A garrafa foi entornada mais uma vez — a última, uma vez que o líquido âmbar que ali havia, tinha acabado. Mareena colocou o objeto sobre a mesa com uma força desnecessária, que fez com que seu fundo se partisse em vários pedacinhos. — Ai, porra! — Praguejou, olhando a bagunça que tinha feito. Pensou em limpar tudo, o resquício de uma vida de servidão vindo à tona, porém, balançou a cabeça, em negação. — Na-na-ni-na-não. Você não faz mais isso.

Se levantou com dificuldade; não apenas por estar podre de bêbada, mas, também, por causa do curativo em seu olho, que afetava seu equilíbrio. Se perguntava quando iria poder tirar aquela porcaria que a atrapalhava tanto, mas, depois de Sebastian dizer que ela tinha ficado com uma cicatriz ridiculamente grande, não estava mais tão animada para se livrar das bandagens.

Tateando pela parede, conseguiu alcançar a porta de seu quarto. Estava numa pequena estalagem, enquanto Sebastian fazia… Coisas que homens do mar deveriam fazer. Mareena não se interessava muito pelo o que seu ilustríssimo companheiro fazia. Na verdade, se fosse por sua vontade, tampouco seriam companheiros. Que vida miserável, gostava de murmurar quando estava na presença do homem, apenas para lembrá-lo o quão desgostava de sua presença.

Ela deixou seu quarto, e continuou se esgueirando grosseiramente pelas paredes, até alcançar a saída. O condado de Brume a lembrava de sua terra natal, o que era ainda pior do que ter que viajar com Sebastian. Aquelas ruas soturnas e lúgubres… Se fechasse os olhos, poderia ouvir a voz de seus antigos senhores a chamando. Portanto, tratou de mantê-los bem abertos, enquanto praticamente se arrastava, em busca de uma taverna.

Passou por um par de ruas até tropeçar em uma mais escura; a entrada de um beco. Usou a mão para aparar a queda, segurando-se na parede de madeira. Aquele era o fundo de uma casa e, como Mareena perceberia com facilidade, o beco era formado por fundos de várias outras casas, transformando-o em um quinta comunitário. Há alguns metros dela, havia uma criança brincando com alguns trapos de panos, na frente do que deveria ser o seu barraco.

Imediatamente, sua embriaguez deu espaço para algo muito mais forte. Algo muito mais… Intrínseco. Uma força tão desgraçada recaiu sobre ela que, Mareena não teve outra reação se não a de dar um passo na direção daquela criança. Sua garganta coçou, seca. E Mareena deu outro passo, mais rápido. Entendeu o que sentia: fome. E, aquela maldita criança parecia um leitão aos seus olhos. Deu um terceiro passo, muito mais afoito, e teria dado quantos passos fossem necessários até se aproximar da criança, se não fosse alguém segurando-a pelo braço.