• Azor Hokar, o deus da destruição, o senhor da consumação, retornou. Reencarnado no mês de Era, em 329, no Império Corrompido de Aronian. Enquanto o continente dos heróis, Samaria, está mergulhado em guerras e conflitos territoriais e políticos, Hokar reúne suas forças para trazer por fim sua vingança sobre toda a Criação – E por sua trágica derrota na Era dos Deuses.

    Enquanto isso, Mahoro Trakarhin, o rei dos imortais e guardião do Criador, prepara os reis e tenta apaziguar as guerras de Samaria para que possam olhar para o verdadeiro perigo que reside ao norte, no Império Aroniano.

    Não se renda ao temor que Azor Hokar representa e todo o mal que ele ameaça trazer. Una forças com o lado que melhor te convier e participe dessa aventura épica!
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    As Crônicas de Samaria :: Arquiducado de Ostagar :: Jägermeister [Filial]

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    FORGING NEW BONDS
    objetivos em comum
    — Mês/Ano: Sha / 331 E.R.
    — Pessoas envolvidas: Dún'Soir e Kali
    — Localidade: Jägermeister
    — Descrição: Apenas um dia de descanso na filial da guilda de mercenários onde encontros entre os membros são comuns e parcerias novas e inusitadas podem acabar sendo formadas.
    「R」
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    Forging new bonds

    One day at a time, one sin at a time.

    Roubos, contratos, trabalho. Tudo isso pra conseguir algum dinheiro pra se sustentar, fazer da vida em Aronian ao menos um pouco mais suportável. Por vezes o meio anão se perguntava o porquê de ainda não ter jogado tudo pro alto, virado a mesa e simplesmente aceitado as coisas como elas são e desistido da própria vida como em dado momento já havia pensado em fazer. Difícil dizer exatamente o que motiva uma pessoa a continuar vivendo, principalmente em um lugar como aquele, que constantemente costumava testar a tenacidade de seus habitantes. Mas no caso desse submundano em específico, talvez nem mesmo ele soubesse a resposta. Talvez fosse apenas seu orgulho falando mais alto, a teimosia em se recusar a desistir da pouca esperança que ainda tinha de redimir seu passado, desistir da memória que ainda carregava, ou o desprezo pela ideia de tomar a saída dos covardes.

    O ser de menos de um metro e meio adentrou o grande salão. Suas pernas curtas causando um barulho desproporcional a cada passada. Seus ossos eram pesados, diria, e é claro que o peso dos anões é todo concentrado em seus músculos, o que faz com que eles parecessem mais pesados do que realmente eram. Talvez Dún realmente possuísse uma barriga levemente saliente, mas que também era comum à anatomia dos anões, certamente. Quem iria gostar de um toquinho curto e fino? Sua presença tinha de ser evidente, se não fosse para cima, então que fosse para os lados.

    - Ei Guéry, desce uma bem gelada que hoje vai chover e eu só saio daqui carregado. – disse a pessoinha robusta, enquanto trepava no banco alto em frente ao balcão da taverna interna da grande guilda.

    - Chover, homem? Ficou louco? Se eu pudesse estaria nu aqui com esse calor e você me diz que vai chover? – respondeu o homem atrás do balcão, enfático.

    O homenzinho sorriu como se soubesse de algo que somente ele tinha acesso – Bah, vocês são mais ocos que um kogrov de grud  – O atendente de trás do balcão se contentou apenas em franzir uma das sobrancelhas, visivelmente sem entender nada, enquanto o anão erguia uma das pernas, a apoiando em outro banco logo ao seu lado, dando dois soquinhos leves com os nós dos dedos rechonchudos no próprio joelho – Ta me incomodando horrores hoje. Já estou avisando, se sair alguém hoje, só volta de barco  – Concluiu, com sua expressão séria como de costume, baixando a perna novamente e batendo forte no balcão com a mão direita fechada – Agora cala a boca e me desce duas, devia cobrar uma de você por te dar essa aula.

    O submundano finalmente soltou uma risada áspera e grave, finalmente voltando sua atenção um pouco mais para o grande salão. Apesar de tudo, aquele lugar ainda era o mais próximo que podia de chamar de casa. A bebida podia não ser a melhor e os frequentadores poderiam não ser os mais idôneos, mas ao menos sentia que pertencia aquele lugar.
     


    Ciaran
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    — Forging new bonds —
    Objetivos Comuns—
    Sabe, você superestima demais nossas motivações, sabia? Sempre buscando uma razão, uma explicação lógica, uma desculpa, um porquê para aceitar uma vida em meio a mercenários e assassinos. Para encontrar respostas para uma amizade, uma parceria perigosa. Quando na verdade, muitas vezes, escolhemos apenas porque queremos, porque isso nos diverte, porque exercemos o controle sobre nossas vidas, diferentemente do que você parece fazer.

    Obedecer regras. Andar sobre os trilhos. Te ditam isso e você apenas obedece, sem questionar, sem se impor. Se quer mesmo saber por que eu sou assim, por que fiz o que fiz? A resposta é muito simples, porque eu quis, e porque não tenho vergonha ou receio de fazer o que me diverte. Foi isso que me levou até aquele lugar, foi isso que fez com que eu aceitasse me juntar ao Jägermeister, após a perda da minha trupe.

    Quanto a Dán… bom, devo dizer que o que fez com que eu me aproximasse foi algo além da diversão e do entretenimento. Algo nele, naquele dia, fez com que eu me recordasse de Gorlok. Talvez tenha sido o seu comportamento, o modo como agia e a leve fraqueza por uma boa bebida… se bem que o fato de ter familiaridade com a raça anã certamente também tem um percentual de culpa.

    E fazia muito tempo desde a última vez que me recordava do antigo líder. Isso fez com que conquistasse minha atenção.

    Eu já estava na taverna privada quando ele chegou, chamando obviamente toda a atenção em meio aos passos pesados e barulhentos. Em minhas mãos, uma meia dúzia de cartas que formavam uma combinação perfeita. Dinheiro rápido e fácil, do que jeito que eu gosto. O jogo se desenrolava, e em meio a sorrisos e blefes, carregava cada um dos tolos para o abate.

    Uma, duas, três rodadas e os xingamentos eram ouvidos, enquanto eu ria recolhendo as moedas da aposta.

    — Ainda vou descobrir como você faz isso, garota. — Em um tom de esperteza, um dos jogadores disse enquanto voltava a embaralhar as cartas. Até aquele dia eu já deveria ter vencido dele umas dez vezes, no mínimo, arrecadando quase quinhentos sanários.

    — Está mesmo tentando descobrir os truques de uma ladina, mon chéri? — Continuei a brincadeira, mas dessa vez não permaneci na mesa.

    Dún estava no bar, bebendo e dizendo abertamente a respeito de uma chuva que claramente era improvável. E então outra dose e mais uma. Deve ser coisa de anão isso, não é? Até hoje não conheci um único membro de qualquer outra raça capaz de desbancar um descendente de anão na bebedeira.

    Eu me aproximei, com um largo sorriso no rosto, já batendo no balcão e deixando algumas moedas.

    — Desce mais duas. Uma pela vitória nas cartas, outra para o senhor do tempo. — Fiz o meu pedido, chamando com os dedos para o taverneiro se aproximar. — E homem do céu, não se discute com anões e seus parentes, ou você não sabe que as rochas lhes contam a verdade? — Inventei qualquer mentira, antes de dispensá-lo. O tom não era alto, mas também não era baixo, uma escolha proposital.

    E quando as cervejas chegaram, um brinde foi erguido, antes do gelado refrescar o dia.

    — Então tem tempestade a caminho? Que bom que já faturei o dia. — Eu jogava uma bolsa cheia das moedas — recém conquistadas para o dia — para o alto, contando quantas doses Dún consumia, e observando onde estava sua reserva de sanários.


    Kali
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    Forging new bonds

    One day at a time, one sin at a time.

    Apesar de ser uma taverna particular para os membros da Jägermeister, o meio anão sempre se surpreendia com a quantidade de pessoas que aquele local costumava reunir. Por mais incrível que parecesse, ao menos para ele, sempre via pelo menos um ou dois rostos que nunca tinha visto antes. Alguns membros novos iam e vinham é claro, e alguns talvez apenas não havia encontrado ainda por conta dos desencontros do destino, nunca no mesmo local e na mesma hora. Muito embora essa última opção fosse realmente menos provável, visto que o homenzinho era um cliente muito frequente daquele lugar.

    Não demorou muito tempo para que uma destas carinhas desconhecidas se aproximasse do balcão, fazendo um novo pedido e um comentário que fez com que a sobrancelha de Dún se arqueasse levemente, deixando as rugas mais aparentes e a expressão um pouco mais rabugenta do que de costume. Ela não lhe era exatamente estranha, talvez já a tivesse visto em algum lugar dentre aqueles grandes salões, ou até mesmo ali, mas certamente nunca haviam interagido ou trocado uma bebida, nunca teria esquecido se fosse o caso.

    - Guéry, por que eu tenho a impressão que essa mulher está me chamando de maluco? – disse ele, se dirigindo ao taverneiro, apesar de encarar a recém chegada descaradamente.

    O silêncio se fez por um momento até que o anão finalmente deu de ombros, virando-se novamente para o balcão – Mas se vai me pagar bebida, pode chamar do que quiser – concluiu, um sorriso desajeitado brevemente tomando lugar em seu rosto.

    – Conversar com pedras, é mole? Certeza que isso é coisa do Jörd, fica se engraçando por aí e sobra pra gente – resmungou baixo enquanto as bebidas eram servidas, brindando com a patrocinadora da rodada antes de virar o caneco em um grande gole.

    - Ah se tem... Eu não sei quanto às rochas, mas meu joelho nunca me enganou nessa vida – disse ele, batendo na própria perna novamente – Planejei o dia pra mim, o velho Guéry aqui e essa loirinha maravilhosa – disse ele, batendo o caneco contra o balcão – Mas estamos sempre aceitando companhia, ainda mais as generosas  – continuou, rindo em seguida, observando com o canto dos olhos a bolsa de moedas aparentemente bastante pesada que ela carregava.

    - Eu não sei se fico mais surpreso com o quanto esses pé rapados estavam carregando ou de você não ter iniciado uma guerra nesse lugar depois de pegar tudo pra você.

    Um novo gole no caneco foi dado até que novamente ele se encontrasse vazio, batendo contra o balcão, enquanto o submundano suspirava pesadamente, satisfeito com a bebida, deixando o próprio corpo relaxar mais uma vez. Seu olhar abaixou por um momento para um livro velho e surrado e um sorriso que novamente parecia não pertencer àquela carranca se formou, virando-se para a mulher a seu lado.

    - Mas já que ninguém vai sair daqui tão cedo, o que me diz de um joguinho? Mas não me venha com cartas, eu já vi o estrago que você fez. – disse logo, antes que ela pudesse responder, vasculhando o local com os olhos até que finalmente seus olhos se fixaram onde procurava – AHÁ, que tal aquilo? O perdedor paga a conta do outro, o que me diz?
     


    Ciaran
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    — Forging new bonds —
    —Bora de aposta
    O foco de uma ladina como eu é difícil de ser alterado, sabia? Ainda mais quando o assunto são os sanários a serem furtados. Mas aquele meio-anão enrolão conseguiu desviar minha atenção.

    Chamá-lo de maluco, vê se pode uma coisa dessas. Justo eu, que sequer tenho moral para julgar a sanidade de um aroniano que conversa com as pedras. Mal sabia ele que tudo o que dizia se remetia a um velho conhecido… embora de forma um pouco exagerada, devo confessar.

    — Longe de mim, grande homem. Apenas repeti o que um mentor me ensinou: que anões como ele conversavam com as pedras das montanhas para saber quando uma tempestade se aproximava. — Uma mentira, é claro, mas com um fundo de verdade. Afinal, Gorlok apresentava lá suas peculiaridades, e de fato dizia ser capaz de conversar com as rochas. Mas não, não para saber do tempo. Que coisa inútil seria isso. E sim para descobrir as maiores riquezas esquecidas nas terras por onde passávamos.

    Parece idiotice não é? Mas lhe juro que não falhou uma única vez, aquele velho anão idiota. Até hoje não sei como era capaz de fazer algo assim. Quer dizer, uma pedra é só uma pedra. O que é que ela teria a dizer?

    Mas enfim, voltando ao encontro que tanto lhe interessa…

    Ainda assim eu ri, afinal, fazia tempo que não lidava com aquele tipo de personalidade. Acho que desde… bom, há muito tempo. Por isso apenas ria, enquanto ele dizia algo a respeito do joelho lhe dizer quando iria chover. Mas cada um com suas manias né? Não seria eu a discutir, mil vezes preferível beber, e de quebra inventar mais uma ou outra história qualquer.

    — Mas você sabia que cicatrizes preveem quando o tempo vai virar? E deixe eu te contar um segredo, grande homem, a minha me diz quando que devo apostar. — Outra mentira deslavada, mas em uma guilda de mercenários, assassinos e ladinos, nada diferente disso era esperado. Ainda assim, me divertia contando qualquer coisa que surgia na cabeça. — Não vê só o resultado? — Recordo-me de fazer uma expressão vitoriosa, ajustando a gola da camisa com uma mão, e jogando novamente a bolsa de moedas para cima com a outra.

    O que foi? É divertido fazer isso. E mais divertido ainda foi o que se seguiu, embora o resultado… bom, isso é papo para depois. Vamos seguir as ordens dos eventos, antes que eu me embole e você se perca. Parece muito desfocado para alguém interessado na minha história.

    Dún me fez uma proposta. Uma para lá de interessante. Um jogo. Não de cartas, é óbvio, pois minhas habilidades nelas são de fato formidáveis. Você deveria testar, sabia? Quem sabe podemos apostar alguns mimos? É muito chato ficar aqui presa, acorrentada, sem fazer nada. Vamos combinar isso depois.

    Mas voltando ao que importa, antes que você se perca, porque olha só, viu como o seu foco é péssimo? Já tinha mudado de assunto tão rápido. Vê se pode isso. Mas enfim, o meio-anão, depois de já beber sei lá quantos canecos, me desafiou para uma partida de arremesso de dardos e, obviamente, eu aceitei. É claro. Acha mesmo que eu, justo eu, recuso um desafio? Achei que já me conhecia melhor, meu bom carrasco.

    — Dardos? Ah, isso é muito fácil e comum. Quero ver se você sabe arremessar as cartas que tens medo de jogar, mon chéri. Eu lhe dou uma colher de chá, você pode começar. — Disse, em meio a uma piscada sutil, retirando do bolso um baralho e o dividindo em dois. — Mas há uma condição? O pior de cada rodado deverá beber mais dois canecos, enquanto o melhor apenas um.


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    One day at a time, one sin at a time.

    - MEDO? Guerry, essa mulher falou que eu tenho medo de jogar as cartas?

    O anão bateu forte com a mão fechada e rechonchuda contra o balcão, fazendo os copos por perto darem até mesmo um pequeno salto sobre a madeira com o impacto. Sua expressão demonstrava certa incredulidade e raiva, talvez um pouco de euforia misturada que poderia ser percebia por um bom observador. Saltando do banquinho em que se encontrava, o pequeno homem segurou as laterais do cós de suas calças e as puxou para ajeitá-las melhor em seu corpo enquanto ainda resmungava baixo conforme ela falava.

    - Eu, Dùn’Soir, com medo de cartas, deve ter enlouquecido de vez, era só o que me faltava mesmo. Você é ousada, viu mulher?

    Por fim, ele se aproximou estendendo uma das mãos para pegar sua parte do baralho sem muita cerimonia, observando-a por um momento enquanto fazia, tentando ser o mais discreto possível, ou o quanto sua sobriedade ainda lhe permitia ser. Podia dizer que parecia ser uma bela moça, embora a achasse um pouco magrinha demais, talvez. O que lhe deixava mais curioso porém, era saber se escondia algo por debaixo daquela máscara. No meio em que estavam, cicatrizes e deformidades eram muito normais, e seria apenas natural que uma mulher vaidosa quisesse esconder tais coisas. Ainda assim, isso ficaria para depois, tinha uma dívida enorme para quitar em uma bela aposta que não pretendia perder.

    - Se eu perder a rodada bebo até três, todas pra conta do perdedor, junto com o restante das dívidas – os olhos de Dùn pareciam brilhar de maneira desafiadora e com um tanto de malícia conforme falava isso, se perguntando se ela sabia onde estava se metendo.

    - Muito bem, eu farei as honras... – disse ele, indo em direção ao alvo pendurado e cheio de marcas de tantos anos de uso sem que fosse trocado ou arrumado - ...assim que eu descobrir como eu atiro essa coisa...

    - Aqui – disse ele, parando a uma distância considerável do alvo – Aqui está bom – repetiu ele, puxando uma das cartas e a ajustando entre os dedos calejados para fazer uma primeira tentativa.

    Seu único olho bom se fixou no centro do alvo, a língua pra fora sendo mordida enquanto o anão se concentrava e por fim arremessava da melhor maneira que achava possível, por mais desengonçado que fosse. Definitivamente aquilo seria mais diferente do que arremessar qualquer coisa que já havia arremessado na vida. Por que diachos havia aceitado aquele desafio?

     


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    Sha | 331 E.R
    Jägermeister
    Dún


    Forging new bonds
    Cinco cartas, um alvo, uma aposta e muita bebida


    Anões… sempre tão impulsivos, com o sangue tão quente… as vezes os considero um pouco burros, sabia? Tão fáceis de serem manipulados, principalmente quando é o ego a ser atacado. Vejo só o que aconteceu com aquele “grandalhão”, bastou sugerir um pouquinho de medo para já estar falando alto e batendo no balcão.  

    Previsível, impulsivo… ou estaria ele apenas já embriagado o suficiente para se exaltar com a menor das preocupações? Sinceramente, nunca descobri a resposta, pois essa não me importava. De um jeito ou de outro conter a risada era inevitável, em especial ao ver até mesmo as cervejas saltarem, quase em sincronia com a figura que se ajeitava, soltando palavras de afronta.

    — Sem ousadia não se sobrevive nas terras dos corrompidos, meu caro amigo. — Capturando um caneco no ar, recordo-me de apenas virá-lo em um gole demorado, antes de deslizá-lo de volta às mãos do responsável. — Inclusive, não precisa ser tão esquentadinho. Estamos apenas entre amigos. — O que foi? Você acha mesmo que eu perderia a oportunidade de provocá-lo mais um pouquinho? Principalmente com ele tão perto, enquanto retirava a sua parte do baralho.

    Dún era um bom sujeito. E embora naquela época eu não soubesse, também era peculiarmente habilidoso, com dons por vezes ignorados. Inclusive, por um acaso, é por isso o seu interesse? Tá, tá, já sei. Isso não é da minha conta, não é mesmo? E sinceramente? Tão pouco importa, vocês não vão conseguir capturá-lo mesmo…

    Eu certamente não deveria tê-lo subestimado, em especial quando o assunto eram as cervejas passadas e também as presentes. Mas o que posso fazer? Se o ego era o ponto fraco do grandão, as apostas se mostravam o meu.

    — Já pode ir preparando as próximas três doses, Guer’ry. — Sinceramente, eu bem que tentei reproduzir aquele sotaque, a forma como dizia o nome do pobre aroniano, enquanto me recostava sobre o balcão. A mão ancorando o queijo e os dedos tamborilando contra a máscara metálica, enquanto observava uma aparente falta de jeito por parte do sujeito.

    Quem é que arremessava cartas? Nem mesmo eu sei de onde foi que eu havia tirado aquela ideia idiota, mas agora já havia ido. E por alguma razão, naquela hora havia parecido ser uma boa ideia…

    E olha, de certa forma até foi. Pelo menos foi motivo para algumas risadas, talvez por parte dos ânimos já alterados, levemente alcoolizados.

    — É com as mãos mesmo que se arremessa, grandalhão. Tá indo pelo caminho certo. — Mais uma provação para a conta, enquanto cabia a mim apenas a observação.

    — Bravo, bravo. Excelente meu caro. — Bati palmas, no instante que a carta cravou na área mais externa do alvo, levantando em seguida, brincando com as cartas em minhas mãos. E vou te falar, talvez quem visse de fora tivesse a impressão de que eu sabia o que estava fazendo, quando na verdade…

    Bom, digamos apenas que busquei manter da forma mais bela possível a carta entre meus dedos, enquanto me posicionava meio que de lado para o alvo. O braço ia para frente para trás, juntamente com o tronco, enquanto buscava mirar, ignorando a visão já levemente turva por conta das bebidas.

    E somente quando encontrei o mínimo equilíbrio, e os vários alvos transparentes se uniram a um central, foi que permiti abrir os dedos. Uma péssima escolha, visto que busquei apenas arremessar da mais bela forma possível… embora não fizesse a menor ideia do que é que eu estava fazendo.

    Inclusive, a falta de prática se revelou para lá de óbvia, pois veja só, minha corta apenas arranhou por fora e de raspão o alvo, sequer conseguindo marcar um mísero ponto.

    — Isso só pode ser brincadeira. — Foi tudo o que disse, ao revirar os olhos, antes de buscar as duas cervejas de perdedora sobre o balcão, virando-as em uma golada só. E dessa vez não fui eu a cortes. Em vez disso, logo reassumi a posição marcada para os arremessos, envolvedno outras quatro cartas, arremessando-as em sequências... enquanto descia sempre um ou dois canecos entre cada arremesso. E talvez fosse a competitividade, ou então a frustração trouxe um pouco de sobriedade, ou eu apenas não estivesse bêbado o bastante antes. Fosse qual fosse a razão, o resultado havia dado certo.

    Sem me preocupar tanto com a beleza, mirando na região central, consegui fazer com que duas cartas quase marcassem a máxima pontuação, e uma delas atingir o segundo círculo de fora para dentro. De modo a totalizar 60 pontos.

    Quanto a última, não vamos falar sobre esse assunto, apenas fingimos que ela nunca existiu.

    — Agora é a sua vez, grandão. — Foi tudo o que disse, após soltar um suspiro e dar uma piscadela para o meio-anão, ajustando os fios rosados que caiam sobre minha face para o lado. Àquela altura já me encontrava levemente tonta, de modo que as penas danificadas pela história já se embaralhavam... por sorte o balcão não se encontrava tão distante assim.


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