O que pensar quando se tinha consciência de que o dia seguinte poderia ser o último? Ou o começo de uma série de coisas destruidoras e violentas? Pois assim era a guerra. Era feia, era cruel, era devastadora. E mais uma vez Freya se encontrava em um ambiente de combate. Chegava a ser irônico como tinha escapado de Munhal em busca de conhecimento e fortalecimento pessoal, longe das Asas Negras que aterrorizavam as fadas. Apenas para chegar em Dawhan e viver aventuras inesquecíveis e sofrer como nunca em sua vida.

Cada perda de um vanguardista era como a perda de um irmão. Eles compartilhavam histórias, sonhos e pesadelos, lutavam lado a lado em situações absurdas. Freya sabia que poderia apenas retornar para De’Travel e ficar na Escola de Licentia, deixando que outros lutassem no alvorecer do dia seguinte.

Mas ela aprendeu a amar demais aquele lugar para ser covarde.

Então a fada permaneceu em um lugar alto, olhando o movimento à distância, deixando a mente navegar por um mar de pensamentos diferentes. A próxima batalha poderia ser a última de sua vida, ao menos nessa vida. Obviamente Freya queria viver, queria continuar, queria descobrir o que queria se tornar. Mas existia aquela probabilidade gritante de morrer no próximo confronto com Arzallum que a fazia cogitar coisas. Se arrependia de algo? Teria feito algo diferente? Por vezes achava que sim, que deveria ter falado mais com seus pais, ter retornado algumas cartas ao invés de deixar para o dia seguinte. Por vezes não, considerando que tinha vivido cada segundo fora de Munhal em prol de algo, cumprindo com um destino que nem ao menos sabia que conhecia, mas que veio de encontro a si.

— Lórcan. — Um dos bruxos de combate chamou. — Senhora, sir Edward está convocando alguns membros de alto rank para conversar.

— Senhora? Tsk, apesar de apreciar o termo respeitoso a minha posição, isso é… Apenas estranho. Freya é o suficiente. — A fada flutuou para baixo, pousando suavemente. — Agradeço pelo aviso.

Ele fez uma leve reverência e saiu. Tinha sido promovida no combate passado e agora teria de participar das grandes reuniões. Adentrou a tenda com um sorriso cansado, mas ainda assim contente de ver o samariano ruivo ali. Não saberia dizer em que momento começou a se importar com o macho, porém o considerava alguém do qual poderia confiar a vida. O faria no próximo combate, assim como tantos outros. Mas o que custava ele tomar um banho depois de ter retornado de uma longa viagem?

— É enervante como eu já estou acostumada com seu estilo, Charmacana. — Freya comentou pouco depois de ter adentrado. Revirou os olhos para si mesma e suavizou mais o tom, o encarando de maneira mais preocupada. — Está tudo bem? Soube que precisou viajar pelas terras krigerianas nos últimos dias.

Enquanto esperava a resposta, Freya começou a procurar algo pela tenda. Comida e bebida. Encontrou algo tão típico e característico dos licentianos que imaginou se teria sido a própria Beth quem cozinhou. Deuses abençoasse aquela mulher, ela era uma criatura especial que andava por essa realidade por concessão dos próprios deuses. Essa era a fama imaculável da cozinheira de Licentia.

Pegou um pastel e se serviu de licor de café e chocolate, sentando em uma cadeira não tão confortável, mas boa o suficiente. Sabia que outros ainda estariam por chegar, então se distraiu com a pequena refeição.

Alimentos: