O retorno para casa foi tranquilo, conforme o vilarejo resolvia seus próprios problemas a respeito dos dois magos de Arzallum. Após retornar para o vilarejo que havia pedido à mim e Sunna para salvar os vilarejos próximos de um fim similar ao lugar mais próximo, onde residiam seus familiares e amigos, a coronel e eu retornamos para a filial Chamarcana, onde nos foi possível utilizar do teleportador.

Em questão de poucas horas, já estávamos de volta em Dawhan. Sunna foi atrás de Meera, em seu escritório, para fazer o relatório da missão e assim concluir aquilo de uma vez. Diferente da superiora, eu já havia sido liberado — pela própria, claro. Com nada mais que uma saudação militar ainda engessada em meus costumes, me despedi e caminhei até os lavatórios.

Os espelhos refletiam olhos cansados e repletos de olheiras profundas, com sangue azul presente por toda a veste, mãos e até mesmo alguns respingos na face. A torneira era aberta com dificuldade, permitindo que a água escorresse pelos dedos finos, levando o líquido anil embora. Conforme mais lembrava do ocorrido, mais as mãos tremiam e tremiam, até que um soco foi desferido contra o vidro, estilhaçando-o por inteiro.

Abandonei a pia, decidindo que um banho seria mais rápido e mais agradável. As roupas sujas foram postas em um cesto especial, onde alguns membros da Ordem faziam questão de reunir os trajes sujos de sangue e deixá-los novos em folha com algum tipo de magia especial. A água um tanto gelada caia sobre o corpo suado e sujo, sentado no chão do chuveiro para apenas esperar que os problemas fossem varridos pelo frio.

[...]

Me sentia mais limpo, ainda que lembrasse vividamente das palavras do homúnculo — de seu pedido de libertação — tornando difícil caminhar de cabeça erguida. Apenas da luta ter sido rápida, havia usado os cristais de irlatino em minhas veias, deixando-as marcadas com as marcas de queimadura. A energia retornaria com o tempo, permitindo que me recuperasse com algumas técnicas medicinais, mas sabia que se me alimentasse direito as coisas seriam mais rápidas.

Entrei no refeitório com um claro olhar de cansaço, o que fez apenas os sussurros e cochichos se espalhassem pelo ar. Alguns membros observadores da ordem sabiam que havia acabado de voltar de uma missão, então faziam questão de dizer o incrível bem que a ordem fazia pelos outros, sem sequer saber como é a sensação de tirar um vida com as próprias mãos. A raiva crescia tanto em meu âmago, que gritar e questioná-los se teriam o necessário para a tarefa era quase um ato automático, mas a razão prevaleceu.

Beth me serviu bem, colocando um pouco além do habitual. Algo na jovem moça parecia entender o que se passava em meus cérebros, sentindo talvez compaixão ou empatia. Eu a agradeci e sentei em uma mesa livre, totalmente vazia, para apenas comer em paz, antes de retornar para meu quarto e dormir por talvez cinco dias seguidos.

Considerações: