Era estranho estar no Refúgio das Fadas de novo com Elora e Lyanna. Parecia que o mundo estava em paz de novo e que eles podiam ser felizes. Zoren tinha se desacostumado com essa facilidade em sorrir quando estava com as amigas. Numa tarde agradável após o trio terminar de falar sobre as mais diversas estratégias para lutar na guerra que se aproximava, Zoren decidiu sair para espairecer um pouco.

Da janela do seu quarto na residência de Elora, o macho conseguiu alçar voo tranquilamente. Suas enormes asas roxas se esticaram sem que a fada sequer pensasse nisso e, rápido assim, estava planando sobre a mata de Etherea. Já era fim de tarde e a noite começava a se chegar. O céu estava pintado de laranja nas bordas e azul bem escuro no meio, era agradável de se olhar daquela altura. E ficou ainda melhor quando surgiu uma companhia.

Um nebu, algo entre um cervo e uma coruja, levantou voo de sua árvore, provavelmente onde tinha ninho, e começou a acompanhar Zoren. O macho não se assustou, sabia que a besta não queria lhe machucar, ou então teria se esforçado para passar despercebida. No lugar de se afastar com medo, o bruxo se aproximou um pouco do animal e deixou que a ponta de suas asas se tocassem. O nebu o encarou no ar enquanto estavam lado a lado por alguns segundos e então, como que em desafio, soltou um piado mórbido para a fada antes de mergulhar num rasante.
 
A fada não se intimidou. Fechando as asas junto ao corpo, se deixou cair livremente atrás da besta e, perto de alcançá-la, voltou a abrir as asas, planando sobre a criatura sombria. O nebu fez o mesmo e então se nivelou com Zoren novamente, dessa vez piando mais como se estivesse se divertindo. E deveria estar mesmo, a fada estava pelo menos, era bom se conectar com sua natureza de novo, voar, interagir com as criaturas da mata, ser uma fada pra variar. E assim, sendo uma fada, que Zoren aproveitou o tempo que lhe restava em Etherea, voando com um nebu selvagem como se fossem velhos amigos e se divertindo no ar.

Quando se cansaram, no entanto, pousaram num lago de uma clareira. O nebu não ficou muito tempo para socializar depois disso. Matou sua sede no lago e partiu para as sombras da floresta. Tudo que deixou para provar que de fato era real foi algumas de suas penas.

Drop-farm :

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O lago onde Zoren parou para descansar depois de voar com o nebu era… mágico. Não no sentido literal da palavra, pelo menos não até onde sabia, mas era lindo e misterioso ali no meio da floresta. Mas estava em Etherea, o que se podia esperar? A natureza daquele lugar com certeza seria exuberante. Era por isso que tantas fadas se estabeleciam por ali depois de saírem de Munhal.

A fada bebeu um pouco da água do pequeno lago e se deitou na suave relva para observar as estrelas no céu que escurecia mais e mais ali na clareira. Pouco a pouco vagalumes começaram a piscar e sapos a coaxar. Um pedaço da mata sereno e tranquilo, seria ideal para um piquenique se… bem, se Hokar não destruísse tudo. Por mais que tentasse, Zoren não conseguia tirar o Fim da cabeça, nem mesmo contando estrelas.

Quando decidiu se levantar para voltar para casa, no entanto, levou um pequeno susto. Das sombras de uma moita, um pequenino Madru. A criaturinha observava Zoren com intensidade, quase como se quisesse dizer algo. E curioso com aquilo, Zoren pensou em se levantar e ir até a besta, mas lembrou-se dos contos élficos sobre pequenas plantinhas rápidas como o vento que enganavam viajantes e os levavam para grandiosas bestas raivosas.

— Pode me encarar a vontade, bonitinho, não vou correr atrás de você! — Zoren disse em tom divertido para a pequena criatura de madeira e esta pareceu sorrir antes de desaparecer na mata.

Mas não se passou muito tempo até que o Madru aparecesse de novo, dessa vez com um amigo da mesma espécie, ambos carregando frutinhas. Um deles se aproximou até a metade da distância em que estava da fada e deixou que as frutas caíssem no chão entre eles, correndo de volta para seu amigo com velocidade. Em seguida, como se tivessem lido os pensamentos da fada, as criaturinhas começaram a comer suas frutinhas.

— Um piquenique… quem diria… — Zoren disse com um sorriso na cara. Não sabia o que estava acontecendo para as bestas estarem tão amigáveis, geralmente elas tentariam matá-lo, mas talvez soubessem que vária outras criaturas também queriam isso e decidiram dar um dia de paz ao macho. — Muito obrigado, pequenos. — A fada respondeu e então começou a comer junto dos Madrus, uma coisa que ninguém acreditaria se contasse. Mas provavelmente não contaria para ninguém mesmo, aquela lembrança talvez mantivesse sua ternura se ficasse apenas entre ele e a natureza.