The Walls
    A dor era presente, mas relativamente amena. Agora estava longe o suficiente dos galhos para estender as asas, e abriu-as completamente. Piorou a asas direita, mas não poderia forçar mais de sua costela.



    Jogou-se ao chão, usando as asas abertas para planar e chegar o mais graciosamente possível. Assim que pousou, começou a mancar até o castelo logo atrás das duas criaturas.



    A viagem de volta foi um inferno ao seu modo. A dor menor de andar era apenas incômodo, mas senti-la constantemente irritava de uma maneira totalmente nova. Na metade do caminho já estava fumegando, calada, porém estressada com as pontas que sentia ao andar.



    Manteve-se alerta durante todo o percurso, constantemente virando a cabeça e vigiando sua visão periférica. Com a mão sobre as costelas, que agora doíam muito, se preocupando se, talvez, houvesse as quebrado. Com certeza acarretaria grandes problemas. Se separou dos dois aos portões do castelo, onde apenas fingiu



    Arrastou-se lentamente os últimos metros, e quase colocou a porta abaixo quando chegou em seu destino. Armou-se com a espada enquanto seu tio, ou algo que tinha sua aparência, abria a porta com o rosto desesperado.



    “O que está acontecendo!?”



    Perguntou com os olhos arregalados ao ver seu estado, o cabelo normalmente organizado totalmente desgrenhado á essas horas da madrugada. Caiaphas apenas o olhou, e então apontou a ponta da espada em seu coração. Viu-o engolir seco.



    “Quem quebrou a estatueta da sala de banho da Família Moureau?”



    “Do que você está falando, obviamente foi você... com 8 anos, não conseguia parar quieta nem um segundo. Aquela estatueta é do seu bisavô, sabia? Importantíssima para a história da nossa família.”



    Alexius desandou a falar, ainda levemente nervoso por conta do acidente. A duquesa decidiu que estava convencida. O empurrou para dentro, dando uma olhadela nos corredores antes de fechar a porta.



    “Fui atacada por uma criatura. Algum tipo de metamorfo, tentou me matar para assumir meu lugar.”



    A cor se esvaiu depressa do rosto do ouvinte. Assim como também de seus olhos, e que escureceram e analisaram todo seu corpo em busca de feridas graves. A cacheada não pediu permissão para se jogar em uma poltrona perto em uma pequena varanda, sentindo a leve brisa que passava as cortinas em seu rosto. Ele notou seu mancar, e amargou a expressão.



    Seu tio respirou fundo, já sabendo que não iria mais dormir naquela noite. Foi até uma sala menor, passando pela porta do lado de Caiaphas, e voltou com duas taças e uma garrafa de vinho. O alívio que percorreu o corpo feminino não podia ser descrito.



    Sentou-se na cama, e encheu as duas taças. A duquesa tomou uma na mão direita, e degustou um pequena quantia antes de expressar em voz baixa.



    “Não sei quantos podem estar escondidos no castelo. Precisamos de um plano para lidar com eles, e não podemos deixar de suspeitar de ninguém.”



    Seu tio concordou com a cabeça, virando a taça em um gole grande. Caiaphas continuou.



    “Eles acham que eu sou uma deles. Preciso da sua ajuda para fazer isso funcionar e livrar o ducado desse perigo. Vou te passar nomes quais você precisa pesquisar, e um lugar para enviar agentes furtivos. Capture o corpo que se parece comigo, e não o perca de vista, irei interrogá-lo.”



    Os cabelos grisalho levantaram tão rápido que foram todos empurrado para trás pelo vento. Os olhos incrédulos que a encaravam diziam, de todas as formas possíveis, como isso era ridículo.



    “Ficou maluca? Se usar de isca? Você é a duquesa, não pode se colocar em risco assim. Não vou contribuir para esse plano de maneira alguma.” Vociferou com desespero. Gesticulava as mãos acentuadamente, na tentativa de fazer seu ponto mais forte, mas o olhar que se conectava com o dele já estava firme em sua decisão.



    “É o necessário. Ninguém mais pode fazer esse trabalho, eu vou descobrir suas identidades e então poderemos surpreendê-los.”



    Levantou-se, descendo todo o vinho pela garganta. Seu tio abriu a boca para protestar novamente, mas foi interrompido bruscamente.



    “Eu vou me infiltrar entre eles, e você irá me ajudar. Alexius S. Moureau, eu sou sua duquesa e você fará, sim, o que eu digo.”



    Estufou o peito com dor, e seu olhar superior era uma clara demonstração de dominância. Falou pausadamente, sem levantar a voz, mas sentiu até os insetos lá fora se silenciarem. Seu tio travou o queixo em revolta, mas concordou em voz e cabeça baixa:



    “Assim será feito, Vossa Alteza”



    E então começaram seu trabalho. Caiaphas nomeou todos os rostos que tinha reconhecido, cada letra que pronunciava cortando mais fundo seu coração. Pediu uma lista e descrição física de todos os funcionários do castelo para tentar identificar mais algum, o mais rápido possível.



    “Quando chegar no local onde lhe instruí, verá sofrimento. Não liberte nenhum deles, pois é crucial para o plano que nenhuma suspeita seja levantada. Apenas faça parecer que a duquesa fugiu.”



    Seu tio assentiu, e Caiaphas se perguntou se seu olhar demonstrava tanta dor quando o dele. Continuaram a conversa, montando a investida qual fariam e a estratégia que adotariam para enfrentar essa ameaça. Quando a duquesa se preparava para deixar os aposentos, deixou sua última ordem.



    “Ah, e chame Aneliese para o meu quarto. Precisarei dela.”



    Caiaphas saiu e caminhou com dificuldade pelas passagens que a levaram até seus aposentos. Nada parecia alterado, mas ainda passou por todos os cantos procurando um grão de poeira anormal, a sensação de perigo ainda muito latente.



    Deitou-se na cama, e o cansaço a consumiu. Porém, não conseguiu dormir por um segundo. Toda vez que fechava os olhos, sentia novamente o arranhar no seu cérebro e a sensação de pânico e impotência diante da criatura monstruosa que quase tirou sua vida e tomou sua casa.



    Não que tivesse muito tempo para dormir, também.



    Quando o sol raiou no horizonte, mal tinha fechado os olhos, mas tinha seu plano muito mais afiado. Primeiro deveria esperar que se aproximassem dela, e então reconhecer o território. Talvez... esse fosse um evento oportuno para a festa de nomeação, já que tinha sido adiado em luto á sua irmã. Todos eles em um local seria muito favorável...



    Mas teria que vigiar a verba. Seu orçamento não estava dos mais altos, mesmo que não hospedar essa festa provavelmente fosse danificar sua imagem, talvez não devesse arriscar tão cedo. Sua recuperação também era algo a ser levado em conta.



    Precisaria esperar até a nova medida começar a circular, talvez duas semanas ou três. Faria os preparativos nesse tempo, e teria tempo para reconhecer seus inimigos. Traçava todas as rotas que deveria tomar seus desfechos, planos e esquemas que precisava preparar...



    Suspirou. Fechou os olhos. Contou até dez.



    E levantou para encarar o mundo novamente, mesmo que não estivesse pronta. A vida não era piedosa, e ela não iria quebrar embaixo do peso de seu título. Responsabilidades deveriam ser cumpridas, e ela não deveria dobrar para as dificuldades que apareciam.



    Ouviu batidas em sua porta, então foi até ela e as abriu. Duas empregadas se encontravam de cabeça baixa, e um milhão de opções passaram pela sua cabeça. Uma delas era a que havia sido reconhecida ontem, mas a outra... poderia tanto ser quanto não ser.



    Suas costelas doíam toda vez que respirava.



    “Preparem o banho.” A voz baixa ressoou o suficiente para ser ouvida pelas duas, e a criatura vestindo pele levantou os olhos brevemente antes de sair. Caiaphas tentou copiar o sorriso que assombrou sua noite, e então se virou para a varanda. Caminhou com dificuldade, sentando em uma poltrona escura e deixando seus pés sentirem o tapete felpudo.



    Encarou o amanhecer além da varanda.



    Inspirou com dificuldade, sentindo a dor aguda crescer na caixa torácica. Expirou calmamente, mesmo que torcendo o nariz e franzindo a testa. Passeava a mão pelos cabelos, e então voltou o olhar para os papéis em cima de sua mesa. Lembrou de tudo que tinha trabalhado para completar, esparramado pelo chão como lixo... Respirou fundo para não marchar para fora e arrastar o rosto dos monstros em sua casa em pedra quente.



    Levantou, pensando que seu banho já deveria estar pronto, e caminhou até o local. Pelo caminho não encontrou ninguém, mas dentro da sala estava uma feição nova. Caiaphas se preparou mentalmente para lidar com o rosto totalmente diferente, mas, de alguma forma, semelhante ao que tinha tirado seu sono.



    Tinha os cabelos de ébano, as asas claras com pontos castanhos estavam em descanso nas costas. O rosto era atrativo, com os olhos penetrantes e o queixo quadrado com as maçãs do rosto bem definidas. O corpo esguio não parecia ser mais forte que ela, mas definitivamente um cabeça mais alto.



    “Duquesa, Vossa Alteza. Diga-me, como foi a noite ontem?”



    Os olhos afiados não deixavam escapar um milímetro de sua figura, e Caiaphas respondeu da melhor forma que pôde. Relaxou os ombros e jogou a cabeça para o lado, tentando manter as mãos abertas e calmas enquanto gesticulava despreocupadamente.



    “Sinceramente, dolorida. Ela deu muito trabalho, mas vai ser uma gracinha vê-la queimar”



    Tentou distorcer seu rosto na expressão mais horrenda que conseguia, com o sorriso desdenhoso e sobrancelhas arqueadas. Aquilo que estava em pé na sua frente semicerrou os olhos, e então sorriu de canto.



    “Muito bem. Você não muda mesmo.”



    Passou por ela colocando a mão no seu ombro, e então desapareceu quando virou á esquerda depois da porta. Apenas minutos depois, a cacheada se despiu e pisou dentro da água morna. Vários hematomas haviam se formado pelo corpo, mas de longe o pior estava em suas costelas.



    Olhou-se no espelho, e o hematoma se estendia desde a cintura até logo abaixo do seio. Tons violetas no centro, que letamente davam lugar para um azul escuro. Atraíam atenção pela cor e tamanho, mas Caiaphas quase achava que a mancha se assemelhava com uma flor.



    Sentou em seu banho e olhou para o teto, detalhado e trabalhado por um artista muito habilidoso. De certo deveria investir em alguns artistas durante seu governo, faria muito bem para o vilarejo e ajudaria a crescer... Sua irmã era muito fã de música, também.



    Iria procurar por um artista para o baile, decidiu. Talvez fizesse uma competição? Uma oportunidade da plebe se apresentar no castelo, certamente aumentaria sua reputação pública. A nobreza que ficasse satisfeita em ter um baile.



    Decidiu que ia se reunir com seu Mestre de Moedas e outros representantes mais tarde para determinar os detalhes. Fechou os olhos lentamente, quase se esquecendo da dor em meio ao calor aconchegante que a água lhe provia.



    Seu momento de paz durou longos minutos, imersa e despreocupada por um curto intervalo em que sua consciência pode descansar. Infelizmente, não poderia permanecer ali para sempre.



    Levantou-se relutante e pisou com cuidado até seus aposentos, escolhendo roupas mais leves nesse dia. O tecido claro não definia sua forma corretamente, e suas pernas estavam desacostumadas com vestidos. Analiese já se encontrava em sua poltrona, lendo um livro calmamente.



    As rugas demonstravam sua idade, mas traía sua beleza madura. A pele escura era rodeada de um brilho etéreo, e as asas transparentes tinham leves tons de púrpura. Levantou os olhos castanhos com o olhar rígido típico da curandeira.



    A curandeira que cuidou dela desde a gestação. A pessoa que a conhecia melhor que sua mãe ou irmã conheceram.



    Apenas apontou para a cama com o rosto e Caiaphas se encaminhou, deitando e estendendo as asas pelo colchão. Logo, viu a mulher se aproximar e tirar os tecidos que atrapalhavam seu trabalho. A duquesa especialmente se sentia uma criança perto dela, que tinha o olhar afiado pela idade e experiência.



    “Realmente, criança, quando vai parar de se machucar tanto? Eu não estarei aqui para sempre para te ajudar, sabia?”



    O tom era ríspido, mas os olhos gentis transpareciam a preocupação que tinha com a jovem fada. Caiaphas não gostava de pensar em perder alguém tão importante em sua vida, e torceu o rosto quando mãos alcançaram seu ferimento mais grave. As mãos sobre sua costela apertaram sem piedade, causando um espasmo reverberar pelo seu corpo. A duquesa sussurrou angustiada sua resposta, a dor causando o maxilar retrair.



    “Eu não tive muita escolha dessa vez.”



    Ela levantou uma sobrancelha, seriamente duvidando dessa informação e não escondendo minimamente. Mesmo assim, nada disse. A cara que ela fez quando tocou um ponto específico das costelas confirmou as preocupações da Caiaphas que, realmente, era algo mais sério.



    Terminou de avaliar o hematoma, e seguiu até a asa direita. Passou as mãos pelas penas, sentindo a estrutura para descobrir a gravidade do dano. Não era a primeira vez que quebrava as asas, pra falar a verdade; se colocasse as duas lado a lado, era claro que alguns pontos eram mais tortinhos e diferenciavam entre si por todas as vezes que as quebrou enquanto criança.



    Já conhecia o procedimento, então ambas estavam conscientes que o perigo se alojava na fratura do tórax. Aquele ia ser complicado de lidar, precisaria ser acompanhado para ter certeza que não prejudicaria seus pulmões.



    “Vossa Alteza, eu irei aplicar a faixa na asa e ela irá melhorar sozinha, provavelmente em torno de 2 semanas á 1 mês. Por favor evite forçá-lo. Já o hematoma maior, provavelmente tomará 1 ou 2 meses para melhorar, e você vai precisar praticar alguns exercícios específicos para evitar complicações. Também irá tomar alguns remédios para aliviar a dor e facilitar a respiração...”



    Afastou-se um pouco, anotando algumas coisas em um papel e então guardando-o dentro do livro que lia previamente. “Preciso que Vossa Alteza me visite diariamente, para acompanhar a fratura e ter certeza que não evolua. Não precisa se restringir ao andar, mas não permaneça na mesma posição por muito tempo e durma com o rosto virado para cima.”



    Assentiu, balançando os cachos. Aneliese prosseguiu por explicar a maneira correta de respirar, fazendo-os junto á jovem para instruí-la em não piorar suas fraturas. Enfaixou a asa direita bem perto de seu torso, com faixas largas e aplicando algumas ervas para acelerar o processo e torná-lo mais seguro.



    Depois de alguns minutos, deixou a sala fazendo Caiaphas prometer que iria seguir suas recomendações e que não iria arrumar problemas até se recuperar, pelo menos. O sorriso que veio á boca da duquesa foi com uma felicidade quase infantil, a nostalgia a abraçando de maneira confortável. Quase se sentia uma menina que havia pegado uma corrente de ar forte demais novamente.



    Mas infelizmente teve que descer desse sonho, pois agora precisava assumir as responsabilidades de uma duquesa.



    Ordenou que reunissem alguns nobres importantes e o Mestre da Moeda, rezando para que a ação não levantasse suspeita e fosse vista como um desejo egoísta por luxúria. A leveza em seus pés era sinal da dor que sentia toda vez que pisava, mas continuava com face serena o máximo possível para manter as aparências.



    O sol ainda era jovem no céu, iluminando carinhosamente as paredes do castelo. O vento gelado da madrugada se dissipava pouco á pouco, deixando apenas resquícios do que havia a feito arrepiar algumas horas mais cedo.



    Passou por poucos em seu caminho, mas já começava as perceber alguns detalhes para diferenciar seus súditos e inimigos. Algo no canto do sorriso que se puxava demais, a cabeça que nunca se abaixava completamente... E, principalmente, os olhos que escondiam muito pouco a soberba e o desprezo uma vez que você aprendesse a olhar do jeito correto.



    Os eventos que se transpiraram algumas horas antes até agora não haviam sumido por completo de seu coração, uma ferida tão dolorida e latente em sua memória quanto o hematoma que a fazia estremecer toda vez que se virava para o lado machucado.



    Um sentimento gelado e amedrontador a tomou quando pensou que, no caso de necessitar participar de uma batalha, não estaria apta. Mal sentia a ponta dos dedos quando se recordava da dificuldade que teve para abater apenas um inimigo, e que não fazia ideia quantos deles estavam presentes em sua própria residência.



    Arrepiou. Fechou o punho com força. E continuou andando.

    .


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    Última edição por Caiaphas S. Moureau em Sex Mar 27, 2020 1:05 pm, editado 1 vez(es)
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    There's Blood On My Feet
    As salas de reuniões do castelo eram nomeadas pelo tipo de madeira qual eram feitas, seguindo um ordem crescente de tamanhos. A sala qual se dirigia no momento, Nogueira, era pequena e compacta com apenas quatro cadeiras e a da ponta, maior e mais detalhada como de costume. De tonalidade avermelhada, seguia aspectos detalhistas feitos por mãos exímias.

    Entrou, e os outros dois já estavam presentes ao contrário de sua expectativa. A outra face que reconheceu da outra noite, bem ali em sua frente com a aparência de um comerciante renomado, mas algo muito errado no jeito que suas pupilas não pareciam naturais se as encarasse de certos ângulos.

    Ignorou o calafrio que desceu em sua espinha enquanto desfilava até seu lugar na mesa. Puxou a cadeira e se fez confortável nela, diferente do normal para não forçar seu lado dolorido, mas ainda sim suas costelas reclamavam.

    “Começaremos agora a reunião referente á comemoração de nomeação da duquesa.” Pausou, deixando a informação de a sua decisão ser absorvida antes de continuar. “Será decidido no dia de hoje a data e a atração musical que será apresentada durante o evento. Mestre da Moeda apresente seus argumentos.”

    “Devido ás dificuldades qual o ducado enfrenta no presente momento, é favorável que tal evento seja marcado para no mínimo duas semanas daqui.”

    “Concordo com o Mestre da Moeda que há de se recuperar mais a economia antes de hospedar algo do gênero.”

    Acenei com a cabeça, pronta para passar para o próximo assunto. Ambos estavam calmos, provavelmente também reconheciam a necessidade que a comemoração tinha para a imagem do Estado. Tanto adiá-la demais quanto adiantá-la traria consequências pesada para seu governo.

    “Também desejo por uma apresentação musical, para fortalecer a imagem com a plebe, de alguém vindo de berço comum.”
    Nesse momento, as duas expressões percorreram emoções diferentes. Alexius amargou, provavelmente pensando na opinião da nobreza. O comerciante pensava no lucro que poderia fazer, isso era evidente em cada micromúsculo de seu rosto.

    “Isso não será agradável aos nobres.” Descansou a mãos na mesa e continuou. “Pode perder um apoio importante das facções que te apoiam, é algo que precisa ser feito com cuidado.”

    O comerciante desdenhou com um estalar de língua, e gesticulou as mãos enquanto falava.

    “Isso pode ser remediado. Se fizermos uma competição, no entanto, poderemos crescer nossa opinião pública e arrecadar dinheiro para auxiliar a custear a comemoração.”

    Apoiou o rosto com a mão direita, deixando o silêncio pesar por alguns instantes para pensar no que decidiria. O ponto de seu tio era válido, mas se concordasse com o comerciante.. Ganharia mais de sua confiança, e poderia alcançar seu objetivo. Levantou-se, encarando os dois e proferindo sua decisão.

    “Anunciem a competição no dia depois de amanhã, espero seus relatórios sobre orçamentos na minha mesa pela manhã. Durará uma semana, e uma semana após ela será realizado o evento. Os avaliadores serão os nobres, eles não vão se sentir prejudicados se sentirem que ainda estão acima.”

    Os dois abaixaram a cabeça, e então fiz meu caminho até a saída. Com isso resolvido, ainda faltava arrumar a bagunça de ontem e recuperar o que podia, além de refazer os que foram destruídos.

    Suspirou enquanto andava ao seu escritório, se arrependendo com um choro baixinho aproveitando o corredor vazio.

    Atravessou a porta, e querendo deixar escapar um suspiro e tendo seu fôlego roubado pela visão impressionante da sala totalmente organizado, como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Até os papéis encontravam-se apropriadamente empilhados, mesmo que ainda se espiasse duas gotas de sangue na do topo.
    Andou com cuidado pela sala, segurando a folha de cima e passando os olhos para avaliar seu conteúdo.

    Enquanto estava encarando o papel pensativa, sentiu uma criatura se aproximar dela. Nada mais nada menos que a empregada mais cedo, com sobrancelhas pesadas na face. Nenhum osso em seu corpo deixou de sentir o frio que parecia vir com a presença daquela atrás de si.

    “Sério, que bagunça você aprontou viu. Eu arrumei os papéis, tive que dar meu melhor para consertar a mesa.. Sorte que ela não quebrou em lugares difíceis. Mas não recomendo colar peso em cima dela.”

    Colocou novamente a máscara.

    “Agradeço pelos cuidados, minha querida.”

    Ela lançou um olhar irritado, e então revirou os olhos. Caiaphas não se sentia bem deixando documentos importantes naquelas mãos, mas não teria outra opção. Cruzou os braços e jogou seu peso mais para trás. O pequeno sorriso de canto puxado um pouco além do conforto, e um pequeno detalhe em como sua voz saía mais aguda que o natural.

    “Bom trabalho, minha adorável empregada”

    O gesto indecente que demonstrou em seguida veio acompanhado de uma série de sussurros reclamando que Ele sempre me escolher para essas peles toscas, de verdade viu... aquele idiota pega a melhor...

    Distanciou-se lentamente para capturar o máximo que conseguia, mas eventualmente a voz cortou por completo e assumiu que a empregada havia cessado suas reclamações. Muitos tópicos e temas passeavam pela sua cabeça enquanto se encaminhava até a biblioteca.

    As criaturas em seu castelo, o evento de nomeação, o acompanhamento que deveria ser feito da economia... eram todos problemas que ela, com responsável pelo ducado, deveria resolver. Porém, mesmo com os olhos determinados para fazer seu dever, era uma fada jovem. Isso estava óbvio no canto de seus olhos, dançava na linha que desenhava sua boca com um ar de paixão, de força, coragem e energia.

    E as noites mal dormidas, as preocupações em seus ombros, o peso que carregava nas costas endureciam-na cada vez mais.

    Quando chegou a seu destino, não se incomodou em se apresentar para a fada atrás no balcão. Pegou a caneta que descansava em cima da superfície e anotou três dos nomes que seu tio havia lhe recomendado anteriormente. Então levantou seu olhar, calmo porém levemente amargo com a falta de sono começando a cobrar seu preço.

    “Entregue estes livros para mim em meus aposentos, hoje.”

    A fada assentiu, recolhendo o papel e andando em direção á estante, na seção de história. Caiaphas deu meia volta, notando o agora alto no céu e radiante sol.

    Sentiu o estômago reclamar com a falta de comida, e se encaminhou para o salão.

    Não havia comido direito ontem, e nem hoje de manhã, mas a adrenalina estava amenizando essa necessidade até agora. No presente momento, no entanto, faria qualquer coisa por um pedaço de carne.

    Chegando ao salão, não havia nenhuma mesa posta. Já esperava isso, no entanto, graças ao seu hábito de não comer lá. Era solitário, a fazia lembrar-se de um tempo onde sentava naquela mesa cheia e hoje... Sua prima e meio irmão se afastaram para seguir seus caminhos, o tio raramente saía de seu trabalho para comer apropriadamente.

    Não que pudesse julgar, com o hábito sem parecido que havia desenvolvido recentemente.

    E os pais e a irmã... lembrá-los fazia sua visão embaçar levemente e sua cabeça doer. As risadas que não mais faziam parte de seu dia, as vozes que não chegavam mais em seus ouvidos e nunca mais iriam fazê-la vibrar de emoção alguma.

    Trouxeram a comida, e Caiaphas deixou-se ser distraída desses pensamentos pela comida que cheirava tão bem. Ajustou-se na cadeira e sentiu a boca salivar com a vista de uma refeição bem preparada.

    Encheu o prato e comeu na forma educada qual foi ensinada, mesmo que sua vontade fosse devorar o prato de uma vez só. Enquanto cavaleira, provavelmente faria isso; como duquesa? Não podia cometer esse tipo de erro quando deveria representar tanta coisa para seu povo.

    Quando terminou e começou a andar em direção seus aposentos, sentia seu corpo mais forte mesmo que mais pesado. A distância, no entanto, não a agradou nem um pouco com os músculos ainda doloridos e o corpo pesado a atrasando. Na frente de seus aposentos, achou uma pequena pilha de livros deixada no chão. Reconheceu os títulos, e se abaixou levemente para pegá-los sem doer suas costelas. Ainda doeu, estremecendo quando subiu de novo com o peso nos braços.

    Assim que entrou, foi diretamente em seu objetivo. Um detalhe pequeno de um pássaro na esquerda da lareira, que sob olhar minucioso poderia ser reparado estar assimétrico com seu par e contrariando toda a arte. Os dois pequenos pássaros apontavam para o leste, com os bicos abertos como se fossem começar a cantar a qualquer instante.

    Puxou o pássaro da direita ao leste, ressoando um clique pelo cômodo e tornando uma parte da parede antes nivelada mais afundada.
    O túnel começava embaixo do quadro de uma mulher muito bonita, com o mesmo olhar amendoado presente em na duquesa atual e um vestido sofisticado. Empurrando, uma pequena câmara se apresentava escura e úmida.

    Era toda feita de pedra, grande contraste com a maior parte do castelo de madeira. Era toda adornada de estantes altas, que iam até o teto abarrotadas de livros em sua maioria empoeirados. Uma coleção pessoal da família, mesmo que Caiaphas não conseguisse ler todas as língua presentes nas escrituras. No centro, uma estátua de uma bela fada que estendia os braços para baixo, como se oferecesse perdão e misericórdia com seu olhar calmo e sorriso gentil. Pelo menos, essa era a visão que a jovem fada tinha desde sua infância.

    Em uma das paredes, iluminada por pedras luminosas, as estantes tinha um intervalo preenchido por uma mesa de madeira muito escura. Em cima, vários livros estavam amontoados e alguns abertos, marcados e anotações penduradas pela região.

    Continuou seus passos até a escrivaninha, empilhando mais livros na torre que já quase a alcançava e puxando a cadeira macia. Começou seu trabalho.

    Aspectos históricos sobre como seu família recebeu seu título, centenas de anos atrás. A história por trás de seu brasão, desde os tempos antigos até atuais. Isso foi só o começo, a visão geral e menos detalhada. Durou apenas umas duas horas para aprender toda a história de modo simplista.

    Nomeados após a ajuda crucial oferecida á coroa, com um grande escândalo já com os primeiros herdeiros após o assassinato do herdeiro primogênito e governado com punhos de ferro durante anos antes de morrer em batalha e sua primeira esposa assumir, qual não tinha sua força para manter aquele estado e foi derrubada por um dos filhos bastardos do falecido duque.

    Esse filho bastardo acabou fazendo florescer e crescer o ducado, mas continuou sendo cuspido por toda a linhagem Moureau. Seu filho nunca chegou á assumir o título. Olhando seu retrato no livro de história que tinha sido escondido ali, como algo sujo para apodrecer, pensou em como nunca tinha visto um sequer quadro ou estatueta daquela pessoa pelo castelo.

    Aquele era o tio de seu avô, Kylan S. Moureau, mesmo que só tenha recebido tal sobrenome após sua nomeação.

    Caiaphas achava injusto já que ele tinha feito um trabalho muito melhor que o próprio avô, pra ser sincera. Não havia nenhuma informação sobre seus descendentes em nenhum lugar das estantes.

    Despejava sua atenção nas páginas, desde o governo do seu avô até o de sua irmã. Governou por pouco tempo comparado ao anterior, mas a irmã fez um ótimo trabalho recuperando o vilarejo das diversas crises que enfrentou em consequência de decisões estúpidas de seu pai.

    Livros iam e voltavam em sua visão, os olhos atentos capturando as palavras e tentando manter o máximo possível em sua cabeça. Assim que uma frase era absorvida, outra era lida e sua memória tentava catalogar todas da melhor forma que podia.

    Percebeu que estava tarde quando começou a ter necessidade de reler várias e várias vezes os mesmo parágrafos, sua atenção começando a oscilar assim com seu estado de acordada ou não. Não persistiu por muito tempo antes de fechar os livros e carregar aqueles que não nativos dali para fora.

    Depositou-os em uma mesinha qualquer, e os livros pesados fizeram um barulho desconfortável para os ouvidos quando entraram em contato com a madeira. Bocejou enquanto arrastava os pés até a cama, deitando-se para aproveitar o sono de resto de noite que teria com a lua brilhando no céu estrelado.

    Provavelmente pelo cansaço, não teve nenhum sono aquela noite. Nem ao menos pareceu ter passado um segundo quando acordou ao barulho de leves batidas na porta e então uma voz conhecida.

    O comerciante não esperou sua aprovação para abrir seu caminho até o quarto. Carregava papéis em baixo do braço e a expressão hedionda comum. A cacheada mal conseguiu montar sua fachada, mas felizmente ele parecia mais preocupado em analisar os detalhes do quarto.

    “Quem você pensa que é para atrapalhar minha preguiça?”

    “Realmente, curtindo preguiça? Ser duquesa deve ser muito legal.”

    Ele deu uma volta pelo quarto, jogando de qualquer jeito os documentos ao lado dos livros e pulando até a varanda quase como uma garotinha. De uma volta em si mesmo quando apareceu no quarto novamente, respirando bem fundo antes de falar.

    “Eu quero isso. A gente precisa trocar qualquer dia desses, eu juro que faço qualquer coisa que você pedir.”

    “Hum, talvez se você encostar sua cabeça no chão e me implorar.”

    O sorriso escureceu, e o perigo que se escondia no canto daqueles lábios escapou para os olhos.

    “Oh, alguém está ficando cada vez mais confiante, não?”

    Sentiu um impulso por tocar a marca azulada nas costelas, e segurar a mão quase a fez estremecer. O calafrio típico que desceu sua coluna se fez presente mais uma vez, secando sua boca e a fazendo resistir travar os ombros.

    “Se eu não tivesse porque, eu não seria, concorda?”

    O sorriso se afinou nos lábios do comerciante, e ele apenas fechou os olhos e levantou os ombros em um ato que seria identificado como desistência, mas o rosto dizia o contrário. Os olhos ardilosos muito brilhantes, mas de uma forma errada e distorcida.

    “Até mais ver, duquesa.”

    Desfilou para fora de seus aposentos, e a duquesa se sentiu seu escritório na noite passada.

    Como se uma tempestade tivesse passado.

    Finalmente conseguiu respirar aliviada, sentindo um pouco menos de dor na região torácica comparado a ontem. Ainda penava para se virar, abaixar e movimentos bruscos, no entanto. No mais, seu corpo no geral estava mais flexível e menos azul comparado ao dia anterior.

    Girou o pescoço, sentindo estalar e um pouco de sua tensão se esvair. Respirou fundo, e colocou o pé no chão.

    Trocou suas vestimentas, preferindo uma calça hoje. A camisa era do mesmo tecido leve, mas agora de um tom terroso profundo complementado pelo negro das calças. Pouquíssimos detalhes, nenhum adorno: Sua espada era a única coisa que a revelava duquesa.
    Caminhou até os papéis que foram atirados em sua mesa, os recolhendo e organizando apropriadamente e os guardando em baixo do braço.

    Caminhou até a cozinha, ainda dolorida pelos ferimentos, mas não tão horroroso quando antes. Já estava no fim da manhã, e sentia culpa por não ter acordado cedo. Sério, o que seria se um ducado onde a duquesa acordava essas horas?

    Continuou seu caminho, com a postura correta de sempre. Ao chegar, tomou para si uma fruta e algo para comer enquanto andava em direção ao escritório do Mestre da Moeda.

    Mordiscava o pedaço de pão - muito saboroso – enquanto percorria os corredores do castelo. A mente perdida em números, orçamentos e nos livros mal se mantinha consciente de seus arredores, se martirizando por milhares de situações.

    Chegando, bateu duas vezes antes de abrir a porta. Achou uma bagunça que rivaliza seu escritório, papéis espalhados por vários cantos e mapas pendurados na parede. O dono do escritório estava debruçado atrás de uma pilha de livros, mas não emitia nenhum som de reconhecimento de sua presença.

    Deu alguns tapinhas na capa de um livro azul, levantando a cabeça grisalha e o fazendo ajustar os óculos de descanso.

    “Vossa Alteza, não era necessário vir até aqui. Eu estava planejando deixar o orçamento eu mesmo, mais tarde.”

    “Eu já estava andando até o meu mesmo,” Deu de ombros, achando os papéis que procurava no canto esquerdo da mesa. Estendeu a mão e alcançou-os, juntando com os que já carregava. “Não se preocupe com isso, e apenas se concentre em sua tarefa.”

    Ele emudeceu ao ser lembrado que tinha trabalhos importantes á se fazer, mesmo que o papel junto ao do orçamento fosse exatamente a lista de funcionário que havia pedido. Tencionou a sobrancelha com o peso que do perigo que enfrentava, mas sua maior força estava na ponta da pena e continuou sua batalha linha por linha.

    A duquesa deu meia-volta.

    Com os papéis embaixo do braço, foi até a ala médica e procurou pela sala de sua curandeira, achando-a na maior entre elas. A fada mais velha sentava e encarava documentos em cima da mesa, com algumas ervas e líquidos presos em frascos espalhados pela superfície.

    Assim que ouviu o barulho da porta, virou o rosto e desceu as sobrancelhas ao vê-la.

    “Vossa Alteza, acredito que tenha expressamente dito para vir á mim de manhã?”

    Sorriu desconcertada, mas não é como se pudesse explicar que algumas outras coisas precisavam ser resolvidas antes.

    “Desculpe, algumas assuntos precisaram da minha atenção.”

    A curandeira semicerrou os olhos e suspirou com a esquiva verbal, mas tinha experiência suficiente para saber quando parar de perguntar uma duquesa sobre sua rotina. Olhando pelos seus olhos, era emocionante ver a criança que segurou nos braços se tornar uma mulher tão importante.

    Afastou esses pensamentos, e recolheu os medicamentos que precisariam ser consumidos por Caiaphas.

    “Tome esse ao acordar e antes de dormir. Não se esqueça dos exercícios, e volte aqui a cada três dias para trocar as faixas e analisar o processo das costelas.”

    A cacheada mais nova apenas assentiu com olhar firme, disposta a tentar não se atrasar nas próximas vezes. Deu meia volta e voltou ao quarto com tudo que havia apanhado durante o dia. Encarou a varanda e a porta apreensiva, antes de girar o pequeno pássaro novamente e voltar ao seu canto.

    Primeiro, tentou ao máximo relembrar os rostos que viu na noite horrível que viveu e reviveu sob pálpebras fechadas tantas vezes. Alguns vieram rápido, outros demoraram, e alguns não conseguiu conectar á nenhum rosto específico. Quando chegou ao final da folha, guardou-a entre as páginas de um livro de capa verde.

    Continuou seus estudos, mergulhando nos livros novamente.

    Nadou entre linhas e palavras durante horas, pulando entre números e fatos históricos. Patinava entre contas e efetuações matemáticas, anotando números e nomes.

    Quando finalmente saiu e deitou na cama, o sol já havia caído atrás do horizonte há muito tempo.

    A rotina logo consumiu seus dias, lidando com a competição indiretamente e com o orçamento para todas as despesas para a comemoração sendo o centro da maioria de suas ações. Por fora, estudava pela rotina que seu tio havia passado, além de frequentar a ala medicinal e praticar os exercícios recomendados.

    Enfim, um bocado de dias ocupados das manhãs até as noites.

    Um dia, enquanto o rosado da tarde coloria o céu, recebeu uma visita inesperada de seu tio. Apenas um olhar, e Caiaphas já entendeu o que as sombras naqueles olhos queriam dizer.


    .


    Palavras totais 12563 - Palavras aqui - 3172
    (c)
    Caiaphas S. Moureau
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    Tramas : https://samaria.forumeiros.com
    Caiaphas S. Moureau
    Civil
    "DIY Insana" There's Blood On Your Lies (+18) 100x100
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    There's Blood On My Hands
    As salas de reuniões do castelo eram nomeadas pelo tipo de madeira qual eram feitas, seguindo um ordem crescente de tamanhos. A sala qual se dirigia no momento, Nogueira, era pequena e compacta com apenas quatro cadeiras e a da ponta, maior e mais detalhada como de costume. De tonalidade avermelhada, seguia aspectos detalhistas feitos por mãos exímias.

    Entrou, e os outros dois já estavam presentes ao contrário de sua expectativa. A outra face que reconheceu da outra noite, bem ali em sua frente com a aparência de um nobre renomado, mas algo muito errado no jeito que suas pupilas não pareciam naturais se as encarasse de certos ângulos.

    Ignorou o calafrio que desceu em sua espinha enquanto desfilava até seu lugar na mesa. Puxou a cadeira e se fez confortável nela, diferente do normal para não forçar seu lado dolorido, mas ainda sim suas costelas reclamavam.

    “Começaremos agora a reunião referente á comemoração de nomeação da duquesa.” Pausou, deixando a informação de a sua decisão ser absorvida antes de continuar. “Será decidido no dia de hoje a data e a atração musical que será apresentada durante o evento. Mestre da Moeda apresente seus argumentos.”

    “Devido ás dificuldades qual o ducado enfrenta no presente momento, é favorável que tal evento seja marcado para no mínimo duas semanas daqui.”

    “Concordo com o Mestre da Moeda que há de se recuperar mais a economia antes de hospedar algo do gênero.”

    Acenei com a cabeça, pronta para passar para o próximo assunto. Ambos estavam calmos, provavelmente também reconheciam a necessidade que a comemoração tinha para a imagem do Estado. Tanto adiá-la demais quanto adiantá-la traria consequências pesada para seu governo.

    “Também desejo por uma apresentação musical, para fortalecer a imagem com a plebe, de alguém vindo de berço comum.”

    Nesse momento, as duas expressões percorreram emoções diferentes. Alexius amargou, provavelmente pensando na opinião da nobreza. O comerciante pensava no lucro que poderia fazer, isso era evidente em cada micro músculo de seu rosto.

    “Isso não será agradável aos nobres.” Descansou a mãos na mesa e continuou. “Pode perder um apoio importante das facções que te apoiam, é algo que precisa ser feito com cuidado.”

    O nobre desdenhou com um estalar de língua, e gesticulou as mãos enquanto falava.

    “Isso pode ser remediado. Se fizermos uma competição, no entanto, poderemos crescer nossa opinião pública e arrecadar dinheiro para auxiliar a custear a comemoração.”

    Apoiou o rosto com a mão direita, deixando o silêncio pesar por alguns instantes para pensar no que decidiria. O ponto de seu tio era válido, mas se concordasse com o nobre... Ganharia mais de sua confiança, e poderia alcançar seu objetivo. Levantou-se, encarando os dois e proferindo sua decisão.

    “Anunciem a competição no dia depois de amanhã, espero seus relatórios sobre orçamentos na minha mesa pela manhã. Durará uma semana, e uma semana após ela será realizado o evento. Os avaliadores serão os nobres, eles não vão se sentir prejudicados se sentirem que ainda estão acima.”

    Os dois abaixaram a cabeça, e então fiz meu caminho até a saída. Com isso resolvido, ainda faltava arrumar a bagunça de ontem e recuperar o que podia, além de refazer os que foram destruídos.

    Suspirou enquanto andava ao seu escritório, se arrependendo com um choro baixinho aproveitando o corredor vazio.

    Atravessou a porta, e querendo deixar escapar um suspiro e tendo seu fôlego roubado pela visão impressionante da sala totalmente organizado, como se nada tivesse acontecido na noite anterior. Até os papéis encontravam-se apropriadamente empilhados, mesmo que ainda se espiasse duas gotas de sangue na do topo.
    Andou com cuidado pela sala, segurando a folha de cima e passando os olhos para avaliar seu conteúdo.

    Enquanto estava encarando o papel pensativa, sentiu uma criatura se aproximar dela. Nada mais nada menos que a empregada mais cedo, com sobrancelhas pesadas na face. Nenhum osso em seu corpo deixou de sentir o frio que parecia vir com a presença daquela atrás de si.

    “Sério, que bagunça você aprontou viu. Eu arrumei os papéis, tive que dar meu melhor para consertar a mesa.. Sorte que ela não quebrou em lugares difíceis. Mas não recomendo colar peso em cima dela.”

    Colocou novamente a máscara.

    “Agradeço pelos cuidados, minha querida.”

    Ela lançou um olhar irritado, e então revirou os olhos. Caiaphas não se sentia bem deixando documentos importantes naquelas mãos, mas não teria outra opção. Cruzou os braços e jogou seu peso mais para trás. O pequeno sorriso de canto puxado um pouco além do conforto, e um pequeno detalhe em como sua voz saía mais aguda que o natural.

    “Bom trabalho, minha adorável empregada”

    O gesto indecente que demonstrou em seguida veio acompanhado de uma série de sussurros reclamando que Ele sempre me escolher para essas peles toscas, de verdade viu... aquele idiota pega a melhor...

    Distanciou-se lentamente para capturar o máximo que conseguia, mas eventualmente a voz cortou por completo e assumiu que a empregada havia cessado suas reclamações. Muitos tópicos e temas passeavam pela sua cabeça enquanto se encaminhava até a biblioteca.

    As criaturas em seu castelo, o evento de nomeação, o acompanhamento que deveria ser feito da economia... eram todos problemas que ela, com responsável pelo ducado, deveria resolver. Porém, mesmo com os olhos determinados para fazer seu dever, era uma fada jovem. Isso estava óbvio no canto de seus olhos, dançava na linha que desenhava sua boca com um ar de paixão, de força, coragem e energia.

    E as noites mal dormidas, as preocupações em seus ombros, o peso que carregava nas costas endureciam-na cada vez mais.

    Quando chegou a seu destino, não se incomodou em se apresentar para a fada atrás no balcão. Pegou a caneta que descansava em cima da superfície e anotou três dos nomes que seu tio havia lhe recomendado anteriormente. Então levantou seu olhar, calmo porém levemente amargo com a falta de sono começando a cobrar seu preço.

    “Entregue estes livros para mim em meus aposentos, hoje.”

    A fada assentiu, recolhendo o papel e andando em direção á estante, na seção de história. Caiaphas deu meia volta, notando o agora alto no céu e radiante sol.

    Sentiu o estômago reclamar com a falta de comida, e se encaminhou para o salão.

    Não havia comido direito ontem, e nem hoje de manhã, mas a adrenalina estava amenizando essa necessidade até agora. No presente momento, no entanto, faria qualquer coisa por um pedaço de carne.

    Chegando ao salão, não havia nenhuma mesa posta. Já esperava isso, no entanto, graças ao seu hábito de não comer lá. Era solitário, a fazia lembrar-se de um tempo onde sentava naquela mesa cheia e hoje... Sua prima e meio irmão se afastaram para seguir seus caminhos, o tio raramente saía de seu trabalho para comer apropriadamente.

    Não que pudesse julgar, com o hábito sem parecido que havia desenvolvido recentemente.

    E os pais e a irmã... lembrá-los fazia sua visão embaçar levemente e sua cabeça doer. As risadas que não mais faziam parte de seu dia, as vozes que não chegavam mais em seus ouvidos e nunca mais iriam fazê-la vibrar de emoção alguma.

    Trouxeram a comida, e Caiaphas deixou-se ser distraída desses pensamentos pela comida que cheirava tão bem. Ajustou-se na cadeira e sentiu a boca salivar com a vista de uma refeição bem preparada.

    Encheu o prato e comeu na forma educada qual foi ensinada, mesmo que sua vontade fosse devorar o prato de uma vez só. Enquanto cavaleira, provavelmente faria isso; como duquesa?  Não podia cometer esse tipo de erro quando deveria representar tanta coisa para seu povo.

    Quando terminou e começou a andar em direção seus aposentos, sentia seu corpo mais forte mesmo que mais pesado. A distância, no entanto, não a agradou nem um pouco com os músculos ainda doloridos e o corpo pesado a atrasando. Na frente de seus aposentos, achou uma pequena pilha de livros deixada no chão. Reconheceu os títulos, e se abaixou levemente para pegá-los sem doer suas costelas. Ainda doeu, estremecendo quando subiu de novo com o peso nos braços.

    Assim que entrou, foi diretamente em seu objetivo. Um detalhe pequeno de um pássaro na esquerda da lareira, que sob olhar minucioso poderia ser reparado estar assimétrico com seu par e contrariando toda a arte. Os dois pequenos pássaros apontavam para o leste, com os bicos abertos como se fossem começar a cantar a qualquer instante.

    Puxou o pássaro da direita ao leste, ressoando um clique pelo cômodo e tornando uma parte da parede antes nivelada mais afundada.
    O túnel começava embaixo do quadro de uma mulher muito bonita, com o mesmo olhar amendoado presente em na duquesa atual e um vestido sofisticado. Empurrando, uma pequena câmara se apresentava escura e úmida.

    Era toda feita de pedra, grande contraste com a maior parte do castelo de madeira. Era toda adornada de estantes altas, que iam até o teto abarrotadas de livros em sua maioria empoeirados. Uma coleção pessoal da família, mesmo que Caiaphas não conseguisse ler todas as língua presentes nas escrituras. No centro, uma estátua de uma bela fada que estendia os braços para baixo, como se oferecesse perdão e misericórdia com seu olhar calmo e sorriso gentil. Pelo menos, essa era a visão que a jovem fada tinha desde sua infância.

    Em uma das paredes, iluminada por pedras luminosas, as estantes tinha um intervalo preenchido por uma mesa de madeira muito escura. Em cima, vários livros estavam amontoados e alguns abertos, marcados e anotações penduradas pela região.

    Continuou seus passos até a escrivaninha, empilhando mais livros na torre que já quase a alcançava e puxando a cadeira macia. Começou seu trabalho.

    Aspectos históricos sobre como seu família recebeu seu título, centenas de anos atrás. A história por trás de seu brasão, desde os tempos antigos até atuais. Isso foi só o começo, a visão geral e menos detalhada. Durou apenas umas duas horas para aprender toda a história de modo simplista.

    Nomeados após a ajuda crucial oferecida á coroa, com um grande escândalo já com os primeiros herdeiros após o assassinato do herdeiro primogênito e governado com punhos de ferro durante anos antes de morrer em batalha e sua primeira esposa assumir, qual não tinha sua força para manter aquele estado e foi derrubada por um dos filhos bastardos do falecido duque.

    Esse filho bastardo acabou fazendo florescer e crescer o ducado, mas continuou sendo cuspido por toda a linhagem Moureau. Seu filho nunca chegou á assumir o título. Olhando seu retrato no livro de história que tinha sido escondido ali, como algo sujo para apodrecer, pensou em como nunca tinha visto um sequer quadro ou estatueta daquela pessoa pelo castelo.

    Aquele era o tio de seu avô, Kylan S. Moureau, mesmo que só tenha recebido tal sobrenome após sua nomeação.

    Caiaphas achava injusto já que ele tinha feito um trabalho muito melhor que o próprio avô, pra ser sincera. Não havia nenhuma informação sobre seus descendentes em nenhum lugar das estantes.

    Despejava sua atenção nas páginas, desde o governo do seu avô até o de sua irmã. Governou por pouco tempo comparado ao anterior,  mas a irmã fez um ótimo trabalho recuperando o vilarejo das diversas crises que enfrentou em consequência de decisões estúpidas de seu pai.

    Livros iam e voltavam em sua visão, os olhos atentos capturando as palavras e tentando manter o máximo possível em sua cabeça. Assim que uma frase era absorvida, outra era lida e sua memória tentava catalogar todas da melhor forma que podia.

    Percebeu que estava tarde quando começou a ter necessidade de reler várias e várias vezes os mesmo parágrafos, sua atenção começando a oscilar assim com seu estado de acordada ou não. Não persistiu por muito tempo antes de fechar os livros e carregar aqueles que não nativos dali para fora.

    Depositou-os em uma mesinha qualquer, e os livros pesados fizeram um barulho desconfortável para os ouvidos quando entraram em contato com a madeira. Bocejou enquanto arrastava os pés até a cama, deitando-se para aproveitar o sono de resto de noite que teria com a lua brilhando no céu estrelado.

    Provavelmente pelo cansaço, não teve nenhum sono aquela noite. Nem ao menos pareceu ter passado um segundo quando acordou ao barulho de leves batidas na porta e então uma voz conhecida.

    O comerciante não esperou sua aprovação para abrir seu caminho até o quarto. Carregava papéis em baixo do braço e a expressão hedionda comum. A cacheada mal conseguiu montar sua fachada, mas felizmente ele parecia mais preocupado em analisar os detalhes do quarto.

    “Quem você pensa que é para atrapalhar minha preguiça?”

    “Realmente, curtindo preguiça? Ser duquesa deve ser muito legal.”

    Ele deu uma volta pelo quarto, jogando de qualquer jeito os documentos ao lado dos livros e pulando até a varanda quase como uma garotinha. De uma volta em si mesmo quando apareceu no quarto novamente, respirando bem fundo antes de falar.

    “Eu quero isso. A gente precisa trocar qualquer dia desses, eu juro que faço qualquer coisa que você pedir.”

    “Hum, talvez se você encostar sua cabeça no chão e me implorar.”

    O sorriso escureceu, e o perigo que se escondia no canto daqueles lábios escapou para os olhos.

    “Oh, alguém está ficando cada vez mais confiante, não?”

    Sentiu um impulso por tocar a marca azulada nas costelas, e segurar a mão quase a fez estremecer. O calafrio típico que desceu sua coluna se fez presente mais uma vez, secando sua boca e a fazendo resistir travar os ombros.

    “Se eu não tivesse porque, eu não seria, concorda?”

    O sorriso se afinou nos lábios do comerciante, e ele apenas fechou os olhos e levantou os ombros em um ato que seria identificado como desistência, mas o rosto dizia o contrário. Os olhos ardilosos muito brilhantes, mas de uma forma errada e distorcida.

    “Até mais ver, duquesa.”

    Desfilou para fora de seus aposentos, e a duquesa se sentiu seu escritório na noite passada.

    Como se uma tempestade tivesse passado.

    Finalmente conseguiu respirar aliviada, sentindo um pouco menos de dor na região torácica comparado a ontem.  Ainda penava para se virar, abaixar e movimentos bruscos, no entanto. No mais, seu corpo no geral estava mais flexível e menos azul comparado ao dia anterior.

    Girou o pescoço, sentindo estalar e um pouco de sua tensão se esvair. Respirou fundo, e colocou o pé no chão.

    Trocou suas vestimentas, preferindo uma calça hoje. A camisa era do mesmo tecido leve, mas agora de um tom terroso profundo complementado pelo negro das calças. Pouquíssimos detalhes, nenhum adorno: Sua espada era a única coisa que a revelava duquesa.
    Caminhou até os papéis que foram atirados em sua mesa, os recolhendo e organizando apropriadamente e os guardando em baixo do braço.

    Caminhou até a cozinha, ainda dolorida pelos ferimentos, mas não tão horroroso quando antes. Já estava no fim da manhã, e sentia culpa por não ter acordado cedo. Sério, o que seria se um ducado onde a duquesa acordava essas horas?

    Continuou seu caminho, com a postura correta de sempre. Ao chegar, tomou para si uma fruta e algo para comer enquanto andava em direção ao escritório do Mestre da Moeda.

    Mordiscava o pedaço de pão - muito saboroso – enquanto percorria os corredores do castelo. A mente perdida em números, orçamentos e nos livros mal se mantinha consciente de seus arredores, se martirizando por milhares de situações.

    Chegando, bateu duas vezes antes de abrir a porta. Achou uma bagunça que rivaliza seu escritório, papéis espalhados por vários cantos e mapas pendurados na parede. O dono do escritório estava debruçado atrás de uma pilha de livros, mas não emitia nenhum som de reconhecimento de sua presença.

    Deu alguns tapinhas na capa de um livro azul, levantando a cabeça grisalha e o fazendo ajustar os óculos de descanso.

    “Vossa Alteza, não era necessário vir até aqui. Eu estava planejando deixar o orçamento eu mesmo, mais tarde.”

    “Eu já estava andando até o meu mesmo,” Deu de ombros, achando os papéis que procurava no canto esquerdo da mesa. Estendeu a mão e alcançou-os, juntando com os que já carregava. “Não se preocupe com isso, e apenas se concentre em sua tarefa.”

    Ele emudeceu ao ser lembrado que tinha trabalhos importantes á se fazer, mesmo que o papel junto ao do orçamento fosse exatamente a lista de funcionário que havia pedido. Tencionou a sobrancelha com o peso que do perigo que enfrentava, mas sua maior força estava na ponta da pena e continuou sua batalha linha por linha.

    A duquesa deu meia-volta.

    Com os papéis embaixo do braço, foi até a ala médica e procurou pela sala de sua curandeira, achando-a na maior entre elas. A fada mais velha sentava e encarava documentos em cima da mesa, com algumas ervas e líquidos presos em frascos espalhados pela superfície.

    Assim que ouviu o barulho da porta, virou o rosto e desceu as sobrancelhas ao vê-la.

    “Vossa Alteza, acredito que tenha expressamente dito para vir á mim de manhã?”

    Sorriu desconcertada, mas não é como se pudesse explicar que algumas outras coisas precisavam ser resolvidas antes.

    “Desculpe, algumas assuntos precisaram da minha atenção.”

    A curandeira semicerrou os olhos e suspirou com a esquiva verbal, mas tinha experiência suficiente para saber quando parar de perguntar uma duquesa sobre sua rotina. Olhando pelos seus olhos, era emocionante ver a criança que segurou nos braços se tornar uma mulher tão importante.

    Afastou esses pensamentos, e recolheu os medicamentos que precisariam ser consumidos por Caiaphas.

    “Tome esse ao acordar e antes de dormir. Não se esqueça dos exercícios, e volte aqui a cada três dias para trocar as faixas e analisar o processo das costelas.”

    A cacheada mais nova apenas assentiu com olhar firme, disposta a tentar não se atrasar nas próximas vezes. Deu meia volta e voltou ao quarto com tudo que havia apanhado durante o dia. Encarou a varanda e a porta apreensiva, antes de girar o pequeno pássaro novamente e voltar ao seu canto.

    Primeiro, tentou ao máximo relembrar os rostos que viu na noite horrível que viveu e reviveu  sob pálpebras fechadas tantas vezes. Alguns vieram rápido, outros demoraram, e alguns não conseguiu conectar á nenhum rosto específico. Quando chegou ao final da folha, guardou-a entre as páginas de um livro de capa verde.

    Continuou seus estudos, mergulhando nos livros novamente.

    Nadou entre linhas e palavras durante horas, pulando entre números e fatos históricos. Patinava entre contas e efetuações matemáticas, anotando números e nomes.

    Quando finalmente saiu e deitou na cama, o sol já havia caído atrás do horizonte há muito tempo.

    A rotina logo consumiu seus dias, lidando com a competição indiretamente e com o orçamento para todas as despesas para a comemoração sendo o centro da maioria de suas ações. Por fora, estudava pela rotina que seu tio havia passado, além de frequentar a ala medicinal e praticar os exercícios recomendados.

    Enfim, um bocado de dias ocupados das manhãs até as noites.

    Um dia, enquanto o rosado da tarde coloria o céu, recebeu uma visita inesperada de seu tio. Apenas um olhar, e Caiaphas já entendeu o que as sombras naqueles olhos queriam dizer.

    Levantou de seus livros firme, e marchou atrás do tio que segurava a tocha até o subterrâneo do castelo. Corredores e corredores que transformavam madeira em pedra, e perdiam calor gradativamente quanto mais fundo desciam escadas.

    Quando chegou nas masmorras, ainda andou mais um pouco até salas menores, um longo corredor com celas dos dois lados. Andando até o final, celas fechadas começavam, até que pararam em uma delas.

    Encaixando a tocha no suporte, a iluminação era pouca na sala escura. No meio da sala, amarrado na cadeira estava um clone dela encarando a porta com um sorriso cínico. O olhar de Caiaphas nunca olhou tão friamente para outro ser vivo, com várias imagens se repetindo em sua cabeça de seu povo sofrendo e se rebatendo em fogo.

    “Ora, ora... a Duquesa Vagabunda aparece novamente. O que achou dos nossos queridos convidados na floresta?”

    Alexius tomou a frente antes que ele dissesse mais, com a cacheada cruzando os braços e apenas assistindo por enquanto. Mais que isso, e não conseguiria segurar as mãos que pediam morte.

    “Aprenda seu lugar, criatura nojenta. Responda a pergunta obedientemente, e talvez viva para ver o céu novamente.”

    “Olha, o velho tem coragem. Que reviravolta. Por que vocês não enfiam as perguntas de vocês no cu?”

    O mestre de moedas fumegou, caminhando mais perto para tentar intimidar pelo tamanho. Mas seu tio não era muito intimidante, então o resultado foi uma gargalhada aberta e alta. O quarto úmido ecoou o som, o fazendo parecer ainda mais zombeteiro.

    “Escuta aqui-”

    Começou bracejando o grisalho, mas foi bruscamente interrompido por uma voz mais alta.

    “Escuta aqui você! Os inferiores são vocês, coisinhas inferiores que se acham melhor que todo mundo! Adivinha só, a gente tá aqui e a gente vai substituir TODO MUNDO!”

    Enquanto falava, cuspindo e se exaltando sobre o mais velho Moureau, nem ao menos reparou a duquesa se movia e andava com calma até ele. Desembainhou a espada, usando todo o peso da espada grande para descê-la na mão direita e cravá-la bem no meio. Ele imediatamente parou de falar, gritando de dor. Caiaphas torceu a espada nas costas da mão do individuo.

    “Abre os ouvidos e me ouve, porque eu só vou explicar uma vez como isso aqui vai funcionar. Você vai falar tudo que eu preciso saber, se você não quiser sentir muito dor. Apenas fique ciente, que para mim, essa não é uma escolha minimamente agradável; sinta-se livre para seguir o caminho difícil.”

    Desencravou a espada, deixando o sangue escorrer pela cadeira até pingar no chão. Os olhos esbugalhados da criatura decoravam a face aterrorizada e boca trêmula. O olhar cruel que o encarava de cima apenas conseguia lembrar-se das pilhas de restos mortais, o cheiro horrível de carne queimada e pessoas quebradas.

    “Agora, comecemos. Quem é seu líder?”

    Mesmo aterrorizado, ainda não havia dobrado e continuava com a boca calada. O tio já havia se distanciado, e a duquesa inclinou a cabeça levemente pensando no que deveria fazer. Um crepitar da tocha a fez lembrar-se das cinzas, e teve uma ideia que julgou adequada.

    Levantou a espada e colocou acima da tocha, esquentando a lâmina.

    “Sabe, uma das meninas que eu vi naquele lugar se chamava Jane. Ela é a filha da cozinheira chefe, e eu vivia escapando para brincar com ela quando era criança.”

    Girou a espada, sem olhar para a cadeira, deixando o monstro encarar suas costas.

    “Ela era muito energética, sempre correndo para lá e pra cá. Nunca deixa que a mãe fizesse as coisas sozinha, sempre ajudando em tudo que podia.”

    Viu de relance o tio desviar o olhar. Realizou que a expressão em seu rosto, no momento, provavelmente não era agradável.

    “Ela cuidava de passarinhos que caíam machucados no quintal, e sorria como se fosse suas asas que estivessem curadas toda vez que eles saíam voando de suas mãos.”

    Apertou o cabo da espada, esperando para ter certeza que a espada estava esquentando. O ferro comum apena tremulava levemente com as ondas de calor.

    “Antes de sair, eu perguntei se ela desejava sair comigo. Conhecer o mundo, provar comidas e ver cenários desconhecidos.”

    Tirava seu tempo para falar pausadamente, até que se deu por satisfeita e retirou a espada do fogo. O ferro não estava tão quente quanto desejava, mas sabia que isso era o máximo que alcançaria em uma tocha comum.

    “Ela me disse que nenhum sonho seria maior que a necessidade da presença dela aqui, ajudando sua mãe. Que não conseguiria ser feliz deixando a mãe para trás dessa maneira.”

    Rodou a mão, andando calmamente até a cadeira.

    “ Também havia Canaria, Jason, Camilo, Fred... Pessoas incríveis, atitudes incríveis.”

    Só então desceu o olhar, tão escuro que mal era reconhecível. Pisou com o pé esquerdo no meio das pernas do outro, enterrando a espada no ombro esquerdo e ouvindo os gritos de dor.

    “Vou fazer vocês pagarem por cada uma das minhas vidas que vocês tiraram. Pode começar a falar.”

    Com cada recusa, fincava a espada pronunciando um nome diferente para si mesma. Qual a base? Qual o plano? Quantos são os números? Quem é o líder? O tio saiu da sala, mas continuava na porta.

    O cheiro de sangue e carne queimada era pungente na sala, e Caiaphas não tinha prazer nenhum nem nele nem no som que a pele fazia enquanto queimava. Ainda sim, não podia deixar de vislumbrar o rosto de todas as pessoas que confiavam nela para protegê-la todas as vezes que ouvia gritos. Se perguntava se haviam gritado de forma similar. Essas perguntas só a faziam afundar mais na carne morena, que parecia tanto a sua mas, ao mesmo tempo, era tão diferente.

    "EU JÁ DISSE QUE NÃO SEI PORRA!"

    Semicerrou os olhos, mas agora a espada já havia resfriado bastante. Não parecia certo esquentá-la novamente, já que levaria mais tempo que ela estava disposta á sacrificar. As pernas e braços já estavam inúteis, repletos de buracos que mal sangravam, cauterizados. Deu um passo para trás, analisando a sala e seu refém. Seu tio já havia retraído sua presença, mas conseguia ouvir uma respiração pesada do lado de fora.

    Levantou a espada, e quando desceu, desconectou o dedo indicador de sua mão direita. Outro grito ressoou, agora parecendo tremer até seus ossos. Mas a frieza que havia instalado da duquesa não era facilmente dobrada.

    "Tente novamente."

    Quando saiu, coberta de sangue, havia sim obtido todas as informações que necessitava. Mas também sabia que havia aberto uma porta dentro de si, que nunca mais poderia fechar novamente. Não havia o palpitar de nenhum coração dentro da sala.

    O resto dos dias foram dedicados a sua recuperação e o plano, mas cada uma das pessoas que a conhecia podiam ver uma frieza que não saía de seus olhos, o sorriso que não alcançava mais tão bem seu rosto.

    “A duquesa fugiu. Mantenha-se alerta.”

    Ouviu isso da boca de Jane, enquanto passeava pelos corredores voltando da ala médica. Sorriu com escárnio.

    “Ela já estava á beira da morte, deve ter morrido ao pés de uma árvore aleatória.”

    Ela apenas deu de ombros, e continuou seu caminho. Esperou que se afastasse antes de se deixar queimar de ódio.

    Acabou não participando da maior parte dos detalhes sobre a competição musical, deixando seus nobres se divertirem em avaliar e escolher aqueles que se apresentariam. Concentrou-se no orçamento e seus estudos, além de consultar semanalmente no andamento do plano com Alexius.

    A comemoração foi marcada para o dia em que seu corpo se recuperasse, e isso acabou acontecendo um mês e meio depois.

    Quando caminhou dentro do salão de festas alegremente musical e risos cantantes. Danças e piruetas se estendiam pelo salão, uma mulher de voz profunda dando trilha sonora aos pés da nobreza.

    Caiaphas marchou para batalha.

    De fato, não podia interromper o clima tão festivo. Não, apenas andou cumprimentando todos com seu melhor sorriso até chegar ao cômodo onde tudo seria resolvido. O plano foi atrair a líder até aquele local, aproveitando da comoção para cercar individualmente todos os membros que faziam parte do grupo. Tudo dependia disso, para que fosse contidos todos de uma só vez.

    Empunhava a espada da família Moureau, A Traiçoeira pesando em sua cintura.

    E encarou a mulher voluptuosa com olhos flamejantes. Todo o ar tinha uma natureza promíscua, desde o decote até a boca carnuda e vermelha.

    “Quem bom que chegou, querida. Esperava por você.”

    Ela se sentava em uma poltrona carmesim, de pernas cruzadas. A cacheada não se incomodou em se explicar, apenas desceu a espada com toda a força que podia. A mulher foi realmente pega de surpresa, e recebeu um corte profundo no braço esquerdo quando tentou se esquivar.

    “VAGABUNDA!”

    Assim que sua voz soou, ouviu passos apressados do lado de fora, rápidos ao auxílio da mulher. Logo ouviu o som metálico tilintar. A duquesa puxou o canto da boca, mas aquela emoção não se encaixava e felicidade.

    Era frio, quase tão frio quantos os corpos que foram resgatados naquela noite.

    “Eu acho que não, querida.”

    Investiu novamente, e foi parada por duas adagas gêmeas. Era impressionante como a outra conseguia parar o ataque com o braço machucado, iria admitir isso.

    “Vocês nobres, sempre se achando superiores! Sempre arrogantes! Nenhum de vocês merece metade do que tem!”

    As palavras saíam tão fácil quanto entravam pelo ouvidos, lâminas não parando por nada. Não se permitia parar, não depois de tudo que seu povo aguentou naquelas mãos. Cortava com velocidade e determinação, tirando sangue ocasionalmente e perdendo também.

    “Você não vai conseguir me matar!”

    Abaixou a coluna e entrou para um golpe baixo, aproveitando as asas para golpeá-la na face e usando a espada para manter seus braços ocupados. De uma vez, alavancou para cima com força e desceu com os pés no rosto, sendo desviada e acabando caindo no chão de costas para sua oponente.

    Recebeu um corte profundo entre as asas, logo ao lado de sua coluna graças ao giro que já estava em movimento. Sentiu sangue jorrar, e o movimento dos braços desacelerar. Com as últimas forças que tinha, com tudo que tinha na verdade, segurou com as duas mãos a espada e usou das asas para girar mais rápido.

    Enquanto a outra recuava as adagas do último ferimento, enterrou a espada na boca da criatura até vê-la sair do outro lado da cabeça.

    Estava perdendo muito sangue.

    E tudo começava a rodar.

    Antes de apagar no chão, viu apenas uma multidão e gritaria por todo o canto.

    Acordar doía. Tudo doía, na verdade. Vários pequenos machucados haviam se acumulado durante a luta, completamente enfaixada. No lado da cama estava a curandeira, e abriu um sorriso carinhoso ao vê-la acordada.

    “O que eu falei sobre se meter em problemas?”


    .


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    Última edição por Caiaphas S. Moureau em Sex Mar 27, 2020 1:31 pm, editado 2 vez(es)
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    Possuo VIP, Boost Diy e levar em conta o evento de quarentena

    Ficha da personagem: Aqui

    Treinos: Economia e Matemática, Combate Desarmado, Resistência, História, Tortura

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    Uma reclamação pessoal minha.
    O espaço entre os parágrafos da postagem 1 e 2 é grande demais, salte somente uma linha e a leitura ficaria mais… agradável.

    Vale lembrar que a apresentação do texto, também, é critério de avaliação. No entanto, não descontei pontos por isso, percebi que na terceira postagem tudo estava normal, leve isso como um aviso para suas próximas narrativa afinal, demorei em minha leitura justamente pelo incômodo que o grande espaçamento me causou.

    Apontamentos gerais.
    • Achei um tanto incoerente que, ao ouvir barulho, sua personagem já cogitou que se tratasse de inimigos e não de reforços. Estava acontecendo um combate dentro dos teus aposentos, em tese, nos castelos acontecem rondas pela proteção de seu soberano e tudo o mais, você estava na sua casa e não em território inimigo para se encontrar tão desconfiada assim, mesmo recém atacada, poderia ter cogitado que eram soldados.

    • O plot foi muito interessante e criativo, gostei mesmo. Mas... mesmo sendo 12k de palavras certas coisas aconteceram rápido demais... senti que não desenvolveu o suficiente as partes necessárias. Mas, sua narrativa é boa e agradável.

    Vamos às recompensas.
    • ECONOMIA E MATEMÁTICA - 70%
    Houve sim uma abordagem da economia e matemática, no entanto, não senti aprofundamento. Faltou explicar de forma mais profunda a problemática, apesar de que houve sim uma abordagem superficial do problema. Acho que pecou em expressar melhor sua preocupação sobre a economia do seu ducado no começo da narrativa.
    VALOR FINAL: 70 x 4 (insana) x 2 (dobro quarentena) x 2 (bonus diy) = 1120 (nível máximo)

    • COMBATE DESARMADO -  100%
    Uma boa descrição de combate, teve momentos em que você esteve com a vantagem, em outros, seu oponente. Parabéns.
    VALOR FINAL: 100 x 4 (insana) x 2 (dobro quarentena) x 2 (bonus diy) = 1600 (nível máximo)

    • VIGOR - 100%
    Mudei para vigor pois em DIY as premiações abrangem perícias. Pontos em atributos, em sua maioria, provém de bônus por parte do avaliador (até onde vai meu conhecimento).
    VALOR FINAL: 100 x 4 (insana) x 2 (dobro quarentena) x 2 (bonus diy) = 1600 (nível máximo)

    • HISTÓRIA - 50%
    Poderia ter se aprofundado mais nos detalhes da história de sua família, achei um pouco superficial.
    VALOR FINAL: 50 x 4 (insana) x 2 (dobro quarentena) x 2 (bonus diy) = 800

    • TORTURA - 35%
    A parte da tortura foi tão poucamente detalhada, acho que poderia ter desenvolvido melhor isso.
    VALOR FINAL: 35x 4 (insana) x 2 (dobro quarentena) x 2 (bonus diy) = 560 (nível máximo)

    • PONTOS DE CRIAÇÃO:
    3 (insana) + 3 (nível max das habilidades alcançadas) = 6 Pontos de criação.

    *Não solicite pontos pelas habilidades que alcançou nível máximo nesta DIY, elas já foram levadas em consideração na hora de pontuar aqui. Para compreender onde usar os pontos de criação leia nosso sistema de técnicas autorais (AQUI).


    Sobre ferimentos.
    • Corte grave e profundo entre as asas. Tratado. Removível em 02/04. A player apresenta dificuldade para voar durante esse período.

    • Hematomas médios no corpo. Não especificado. Tratado. Removível em 30/03. A player tem resistência reduzida a -1 enquanto estiver com esse ferimento. HP máximo reduzido para: 60.

    OBS: Você não especificou uma região do corpo que estivesse machucada e achei que seria ruim definir por você, uma vez que, pela regra, cada hematona/concussão reduz a resistência a -1. Por ter dito que estava enfaixada e cheia de ferimentos acumulados da luta reduzi seu HP máx levando em consideração a regra de ferimentos. Para maiores informações acesse nosso sistema de ferimentos (AQUI).


    Adendo.
    1 BOOST DIY REMOVIDO


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    Atenciosamente, a Vida.
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