Cada pequena ação daquela alma havia sido colocado para pesar na balança da Justiça, que equilibrou-se ao bem, pois em vida ela lutou e se sacrificou pelos necessitados. Fez tudo por seu povo até o fim. Não havia nada que a fizesse tender para o mal. Mesmo com toda imponência de Baru, sua voz soou calma, não demonstrava afeto e nem o contrário, neutra como ele próprio.

— Um coração puro que incansavelmente lutou pelo bem, nunca o peso do seu próprio bem estar, foi maior que a necessidade do próximo. Brandiu a espada com coragem e bravura, não por sede de sangue, mas sim por proteção aos seus. Sempre correndo ao encontro dos que clamavam por socorro. Caiaphas, por sua alma que reluz em caridade, seu lugar é Maokar, isso é justo. No entanto, seus feitos em vida ganharam a atenção dos Deuses, e lhe foi reservada uma nova existência em glória, bravura e heroísmo. Não se perturbe com isso agora, fará mais sentido em seu despertar.

Palavras de um encontro que nunca será lembrado.

Baru recebeu aquela alma, ainda que houvesse tamanha ligação com a vida, recusando se entregar a morte, mas talvez ainda não fosse sua hora e tivesse muito o que ser feito em vida. Nenhuma ação ou intento de um coração foge ao conhecimento dos deuses, ainda mais de Baru.

— O amor que doou ao seu reino, a natureza, a vida, foi observado pelos deuses. Seu sacrifício será lembrado pelos que vivem, a mensagem de seus atos carregada pelos corações do povo élfico, e sua recompensa entregue em morte. É justo que sua alma descanse em Maokar, a ilha dos Justos. Você terá paz.

Palavras que serão lembradas enquanto estiver no Harikmer.

Aquela alma carregava toda a dor do preconceito, em feridas e cicatrizes. Se fosse Ay quem recebesse as almas, provavelmente teria chorado, mas Baru não expressava tais sentimentos, apenas a justiça.

— Toda ação e intento de um coração, os deuses presenciam. Sua vida foi cheia de dificuldades, e o preconceito, a maior. Seus maiores atos foram em lutas, mas ainda assim foi buscando o bem, até mesmo em sua última luta. Maokar, a ilha dos Justos, será agora seu lar, assim a justiça se faz. Você terá abundância e paz.

Palavras que serão lembradas enquanto estiver no Harikmer.

A vida havia sido tão breve para aquela alma, pouco fez, mas em seu última ação mostrou bondade e bravura. Salvou uma vida, ainda que isso lhe custou a sua própria.

— No pesar de seu coração, vejo suas boas ações, Maokar, a ilha dos Justos, lhe servirá como lar. No entanto, posso ver dragões em seu caminho, isso será ironia?

Palavras de uma conversa que será esquecida.

Uma breve vida, repleta de confusões e injustiças, mas na morte a justiça a espera.

— Mesmo nos momentos mais confusos de sua vida, a lealdade brilhou em seu coração. Isso é honroso. Maokar será seu lar, até que reencarne em Samaria.

Palavras de uma conversa que será lembrada, enquanto estiver no Harikmer.

A vida havia sido breve para aquela alma, não fez muito, viveu em confusão. A Morte veio no momento menos esperado.

— Pobre alma, uma pequena existência recheada de tormentos, havia tanto para o futuro. Maokar lhe será uma justa morada.

Palavras de uma conversa que nunca será lembrada.

O olhar da Morte para aquela alma... era vazio. Não havia tristeza, decepção, raiva, nada. Apenas um vazio profundo, tão profundo quanto o que havia restado daquele que havia cometido o ato contra a Vida.

— Eu lhe avisei, Lyr. "Seja feliz e o honre, e o encontrará quando for seu momento em meu reino". Quando for o seu momento. Você tentou acelerar o que não deve ser acelerado. Você tomou uma decisão que não cabe a você tomar. Você se julgou como pronto para fazer sua transição, para reencontrar o seu amado... Mas não é você quem define o seu destino. A Vida tinha grandes planos para você, e mesmo assim você decidiu por dar-lhe as costas e dar a si mesmo um fim. Os fins não justificam os meios, Lyr. Você cometeu um ato imperdoável, e com isso acabou por destruir a si mesmo. Você agora é um vazio. E você irá para Iriokar, a Ilha do Vazio, das almas mortas. Lá, você deverá compreender o erro que cometeu e se redimir, para ter o direito de pleitear um reencontro com o seu amado. Até que isso aconteça... vocês estarão separados em meu reino.

Palavras que ecoariam na memória do submundano no Iriokar.

A Morte pairava acima da menina, com um olhar indeciso. Afinal, para onde deveria ir alguém com tamanha violência e tamanha justiça em tão pequeno corpo?

— Ah, minha pequena fada... Existe beleza em vossas ações tanto quanto existe bagunça. Em mim há dúvida sobre vosso destino, sobre vossa dívida. Por acaso alguém que mata deveria receber uma parte do Maokar? Ou alguém que contém a inocência dentro de si deveria ir diretamente para o Iriokar? Pois então te darei descanso do mundo que aproveitou-se de sua pequeneza e caridade, para que assim possa ouvir dos que sofreram o mal e vieram parar aqui. Que sua alma aprenda que explosões machucam, mas que palavras e boas ações mudam o universo, e que se torne livre de todo peso que ainda possa ter dentro de si.

Helix se lembraria deste pequeno fardo ao ir para o Maokar.

Antrius não era nem bom, nem mal. Não existia mácula profunda em seu corpo e nem cicatrizes de vingança em sua pele, poupando-lhe de algumas horas de vida que só trariam dor profunda em sua carne. O homem viu diante de seus olhos sua amada e sua filha aparecendo mortas ao seu lado e, juntos, ascenderiam ao Maokar para seu descanso eterno. Quem havia matado suas duas paixões? Ele jamais poderia saber, e nem elas se lembrariam.
Por sua sorte, ele poderia ficar eternamente ao lado das duas pessoas que mais ama, sem sentir medo, dor, insuficiência ou qualquer tipo de desespero. Uma vida que qualquer um pediria aos deuses, tal ele era um homem de fé.

Uma sacrifício feito sem motivo, uma morte em vão. Por que tramar o fim que vem antes do correto fim? Por que traçar com tanto desdém o próprio destino?
"Aquele que foge de seus crimes através da morte há de encontrar justiça diante de seus olhos". E então não somente Van estava naquela sala, e sim a Tríade Divina: Morte, Vida e Justiça. Os olhos furiosos não diziam nada, porém seu silêncio rancoroso ocupava-se de tudo. O mesmo silêncio que ocupou a sala do trono quando Aerin entregou sua própria vida sem lutar, com a fúria mental de seus homens caindo acima de si em um peso de uma pena que perfura um coração. Se as palavras que eles gritavam eram reais ou não no momento em que sua audição falhava pela transição de dimensões, de uma coisa ele tinha certeza: ele caía, e caia com um peso tão grande que pode sentir aquela adaga ser fincada eternamente em sua alma com o peso de seu corpo e culpa.

Não era hora de Alexander estar ali.
Talvez uma atitude impensada, um ato mal feito, uma inquisição mal colocada. O fato era que a hora da morte não correspondia com o ser.
Ele ainda não sabia sobre seu passado, não tinha em mente sobre seu lugar no mundo, portanto precisaria aprendê-lo se quisesse seguir em frente em paz.
Sua alma seria enviada ao Iriokar, mesma terra de seu pai, onde poderia encontrar mais sobre seu passado, e então dirigir-se a presença do Duque para sua subida ao Maokar, para aprender sobre sua mãe.