O povo é a chave

— Mês/Ano: 331 - IRA
— Pessoas envolvidas: Alistair Moonridge
— Localidade: Kaer Morhen
— Descrição: Uma grande estrutura que reunirá comerciantes de todos os cantos de Badur começa a ser erguida próxima a praça central do vilarejo. Aconselhado por Half e partindo para o início de seu plano, a aproximação com o povo, Alistair deixa sua função de Maoko para ajudar na construção do centro comercial.

Tijolo sobre tijolo. Já havia construído trincheiras, catapultas, quartéis militares; mas nunca um centro comercial. A origem nobre, mesmo sendo um segredo, me deu algumas regalias, no entanto, me livrar do trabalho braçal e de um começo comum pela base da estrutura, não foi uma delas. Eu agradeço Iron por isso. Talvez não estivesse aqui, tão bem entrosado entre os meus. Aqueles que me viram correr sobre a neve nas vielas de Kaer Morhen. Aqueles que aturaram meus pequenos e inocentes furtos de biscoito na feira, quando criança. Notei naquele dia como em tantos outros, o significado de minha orientação e criação para ter a vida que tinha.

Não é só a massa utilizada para o rejunte. Muito menos aquelas pedras bem encaixadas entre vigas de carvalho que erguiam-se metros ao céu. Tratava-se de uma metáfora aplicada pelo destino; as coisas, por mais confusas que sejam, se encaixam.

— Me alcance aquilo! — Feller era o mestre de obras. Um sujeito gordo, antigo construtor de maquinário de guerra e muralhas. Apontava seu dedo rechonchudo para um pedaço de carvão próximo a sua bolsa sobre a mesa de madeira.

A cidade se movimentava e parecia apreciar com certa ternura o que via se erguendo perante seus olhos. Aproximavam-se e tinham aquilo como sua distração, afinal, erguemos o prédio na região central da capital.

Construir sob neve é algo tão costumeiro para o povo de Moonridge, que tornou-se até mesmo tradição para nossas crianças construírem fortes de neve em torno das casas que eram erguidas, e se digladiarem com espadas de madeira enquanto os mais velhos trabalhavam na construção do lugar. Acompanhavam de perto a arte da arquitetura e tinham uma noção prévia de um conhecimento fundamental para suas vidas.

No entanto, o começo do mês de Ira talvez tenha sido o pior período para iniciarmos aquela construção; e só agora, na metade do projeto, percebemos isso.

O povo não morria mais de fome em Era e os saqueadores fugiam daquele território depois das nossas recentes conquistas. Porém, o problema não era o quão perigoso o período do ano era ou deixava os rastros por ser, era algo logístico.

A falta de madeira seca e a dificuldade de tirar rochas das pedreiras sem ocasionar deslizamentos ou avalanches nos cumes mais altos, era a grande questão. Foi então que Feller teve uma ideia genial, digna de um arquiteto da sua qualidade.

Mandou que acendessem gigantescas fogueiras próximo as partes mais densas da floresta e que a controlassem dia e noite para que não se espalhassem pelas árvores, apenas a aquecessem. E assim fez também na base das pedreiras, onde a cada dez passos as chamas serpentiavam evaporando a neve e a umidade sobre o solo negro.

Esperamos de forma paciente, dia após dia até que o mês de Ira chegasse a sua metade. Com o clima ameno e as fogueiras que pareciam a fornalha dos anões, incessante, tínhamos o restante do material necessário para concluir a construção.

E assim foi. Os bois arrastavam grandes troncos pela capital, acompanhados de trabalhadores que com carrinhos de madeira traziam pedras lapidadas da pedreira mais próxima dali.

Tijolo sobre tijolo. Os olhares atentos. O entendimento de que o Maoko daquele lugar era tão humano e tangível quanto qualquer outro. Afinal, estava sujo dos pés à cabeça, sendo atingido pelos flocos de neve que deixavam minha epiderme gélida e ainda mais pálida do que era. Mas lá estava eu, consistente e obstinado naquele objetivo. Parecia motivar todos que trabalhavam à minha volta; enquanto alguns saíam para a ceiar, eu trabalhava. Enquanto outros descansavam, eu trabalhava. Até que todos abriram mão dos breves períodos de lazer e diversão para me acompanhar incansavelmente naquela obra.


— Povo Moonridge… — Um palanque de madeira provisório localizava-se frente a um grande tecido branco erguido na frente da fachada do centro comercial. Um velho lobo gordo e empolgado agia como interlocutor para uma plateia que ocupava toda a praça central de Kaer Morhern. — …Cá estamos para mais uma conquista do nosso sangue. Desta vez não falo de guerra, não falo de territórios ou de escravos para nos poupar de trabalhos braçais. Este homem que nos lidera. — Apontou com determinação para mim, parado observando seu discurso. — Não pensa apenas na carnificina. Ele entende que tudo que se conquista deve se manter, e por isso, com suas próprias mão durante um mês ele nos ajudou a erguer o maior centro comercial desse canto de Badur. — Sorri vendo a aclamação do povo.

E então o gigantesco tecido caiu ao chão, dando visão para aquela enorme construção. Ocupava facilmente três quarteirões e dividia-se em inúmeras galerias conectadas entre si, de forma que podia se acessar um comércio através do outro, ou individualmente pelos corredores. Sua parte externa era feita em vigas altas e largas que estruturam paredes de pedra sólida e polida. O teto com forro também em pedras e coberto com uma madeira específica da região visava um maior isolamento térmico com a quantidade de peles postas entre ambos. Sob o arco de entrada, o brasão Moonridge; os lobos opostos, um caçando o outro em um círculo que remetia a lua.

O sonho de atrair comerciantes de todos os cantos do continente havia apenas começado. Sabia que haviam duas coisas que unificaram um povo: O dinheiro que lhes trazia conforto, e a cultura que lhes trazia pás. Um passo desses acabava de ser dado.

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