• Azor Hokar, o deus da destruição, o senhor da consumação, retornou. Reencarnado no mês de Era, em 329, no Império Corrompido de Aronian. Enquanto o continente dos heróis, Samaria, está mergulhado em guerras e conflitos territoriais e políticos, Hokar reúne suas forças para trazer por fim sua vingança sobre toda a Criação – E por sua trágica derrota na Era dos Deuses.

    Enquanto isso, Mahoro Trakarhin, o rei dos imortais e guardião do Criador, prepara os reis e tenta apaziguar as guerras de Samaria para que possam olhar para o verdadeiro perigo que reside ao norte, no Império Aroniano.

    Não se renda ao temor que Azor Hokar representa e todo o mal que ele ameaça trazer. Una forças com o lado que melhor te convier e participe dessa aventura épica!
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    As Crônicas de Samaria :: Ducado de Wymare :: Condado de Ashvall

    Quinn
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    Madame Belleguarde
    — Mês/Ano: 324E.R - Amy
    — Pessoas envolvidas: Anne E Quinn
    — Localidade: Condado de Asvall
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    Quinn
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    Suas viagens diplomáticas pelos territórios de Vaanalt foram focadas em realizar acordos, prestar apoio e rever alguns companheiros antigos. Vestia-se de toda a formalidade  cordialidade possível nesses eventos, era algo que ele mesmo deveria fazer, por mais que fosse necessário que Darya realizasse tais encontros, ela não tinha a estrutura necessária para lidar com a crise que havia pelo reino.na verdade, a crise estava passando, logo, deixaria de exercer esse lado da política e poderia voltar ao seu propósito. No Ducado de Wymare, a qual estava a fazer o seu trabalho, havia passado alguns dias na fortaleza imponente do duque. Realizando acordos, revendo o velho amigo e jogando um papo fora. Pegaria conselhos, se fosse possível, aprenderia um pouco mais da estrutura militar para empregar em Vaneel. Após ter aquele encontro com Garad, seu destino seria Ashvall. Quinn nutria a necessidade de ver duas pessoas, a condessa de Belleguarde e um amigo de tempos antigos, o capitão da guarda Liev.

    O condado era um tanto quanto perigoso para ir pelo motivo mais podre possível, no entanto, não havia tanto temor em seu coração. Talvez devesse, mas era ousado o suficiente para manter a postura de conselheiro e a cara de pau necessária para ir até lá. Por sorte que deveria encontrar Liev no caminho. Havia notificado, via cartas, que em poucos dias estaria chegando até a fortaleza para resolver inúmeros problemas. Em sua mente, matutando ideias e maquinando argumentos, fazer os acordos poderia ser fácil, mas de certa forma, receou por um breve momento. O motivo era simples. Não queria vincular Vaneel e nem Muriel naquele lugar. Sentia que Ashvall era mergulhada nas intenções diabólicas da avó de Anne. Seus estômago reverberam à medida que adentrava os campos e estradas do condado.

    Não tardou para ver, ao longe, vestindo uma armadura típica dos soldados locais, Liev com alguns de seus homens aguardando Quinn. O conselheiro abriu um sorriso, com um trote lento, e ficou próximo ao capitão da guarda saudando-o cordialmente. Vestia-se com a sua boa e velha farda, sem muitos adereços e portando apenas o símbolo de muriel, mas dessa vez, usava também uma autorização de Garad para viajar até lá.

    ── A quanto tempo, velho amigo ── Não havia necessidade de ser formal, afinal, eram ambos colegas, não eram nem nobres, o que facilitava a conversa
    ── Desde 320 ou 323. Faz uns anos mesmo. Não pude ir na coroação, mas sei que tu estavas lá
    ── Assim como tu foi promovido a capitão da guarda, eu fui promovido a conselheiro ──  mostrou o broche que estava no seu peitoral direito ── Agora estou a fazer viagens de cunho diplomático e político. Como tens passado?
    ── Treinando arduamente desde aquela fatalidade ── O capitão parecia ter comentado algo delicado, era nítido o seu olhar ── Ouvi dizer que suas terras foram bastante afetadas. Como estão as coisas por lá?
    ── Estamos lidando, aos poucos, arrumando as arestas e pedindo a Uno por um pouco de proteção ── Quinn sentia o peso daquele ataque, pois aqueles que haviam adotado, de forma indireta, padeceram por aquela fatalidade. Desde então, dividiu-se em ajudar Darya e sua irmã para não serem esmagadas e engolidas pela podridão da alta classe. Havia jurado ao antigo duque que serviria bem a família, de fato, estava servindo nas sombras ── Estava onde quando tudo ocorreu? ──  Indagou com a intenção de desviar seus pensamentos enegrecidos pela calamidade
    ── Eu ajudei civis, não estive em contato direto, graças a Uno eu pude ajudar muitas pessoas ── Em um brve sinal, a pequena caravana começou a ir para o castelo ── Tu estavas por onde?

    Aquele era um assunto delicado. Não estava onde gostaria de estar. Sua expressão, vestida de um semblante mais quieto, revelaria que o assunto era extremamente delicado, o que fez Liev mudar de assunto e seguir viagem. Conversaram inúmeras baboseiras, mas ao chegar na fortaleza, foram guiados aos estábulos. O capitão da guarda faria a ponte para falar com a condessa do local, mas antes disso, não pôde deixar a robustez daquele cenário. Cada detalhe daquele condado era rico em militarismo. A forma como a fortaleza foi construída o deixou um tanto quanto apreensivo. Parecia impenetrável. Nenhum exército conseguiria chegar ali, ao menos era o que julgava ser. No fim, tendo colocado seus cavalos nos estábulos sob as ordens de Liev, tratou de ajustar sua farda, retirando a poeira que havia acumulado e tratou de ajeitar seu penteado. Curiosamente, usava um longa trança elegante, diferente dos cortes padrões daquele território.

    ── Vejo que deixou o cabelo crescer. Desde quando se tornou vaidoso?
    ── Desde que me vi forçado a ser conselheiro. A aparência conta muito em certas reuniões, inclusive, engana quem julga que sou desprovido de habilidades ── Abriu um singelo sorriso enquanto adentrava, pelo corredores da lateral da fortaleza, sendo guiado até a área central onde deveria aguardar ser chamado
    ── Silêncio! Tu só sabe lutar com magia, acha que engana quem? ── O amigo retribui o riso ── Se quiser apanhar como no seu primeiro ano, venha para o treino com minhas tropas, vai matar saudade
    ── Hei de dispensar amigo! Adoro meu rosto do jeito que ele é

    Em meio a risos e piadas, o capitão da guarda solicitou que Quinn aguardasse até ele chamar o conde, ou alguém que pudesse atendê-lo em sua ausência. todavia, caso demorasse, dormir ali seria a única opção. De fato odiaria, não gostava muito, mas era necessário, pois não gostava de se mover à noite naqueles condados.

    NOTAS

    — Ross
    Quinn
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    Anne Belleguarde
    Condessa
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    :shark:

    Entre todos os lugares do mundo, Ashvall estava entre os mais detestáveis. Era como adentrar as entranhas do Kraken. O ambiente era tóxico, baseado em uma estrutura militarista que era intimidadora. Suas paredes eram frias, duras, com pouquíssimo revestimento e refinamento de qualquer coisa. Uma vez, um dos nobres lhe dissera que aquele não era um castelo feito para durar, mas para queimar. Os homens de Ashvall erguiam estruturas para resistir ao terror além-domo e nada mais. Seus corpos eram dedicados àquele princípio, suas mentes dedicadas ao conhecimento sobre combate e seus espíritos modelados ao redor da vontade de lutar.

    Tudo ali orbitava a guerra e mesmo alguns homens abandonavam os ensinamentos da filosofia e das histórias para se dedicar unicamente ao trato militar. Era o tipo de coisa que tornava aquele lugar pobre em artes e rico em carrancas.

    Anne passava uma boa parte do tempo na janela de seu quarto. Observando a paisagem plana ao redor. Uma fortaleza alta, feita para observar, na qual ventava forte e era possível ver uma pradaria sem fim de grama ressequida. O outono agora se aproximava de seu fim, seguindo seu curso rumo ao inverno. Anne não se importava tanto com o frio naquela época, usava apenas um vestido comum de mangas longas, com uma pele que lhe descia pelos ombros para proteger do frio. Sobre sua cabeça, uma rede de cabelos com pedras de ametista, presente de seu prometido. Naquele dia, estava de branco, como uma jovem virginal a espera de seu príncipe.

    Cansada do livro que estava lendo, deixou-o aberto sobre a cama, enquanto suspirava fitando o horizonte. Ouviu algumas batidas na porta, que a assustaram.

    — Milady, há um enviado da Casa Muriel no pátio. Sir Edgar solicita sua presença. — A voz de uma mulher soou no corredor.

    Anne deixou escapar um suspiro e enterrou seu rosto nos braços. Quem poderia ser que tivesse vindo discutir o que quer que fosse? Será que ninguém poderia ficar um dia sem reuniões políticas? Apenas assistir a paisagem da janela e descansar? Aparentemente, sua presença era necessária. Aquele era um dos caprichos de Edgar, a necessidade de exibi-la para cada homem que surgia em seu pátio. Um prenúncio de como seria sua vida.

    — Milady?

    — Já estou indo! — Exclamou, erguendo-se de supetão e se apressando para verificar sua imagem em um espelho. Em seguida, seguiu a aia rumo ao pátio.

    Naquele dia, seu vestido branco era muito mais simples do que poderia parecer. Era feito de apenas duas camadas de vestes, uma de algodão e renda e a de cima feita de musselina cintilante. Além dela, usava apenas mais uma anágua para dar volume ao seu quadril. Era quase como usar dois vestidos em um só, pois o de cima seria plenamente capaz de cumprir a tarefa. No entanto, estava frio e a cobertura de lã era importante para ela, enquanto o de fora lhe parecia mais visual. A pele de marta ao redor dos ombros lhe protegida do frio mais intenso e combinava com a rede de ametistas sobre sua cabeça.

    Chegando ao pátio, Edgar já estava a sua espera. Anne corou ao ver quem estava ali esperando por ela. Era Quinn, com seus olhos argutos, cabelos longos e seu rosto feminino sempre tão atraente para ela. Ela não esperava vê-lo então pouco tempo e de certa forma, torceu para que ele tivesse esquecido o beijo da última vez que se encontraram. Ela olhou para Edgar e se aproximou, ele estendia a mão para recebê-la.

    Edgar já tinha seus vinte e dois anos. Era alto, quase um metro e noventa de altura, não era tão musculoso, mas tinha um porte altivo. Não usava barba, sendo que sua pele era perfeitamente macia na face. Seus cabelos eram gordurosos, mantidos penteados para o lado. Tinha um queixo forte, que diziam ter herdado do pai, outrora exímio guerreiro. Tinha olhos verdes e muito profundos, demoravam-se em tudo que ele olhava, como se tudo estivesse sendo escrutinado. A condessa podia ver a mão dele estendia ostentar calos de tanto manejar o tridente.

    Ela pegou a mão dele e ele rapidamente a beijou nos lábios. O beijo foi curto e Anne se afastou dele um pouco sobressaltada. Não era o procedimento correto expressar beijos na frente de convidados, mas Edgar queria exibi-la para aquele rapaz sem sobrenome. Ela se sentiu um pouco envergonhada por aquilo e abaixou os olhos. O herdeiro de Ashvall queria que Quinn soubesse que Anne era linda e que era o tipo de mulher que ele nunca poderia ter, por ser de uma casta inferior. Edgar era um homem de grande inteligência, mesmo que fosse de natureza reclusa, ele atuava como se todo aquele cenário fosse perfeito para ele. Tudo ali era ideal para ele. Gostava do jogo político.

    — Anne, minha querida, deixe-me te apresentar a Quinn. Conselheiro de Darya. Você já o conhece? — Edgar perguntou, seus olhos inquisitivos pousados sobre o conselheiro.

    — Apenas de vista. — Mentiu e fez sua saudação. — Bem vindo, senhor Quinn.

    Edgar deu um breve riso.

    — Sempre lisonjeira. Não se preocupe em chamá-lo de senhor. Quinn não é senhor de nada. Ele é um servo de Darya. — O herdeiro de Ashvall interrompeu e estendeu um sorriso simpático para Quinn. — Perdoe-a. Ela sempre exagera nos pronomes.

    O nobre então fez um sinal para que Quinn assumisse uma posição ao lado dele. Caminhando pelo pátio até a parte interna do palácio.

    — Temo que não há muita gente no castelo hoje para diverti-lo, Quinn. Estamos em meio ao Krig'an'haz, os Jogos de Guerra de Ashvall. Lá está minha mãe e a maioria dos oficiais do condado. Por isso, acredito que terá que esperar até amanhã, quando estarão de volta. Mas me diga, como está a grande duquesa de Muriel? Qual o motivo de sua visita?



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    Anne Belleguarde
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    O clima era agradável, mesmo em um local tão desprovido de sentimentos e beleza. Se havia algo que sentiu falta, enquanto aguardava de forma paciente o responsável pela casa Ashvall, seria as flores e quadros que tornavam o palácio de Muriel algo um pouco mais agradável. Era algo belo que permitia apreciar a estadia, o ambiente acolhia o convidado como se fosse seu próprio lar. Cada pintura, flor, escultura, fora posto para dar um toque visual a história do próprio ducado. Tais elementos eram inexistentes ali, tudo o que via, o que poderia compreender, era a quantidade exacerbada de militarismo. Parece que tudo o que viveram era a guerra. Nada ali era interessante, nada lhe fazia sentir-se acolhido. Uno estaria contente com aquele tipo de prática? Quinn tinha lá suas duvidas, não lembrava dos templos de Uno serem tão ornamentados com armaduras e ser desprovido de cores. A espera lhe deixava um pouco impaciente, desejava ter com o responsável, fazer o que Darya havia lhe solicitado e, o quanto antes, cavalgar para qualquer lugar. Talvez fosse passar por Wymare novamente, no entanto, pensava que o melhor seria retornar ao seu próprio lar.

    Em meio a conversas sérias com Liev, pôde perceber que Edgar, aquele a qual era o herdeiro daquela casa, a forma imponente de andar, o nariz empinado, foi o suficiente para compreender o que seu colega havia dito minutos antes. Um homem orgulhoso e ligeiramente arrogante. Seu dia estava ruim, talvez pior do que o aparecimento do Kraken. Aquele era o pior tipo de nobre a qual tinha que lidar. O conselheiro de Darya teria que vestir uma de suas mascaras e agir na via oposta do que costumava fazer diante de Kadrin, ou até mesmo Garad. Aquele rapaz, sorridente, as vezes ousado e mal educado, fora substituído por algo plástico, um boneco de ventríloquo comandado pela ética e moral aprendida na universidade. As aulas de teatro lhe cairiam bem, as meditações e respirações militares aprendidas com Isla seria o que lhe colocaria sob as rédeas certas.

    Não estando desagradado o suficiente após as formalidades, o sujeito havia feito algo a qual o conselheiro não era muito adepto. A forma como exibia Anne, tentando mostrar um troféu, uma conquista de alto valor, lhe reverberou seu amago. Odiava essa parte da nobreza, talvez não pelo fato de ser uma jogada política muito boa, não podia negar que isso era importante para garantir o futuro de uma casa, mas a forma como perdiam tempo em futilidades, ou o jeito que privavam a liberdade de alguém, era o que lhe dava nos nervos. Todavia existia um limite a qual poderia envolver-se, desde que sujeitos assim ficassem longe de Muriel, as coisa poderiam ocorrer bem. Aquela atitude o fez reverberar se seria válido, ou não, criar um acordo. O dilema foi posto à mesa.

    Anne, bela como sempre, com seus vestidos cintilantes feitos sob medida pelos melhores costureiros do reino, parecia não pertencer ao local. Não era o tipo de garota que costumava frequentar fortalezas militares e uma cultura tão desprovido de cores. Que irônico Quinn pensar dessa forma, pois passou meses planejando uma imponente fortaleza apenas para ocultar algo dos demais. A realçada cintura lhe fez reverberar a memória de um episódio passado a qual ajudou a condessa a vestira mis de sete camadas de vestido. Sentiu na mão, a pele macia e o doce aroma que emanava de seus fios ao serem escovados pelo conselheiro. Lembrou-se da desenvoltura do pescoço, a qual de forma convidativa, o levava a desejar percorrer toda extensão com seus lábios. A imagem foi desfeita quando Edgar o apresentou.

    ── Milady! ── Realizou as formalidades e cumprimentos respeitando o costume a risca. Queria poder tecer um elogio, uma frase de um poema, mas o que um sem sobrenome poderia fazer diante uma situação como aquela? Desejou, por um breve segundo, ter nascido como herdeiro de um Ducado. A interrupção, a qual tinha por propósito constrangê-lo, deixou Liev um pouco apreensivo. O capitão da guarda escondeu seu descontentamento. Apenas ficou como um bom soldado, ao lado, ouvindo e servindo no que fosse necessário. O colega nutria um sentimento de compaixão, por não era adepto ao comportamento, mas também não possuía poder algum sobre aquela situação.

    ── Não se preocupe! ── Disse cordialmente com a postura de servo, evitando olhar diretamente para Anne. Quinn na verdade olhava, com expressão neutra, para as sobrancelhas do homem, para causar a impressão de que o olhava nos olhos, quanto na verdade, usava essa técnica apenas para esconder o que de fato pensava. A vida politica lhe ensinava truques como esse. Truques que lhe permitia sobreviver a situações complicadas de negociação. suas falácias, acerca de um evento de guerra que perduraria até o dia seguinte, lhe fizeram lamentar por ter que ficar tempo demais ali. Em uma expressão desprovida de sentimentos, limitou-se a dizer o básico

    ── Senhor, com sua permissão, poderei esperar até o dia seguinte, pois temo que a festividade deva ser prioridade. A senhorita Darya se mantem firme, esta conseguindo administrar as terras que meu antigo senhor a deixou. Que Uno o tenha. Padeceu em nome dessa nação! ── Quinn, em uma ato fúnebre, por realmente gostar dos pais da duquesa, beijou o broche de Muriel que sempre trazia consigo em seu peitoral direito. Poucos segundos depois, tornando a olhar para o rapaz, vociferou ── A visita deveria ter sido feita pela minha senhorita, mas os afazeres tomaram seu tempo de forma avassaladora, e como não é prudente deslocar-se entre os territórios, assumi o risco como um bom servo para trazer os ofícios assinados por ela. Sei que é um assunto insuportável, mas são tratados comerciais simples a qual tem, por objetivo, fortalecer os laços ── Manteve sua postura enquanto aguardava aquele sujeito falar. Mas antes, mostrou, um oficio a qual tinha, por assinatura, o herdeiro do ducado. Aquele era um selo de segurança. Ao menos Quinn tinha, em tese, uma benção dada por alguém superior a Edgar

    ── Quanto a estadia de Quinn, meu senhor, se me permitires, posso prepara um alojamento para ele e os homens de Muriel. Lembro de que vieram direto da fortaleza de Wymare ── Liev tentaria proteger, de forma sutil, o companheiro a qual nutria uma amizade de alguns anos. Era notório que ele fazia sem desrespeitar seu superior.  



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    :shark:

    Um frio seco percorria os túneis e corredores do castelo. Esfriavam o ambiente e davam aquela aparência fantasmagórica, fazendo com que as chamas nas lamparinas se movessem. O caminho bruxuleante a frente mostrava o pouco apego por qualquer coisa para ser admirada. Pelo caminho, homens vestidos em armaduras e com grandes alabardas protegiam os corredores. Todos eles tinham sua aparência mais séria, demonstrando um profundo respeito e lealdade pelo herdeiro de Ashvall. Eles protegiam determinados pontos importantes do pátio, mas mesmo no interior dos corredores seu número era o menor que o comum. Muitos deles haviam sido atraídos pelos jogos, sendo que em uma planície não tão longe de lá, deveria haver um exército inteiro daqueles homens praticando combate.

    Toda uma vida dedicada a arte da guerra. A arte de destruir e exterminar. A condessa não conseguia compreender como aquilo era algo pelo qual um ser humano gostaria de viver.

    Edgar mantinha um rosto impassível, temperado com um cínico sorriso para aquele conselheiro. Talvez, houvesse algo nele que havia construído alguma antipatia para com Quinn, fossem seus traços femininos ou apenas sua posição social. Muito provavelmente, aquele nobre sabia que Quinn tinha um lado de si que era obscuro e ambicioso. Anne já estava se acostumando com aquele comportamento, já que Edgar não deixava que nenhum outro homem crescesse em seu espaço, sempre pronto para diminuí-los em prol de ampliar a forma como se sentia mais forte. Era em parte devido ao fato de sempre ter sido bem-sucedido. Edgar era um combatente exemplar, um intelectual para a matemática e ciências da engenharia militar, além de ser muito famoso entre as mulheres de seu condado. Sua soberba era não apenas sua fraqueza, mas também sua arma pela qual ele feria os outros ao redor.

    — Você os acha insuportáveis? — Edgar indagou erguendo uma de suas sobrancelhas. Imediatamente, Quinn saberia que estava sendo julgado. — Eu gosto dos assuntos de estado. Assim como, espero eu, todos os conselheiros de Ashvall. — Ele disse, seguido de um ruído que parecia um riso contido na garganta. — Diga a sua senhora que aprecio muito o envio de tais ofícios e que terei grande prazer em analisá-los. No entanto, quanto a estreitar os laços, tenho certeza que poderemos fazer isso de maneira mais apropriada quando eu for visitá-la no próximo mês. — O nobre falou e Anne apenas se resignou. O duplo sentido naquela frase, apesar de muito sutil, era algo que mesmo ela conseguira captar. Ele se voltou para Anne logo em seguida. — Lá em Muriel as pessoas são muito letradas, não? Como em Merth?

    Anne apenas assentiu com a cabeça. Não queria falar nada ou dar a ele mais munição para tripudiar sobre Quinn. Ela gostava do conselheiro de Darya, um pouco mais do que ela admitiria. Ele ficava bonito de farda, mas ela sempre se perguntou como teria sido se tivesse oportunidade de colocar um vestido nele naquele dia em que se encontraram nos aposentos da rainha. Era um pensamento um pouco perigoso e a fazia ruborizar, então ela o manteve longe de sua mente.

    — Venha, Quinn. — O nobre ordenou, seus passos calculados guiaram ambos pela fortaleza, até que tivessem chegado adiante de duas grandes portas de carvalho envernizado. Ele abriu as portas, revelando uma bela biblioteca, com algumas dezenas de prateleiras de madeira escura e milhares de livros. Quinn não devia conhecer o suficiente sobre os Ashvall para entender o que aquilo significava, mas Anne sim e apesar de gostar do ambiente da biblioteca, ela suspirou ao notar as intenções de seu prometido. — Essa é nossa biblioteca. Não é tão vasta, mas muito rica em exemplares antigos. Sua senhora tem alguma preferência? Posso conseguir para ela um livro.

    A verdade é que dez anos antes a mãe de Edgar e a condessa de Merth disputaram para quem conseguia mais livros. O conflito quase escalonou para uma guerra aberta, mas a mediação do duque de Wymare os conteve. Desde, então, a biblioteca era um ambiente pouquíssimo frequentado. Nenhum guarda se importava de proteger aqueles livros e nem mesmo havia um bibliotecário decente para cuidar do lugar. O único que trabalhava ali era um senhor idoso que abria e fechava a biblioteca todas as manhãs e todas as noites. Havia uma lareira, alguns sofás de leitura, algumas mesas espalhadas e o chão completamente recoberto de carpete. Diante da lareira, três sofás se posicionavam como em um quadrado, com uma grande mesa de centro feita de mogno. Edgar acendeu a lareira antes de se sentar no sofá do centro, de frente para o fogo.

    Anne se acomodou, sentando com seus joelhos apertados um contra o outro.

    — Minha querida, pegue uma bebida para o convidado. — O nobre falou, apontando com a mão para uma mesa colocada em um local lateral. — Gosta de uísque, Quinn? — Ele se voltou para o conselheiro, antes de novamente se voltar para a garota que se levantava. — Traga a garrafa logo. Será meu presente para Quinn, pelos bons tempos da faculdade. Você sempre me pareceu um homem apegado a bebida. — Ele disse com um sorriso e então, projetou seu corpo para frente, apoiando os cotovelos nos ombros e olhando como um predador. — Então, Quinn, está com os ofícios aí? Pode detalhar os assuntos, por favor? Claro, caso não seja insuportável demais. De qualquer forma eu posso ler.






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    Quinn
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    A forma como aquele homem desprezava a Quinn, e também Liev, deixou um tanto quanto amargo. O temperamento cínico e o sorriso estampado em seu rosto tornava aquele ambiente cada vez mais desprezível. Se segurava para manter focado ao máximo, sem deixar de transparecer algumas coisas. Seu olhar, de forma sorrateira, recaia sobre Anne, lembrando o beijo acalorado a qual ela havia dado antes de partir. Teve que se controlar para memórias mais obscuras tomassem seu coração junto a desejos carnais que levantassem suspeitas. Limpou a garganta para corrigir algo acerca das insuportáveis reuniões politicas

    ── Milord. Permita-me ajustar minha frase. Não é que a vida politica seja insuportável, na verdade, há quem goste e quem não goste. Costumo me adequo ao que for necessário ── Mentia de forma discreta, Edgar não era o único instruído na alta classe. Quinn também foi, mas tinha um diferencia, em termos de castas, o conselheiro era um rato. Sabia sobreviver em meio ao lixo pútrido que residia em certas áreas de Ganalt. Sua simpatia estava sendo levada ao extremo, mas por sorte, continha-se graças a Anne que, ali, tão oprimida, despertava o desejo de livra-la das mãos daquele sujeito.

    ── Se Milord deseja ir pessoalmente, aconselho ir no final do mês, com sorte, poderá desfrutar a melhor paisagem daquela terra ── Queria poder dizer: Você não ouse chegar perto daquele palácio. Não és bem vindo ali.

    Seguiu de forma incontestável, o ambiente do castelo o sufocava a ponto de pressionar os pulmões deixando-os sem ar. Sentia-se como um cordeirinho cevado em uma semana de comemorações. Sua farda parecia ser a de inverno com o peso que sentia sob seus ombros. Desviava o olhar de Anne, apesar de desejar admirar o rosto simétrico a qual possuía. Lábios eram convidativos e seu olhar azul como o mar. Sentia vontade de ler poemas quando a via, esse sentimento cresceu com um tempo, principalmente das vezes que a via distante. Talvez achava que ela fosse uma boa garota a qual não merecia estar naquela situação. A podridão que espreitava as sociedades poderia correr ela, principalmente pessoas com Edgar que vestiam da mais bela capa de prepotência e arrogância. Ele era herdeiro de um condado. Como este homem poderia conversar, de igual para igual, com Darya? Sequer era digno de ter a reunião, ele não era o dono de Ashvall. Quinn nutria um sentimento de aversão ao rapaz que era um ou dois anos mais novo.

    Observou aquele grande salão, rico em livros e uma arquitetura invejável. Fingiu esta sendo envolvido pela beleza do local, mas era apenas uma breve admiração focada no conteúdo que ali estava. Rodeou um pouco, visando ver alguns títulos, até ver algo que havia lhe chamado a atenção. Era um conto antigo de ganalt que, por sorte, pôde ler nas aulas da universidade.

    ── Eu lembro desse livro! Águas profundas. É um titulo curioso e arcaico, se me permitir, esse é um dos melhores livros que pude ler enquanto estudava na universidade da capital. Darya não adoraria esses títulos, na verdade, ela gosta de alguns contos simples de romance e teses que abordam floricultura e herbologia. ── Evitou tocar nos livros, mantinha uma distância segura e observava com cuidado para não dar aberturas para ser fuzilado com comentários arrogantes. Uma bebida lhe foi oferecida. Algo que ele não era muito fã, um pouco de Uísque. Claro que adoraria beber, mas não na companhia dele, então, mantendo sua expressão serena, com um bom servo que era, ajustou a postura.

    ── Tem certeza, senhor? Essa garrafa me parece ser de uma qualidade superior ao que me é permitido consumir. Posso parecer uma pessoa inclinada a degustar de um bom destilado, mas como estou aqui m serviço, receio não ser apropriado ── fez uma pausa rápida, pensou com cautela e redigiu ──  Pelos tempos de faculdade e se o senhor desejar, podemos beber um gole. Quanto ao oficio, caso queira resolvê-los diretamente com a Lady Darya quando for viajar até Muriel. ── Pegou alguns documentos e os colocou na mesinha de centro, de forma cuidadosa, em seguida, voltou a dizer ── São tratados comerciais. Impostos baixos para permitir o livre comércio, isso beneficia ambas as terras com mercadorias entre outras coisas, mas como disse, caso desejar ter com a Lady Darya, posso retornar e dizer que o senhor irá pessoalmente ter com ela.

    A conversa era entediante. A alma de Quinn mergulhava na imensidão de sua depressão. Sentia-se desagradado, mas era obrigado a ficar ali. Com os copos posto a mesa, vestindo-se de cordialidade, serviu para Edgar a dose necessária.

    ── Se me permitir, gostaria de servir um copo como agradecimento. As teses de guerra que estão arquivadas na universidade de Ganalt são interessante, muitas delas me permitiram conseguir boas notas. Devo muito de minha formação a esse conhecimento a qual o senhor contribuiu. ── Quinn sabia que elogiar os trabalhos acadêmicos era o mesmo que colocar uma pessoa no pódio. Dizer que o conhecimento dele lhe ajudou muito em seus trabalhos era o equivalente a dizer que, por ser de casta superior, Quinn foi salvo pela sabedoria superior da casa Ashvall

    NOTAS

    — Ross
    Quinn
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    Anne Belleguarde
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    :shark:

    Anne não se incomodava de ter que fazer qualquer tarefa. Serviria a própria comida, serviria as próprias bebidas e faria todas as coisas que precisasse para si. O que ela não entendia, é porque outras pessoas não queriam fazer as coisas para si mesmo. No fim, ela era obrigada a atender os protocolos sociais que diziam que deveria aguardar ser servida, que os outros deveriam obedecer suas ordens e coisas do gênero. Por saber de tais protocolos, Edgar pedir para que ela buscasse as bebidas deixava claro pra ela que naquela reunião ela era a menos importante. Era de fato apenas o enfeite que adornava a presença de seu prometido. Era como se sentia e isso a deixava enfastiada.

    Chegou até a mesa onde estava o uísque. Uma garrafa transparente com o líquido âmbar. Pegou um copo e serviu uma dose tripla para si mesma. Olhou para aquele líquido refletindo a luz bruxuleante da lareira, enquanto os homens discutiam algum assunto comercial qualquer. Ela bebeu tudo de uma vez, em um único gole e teve que se segurar para não regurgitar logo em seguida. Tampou a boca com as costas da mão, prendeu a respiração por alguns momentos e voltou a respirar lentamente. Ela ia precisar do álcool para tolerar tudo aquilo que vinha pela frente, mas quando foi levar a bebida, apenas levou dois copos: um para Edgar, outro para Quinn. Sabia que não seria bem visto que uma dama bebesse na frente de um convidado, principalmente uma bebida tão forte.

    Ela deixou a garrafa sobre a mesa e os dois copos diante dos homens. Então, voltou a sentar no sofá oposto ao de Quinn, sentando-se ligeiramente de lado, fitando a lareira e atuando seu desinteresse pelos assuntos masculinos. Conseguia depreender um certo tom excessivamente cordial nas palavras de Quinn. Não o vira tão falante na proximidade da rainha. Talvez ele entendesse as indiretas que Edgar enviava para ele e tentasse responder a altura.

    — Não se preocupe Quinn, até mesmo os homens comuns devem experimentar algo de qualidade superior de vez em quando. Assim como eu, tenho gosto por coisas mais simples também. — O nobre respondeu a hesitação de Quinn com uma confiança gigantesca. — Beba um pouco comigo. Claro, este será apenas um pequeno prazer. Caso queira algo a mais, Ashvall possui alguns bons rapazes na cidade baixa, que não cobram muito caro e creio que poderá ter uma noite divertida. Os homens de Ashvall tem uma boa fama, acredite. — Edgar disse com um sorriso no rosto. Novamente, impunha um certo ar de superioridade. A verdade é que os homens de Ashvall agradavam-se muito mais da companhia masculina do que a feminina. Homens eram visto como guerreiros natos e aproveitar os corpos uns dos outros era algo que aumentava os laços no exército. — Bem, pode passar a noite no castelo, também, caso queira. Tenho um aposento que pode ser mais agradável do que os demais que serão cedidos para sua comitiva. Sou um anfitrião melhor do que o que parece e quero que Darya saiba pela boca de seu conselheiro.

    Anne sentiu a bebida quase retornar para sua garganta, queimando-lhe. Observar aquele seu prometido dar em cima de Quinn diante dela a deixava enjoada. Nem tanto por Edgar, mas mais pelo outro garoto. Anne gostava de Quinn, talvez estivesse negando isso a si mesma, mas ele era intrigante para ela. Tinha um jeito misterioso, os traços femininos que ela tanto gostava e sabia um pouco mais sobre humildade do que a maioria dos homens com quem lhe era permitido ter contato. Irritava-a que havia um risco alto de que Edgar o seduzisse. De que arranjasse para ele um quarto próximo ao dele, para o qual ele iria no meio da noite vestido apenas com um roupão púrpura. Depois daquele dia, Quinn seria de Edgar e por quanto tempo mais? Mesmo após o noivado ou o casamento? Em todas as visitas políticas ela veria aquele rapaz que parecia ser capaz de entendê-la se tornar mais um troféu, preso a pélvis do herdeiro de Ashvall. Não era justo que Edgar tivesse tudo.

    Quando o conselheiro se colocou a elogiar o herdeiro de Ashvall, este sorriu lisonjeado. Ele tomou o copo que lhe foi servido e o bebeu sem grandes cerimônias ou hesitação. Então, serviu um copo para Quinn. Anne agora se sentia ainda mais enjoada, vendo que Quinn correspondia a Edgar. Será que ele também o desejava? Mesmo depois de ela ter lhe oferecido um beijo pouco tempo atrás? Qual era a necessidade de ser tão lisonjeiro com alguém que o estava claramente desprezando? Anne estava confusa. Pouco entendia dos tratado entre os homens, mesmo que conseguisse entender a linguagem oculta dos nobres, sua ingenuidade ainda era construída quanto ao sentimento. Estava sempre tão rodeada por palavras falsas que não entendia até que ponto deveria haver verdade em tudo aquilo.

    Manteve-se plácida, pelo menos, o calor da fogueira iria disfarçar seu rubor pela bebida e pelo constrangimento daquela situação.

    — Você é um rapaz inteligente, Quinn. De fato, aquele trabalho foi muito elogiado e ainda o é, mesmo que já esteja um pouco defasado. Tenho em meu quarto alguns pergaminhos com as novas anotações que fiz, caso queira verificar mais tarde. — Edgar então respirou fundo e se dirigiu aos documentos. — Claro, irei dar uma olhada nos seus ofícios. Não vou fazer essa longa viagem ser a toa. — Ele tomou algumas folhas e as leu tão rápido quanto era humanamente possível. Era de fato um homem genial, capaz de devorar livros enormes em questão de horas. — Consigo analisar que essas porcentagens mantém-se interessantes. Contudo, o arrecadamento é importante para a manutenção do exército. Abaixar algumas dessas porcentagens custaria talvez à vocês erguer barreiras tarifárias para Merth, que são nossos competidores nessa região. Com isso, podemos garantir algum conjunto melhor de ações. Me diga, a atitude de Darya é mais politicamente agressiva ou conservadora?


    NOTAS

    — Ross
    Anne Belleguarde
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    Quinn
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    A cultura de Vaneel, por mais estranha que seja, era ortodoxa demais. As pessoas de lá eram patriotas, recebiam seus treinamentos militares regularmente sempre mantendo um contingente interessante de reservistas em caso de uma nova eventualidade como a de 323. Quinn gostava mais da sua terra do que as terras de Ashvall. Por mais que gostasse de dormir alguém, não era tão degenerado assim. Para ele, deveria ter um contexto. Na faculdade havia perdido com uma garota, uma guerreira, oriunda das terras de Anne que havia padecido pelo ataque de 323. Aquela menina era a sua primeira, na época, eram jovens descobrindo as maravilhas do mundo adulto. As experiência ali foram todas transformadas em pesadelo após a morte de Lizzy. O conselheiro tinha uma queda por ela, era uma moça simples, filha de cavaleiros, nada de nobreza ou coisa do tipo. Foi com ela que aprendeu inúmeras coisas, tal qual a beber e a seduzir. Era nítido que, com a cultura daquele condado, estava entrando em um campo perigoso. A repulsa aflorou em seu coração, não por ser outro homem, mas sim por ser Edgar. ── Em Vaneel, na cidade de Tun'ev, os homens costumam oferecer suas esposas para uma boa noite caso o reconheça a altura ── Pensou em dizer isso. No entanto revelaria o desejo de ter com aquela condessa

    Seus olhos meneavam o liquido no copo, bebericando de leve, olhando de soslaio para o ambiente, quando permitido, olhava a herdeira de Belleguarde. Desceu um gole da bebida. Não podia negar que era de cunho refinado, mas sentia o amargo ínfimo das memórias atreladas ao uísque. Em uma expressão séria, observando o liquido como se fosse um sommelier, disfarçava a memória de Lizzy. Lembrou-se do ano de 317, onde, de forma imprudente, Quinn infiltrou-se no dormitório feminino e bebeu a noite toda. Álcool, fofocas, beijo e a mais pura luxuria. Tudo isso veio a mente quando ingeria aquela bebida. A fatalidade de 323 havia lhe tirado isso, pretendia vê-la, com sorte, casar-se com ela em 326. Esse sempre foi o plano dos dois. Assim iriam servir como simples administradores de uma cidade pequena. Todavia a situação mudou, Quinn subiu na vida, virou conselheiro, mas perdeu aquela a qual havia aberto as portas pra um mundo diferente. Retomou sob si após bebericar novamente e sentir o amargo liquido descer por sua garganta.

    ── A bebida está em um nível que meu paladar pede por mais, no entanto, Lady Darya não quer que eu beba mais do que alguns goles. A visão dela é um pouco mais ortodoxa, e como sou servo a ela, terei que me limitar as ordens dela. ── Ingeriu um pouco mais enquanto ouvia tudo o que lhe dizia, seja sobre homens de Ashvall ou qualquer outra coisa. Não importava mais. A mente de Quinn estava tomada por lembranças que não queria ter. Ele viu, com os próprios olhos, o corpo de Lizzy destroçado. Assim como fez com seus pais, ele deu a ela o que seria o golpe de misericórdia. Perdia ali uma parte de sua inocência. ── Por mais atrativo que seja, não poderei ir a cidade baixa. ── colocou as madeixa de lado revelando o brinco que usava. Um artefato que, na cultura de sua terra, era o que representava uma promessa a alguém. Essa pessoa estava morta, mas mesmo assim, por uma forma de expressar um luto, deixava sempre ali

    ── Acredito que és bem falado, afinal, eu sempre mandava cartas do que acontecia na faculdade. Seu nome foi mencionado quando tive a dadiva de ler suas teses, mas agora, formado, sinto que devo deixar de lado os estudos acadêmicos e dedicar-me a coisa mais práticas. ── Conhecendo bem a sociedade, seu julgamento seria de se esquivar daquele sujeito com falas de um servo leal, como alguém que reconhece seu lugar. O sem sobrenome era alguém muito inteligente no meio acadêmico, mas para evitar pessoas como Edgar, falha propositalmente para deixar de ser percebido. Era um preço a se pagar. Deu a ultima golada no restante de seu copo, por fim, enquanto escutava as falácias acerca de tratado e comercio, observou cautelosamente o copo vazio e pensou ── Esse copo me atrai mais do que qualquer coisa nesse local... ── Lembrou-se do beijo acalorado de Anne, então, ajustado a postura, pensou em dar uma leve desculpa quando terminasse de responder

    ── Há inúmero detalhes que deveriam ser acertados, não só taxas militares, mas como também ceder parte das industrias. Não sei o que é produzido em Merth, não fui designado a resolver a politica daquele território, mas com sorte, posso pensar em algo antes de partir para lá. Quando a Lady Darya, é um pouco dos dois, mas bem conservadora quanto se trata de certos assuntos. Sua posição politica, se eu fosse definir de uma vez por toda, é um pouco agressiva. ── Ergueu-se de forma respeitosa ── Quanto a oferta de um cômodo confortável, terei que recusar, milorde, pois hei de dedicar algumas horas para preparar uma carta e notificar a futura viagem do senhor. Minha duquesa prefere que eu a avise antecipadamente. Também irei dar uma olhada nos pontos que o senhor mencionou, para que quando forem assinar com o tinteiro, tudo esteja de acordo. ── Saudou de forma respeitosa, mas antes de sair, ou esboçar uma saída, aguardava o que ele iria dizer.

    ── Aproveitarei essa garrafa quando estiver em um momento a qual não estou a serviço ── Era ruim a forma como Edgar havia trazido memórias ruins. A viagem foi destruída. No entanto, naquela época, o conselheiro era podre o suficiente para algo que talvez não fosse prudente...


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    — Ross
    Quinn
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    Anne Belleguarde
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    Os olhos ficam mais úmidos, o calor aumentava no pescoço e nas bochechas. Anne sabia que não era tão boa assim para o álcool, mas um certo torpor lhe permitia tolerar por mais tempo aquele tipo de interação estressante. Enquanto o homem que tinha por direito sua mão tentava de alguma forma seduzir o conselheiro de Darya, a garota tinha nas chamas um acalento maior. O fogo, as cores alaranjadas e vermelhas, misturando-se em uma dança curiosa era algo que distraía sua mente. De certa forma, aquele torpor em sua mente fazia as cores mais vivas e ela quase podia sorrir.

    Os detalhes ao lado eram discutidos com mais afinco. Edgar tinha uma energia que dominava o ambiente, constantemente ele fazia acreditar a todos que tinha o total controle. Anne sabia que ele era tão dominador quanto tentava parecer ser. Era difícil que deixasse algo passar pelos seus olhos argutos de falcão, mas mesmo ele tinha suas limitações. Fosse por ignorar ou por não se importar, não conseguia ver como estava guiando aquela que deveria ser sua maior aliada ao caminho de uma inimiga atroz. Anne sentia cada vez mais como se sua única opção para ser livre era levar a ruína àquele homem. Ela negou com a cabeça. Ao perceber tais pensamentos dominarem quem era ela. Era coisa do álcool, aquela ousadia fingida e imaginária. Ela não tinha o direito de punir ninguém, não era alguém assim... alguém ruim. Assim como não tinha para onde fugir se afrontasse Belleguarde, não teria para onde fugir se afrontasse Ashvall. Ela era uma pessoa ruim? Será que é ruim ansiar um pouco de liberdade? Fazer aquilo que se tem vontade merece tantos julgamentos? Ela não queria ferir ninguém, apenas ter o direito de ser quem era.

    — Você é um homem difícil, Quinn. Vejo que é um negociador duro. Será interessante negociar esses pormenores com você. Farei questão que esteja à mesa. — Edgar sorriu, analisando mais uma vez os documentos com um olhar veloz. Ele se serviu de mais um copo da bebida, enchendo-a em uma quantidade perigosamente alta. Claro, seria perigoso se não para o herdeiro de Ashvall, resistente ao álcool como poucos. Então, uma voz se ouviu no corredor e algumas batidas na porta velozes. — Pode entrar.

    Dois soldados fardados adentraram o recinto, Anne podia ver como as botas deles estavam sujas de lama, mas eles sequer se importaram com o fino carpete em que pisavam. Os soldados tinham ainda mais desprezo pela biblioteca que os nobres daquele castelo.

    — Senhor, temos uma emergência a tratar no salão do mago conselheiro. Ele me comandou para chamá-lo. — Um dos soldados de maior patente falou em um tom alarmado.

    Edgar suspirou, parecia enfastiado, mas é como se já soubesse do que se tratava. Provavelmente, deveria ser algo a ver com o suprimento de armas para os Jogos de Guerra ou alguma documentação importante no que se tratava das ordens de sua mãe. Seja o que for, parecia algo realmente sério e que necessitava que o jovem nobre atendesse aquela ocorrência.

    — Anne, entretenha nosso convidado, por favor. Conte para ele alguma história desses livros que você vive lendo. — Edgar disse, antes de se levantar lentamente. — Quinn, continuaremos essa conversa mais tarde.

    O herdeiro, então, se retirou, sendo seguido por seus soldados e ainda mais homens daquele andar, que pareciam profundamente alarmados com a situação. Anne sequer imaginava o que estava ocorrendo, não havia prestado atenção naquelas coisas, mas ficou encabulada por ter sido deixada sozinha na companhia de Quinn. Da última vez, ela havia cruzado um pouco os limites, mas lá tinha a proteção da Rainha, aqui ela estava sozinha cercada de seus inimigos. Quando a porta se fechou, ela fitou Quinn nos olhos. Voltou-se para ele e ficou em silêncio por alguns momentos, olhando-o. Não sabia exatamente o que dizer, então, esticou-se até o copo que Edgar deixou sobre a mesa e o puxou para o seu lado. Então, esticou-se um pouco mais e serviu um pouco de bebida para Quinn.

    — Eu não conto para Darya que você bebeu em serviço, você não conta para Edgar que eu bebi na companhia de outro homem. Consegue guardar um segredo? — Ela disse e bebeu dois goles do líquido âmbar, fazendo uma careta em seguida. — Argh. Eu detesto uísque.

    Ela piscou algumas vezes, sentindo a queimação ao longo de seu esôfago e o calor que lhe subia até as orelhas. Ela sorriu, divertindo-se com aquilo. Pelo menos, na proximidade de Quinn, ela podia ser um pouco mais o que ela era de verdade. Podia se tranquilizar, sem arriscar ser julgada pelo simples ato de fazer o que todo mundo já fazia. O sorriso se desfez com um suspiro. Sentia-se oprimida pelas pesadas roupas que vestia e a bebida também trabalhava para que ela sentisse que o espaço ao redor não era amplo o suficiente.

    — Então, alguma história que você tenha preferência de ouvir?



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    — Ross
    Anne Belleguarde
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    Quinn
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    O conselheiro, o ter esboçado uma saída, ouviu falácia acerca de  quão dura era sua personalidade, de como era irredutível nas negociações. Bem. Tratava-se de um dever maior do que ele. Era referente a segurança da terra a qual amava, por isso, tinha que manter-se sempre atento aos pormenores dos acordos e negócios que tinha que fazer. Como poderia um conselheiro tomar uma posição desvantajosa para si? Claro que possuía um fator crucial. Não queria envolver-se com ele, mas não podia dizer o mesmo de Anne. A condessa mais pareia um enfeite do que alguém naquela sala. Isso lhe incomodou um pouco, mas logo havia cessado, pois deu mais um gole enquanto pessoas abordavam Edgar. Soldados, com as botas sujas de lama, pisaram no tapete luxuoso que ali estava, como notou, sequer se importavam com tais tipos de coisas ── Se fosse em Vaneel, eu os teria punido severamente, na verdade, nem iria precisar, pois nenhum deles agiria dessa maneira... ── Seu rosto, inexpressivo, observava o desenrolar da conversa. Para sua surpresa um rumo inesperado tomou.

    Seu olhar pairou sob o copo, de forma calma enquanto o herdeiro dizia para que Anne contasse uma de suas histórias para entreter Quinn. Sua mente, maligna e mergulhada em um certo nível de desejo, permeou sobre a ideia de algo um pouco mais similar ao que rolou no quarto de Kadrin.  Ele não esqueceu o beijo que ela havia lhe dado, por isso, queria um pouco mais. Sentir o doce mel que era seus lábios húmidos e cheios de desejo. Evitou pensar e observou, calmamente, o homem se retirar do ambiente dando uma certa liberdade aos dois. No primeiro momento, não sabia ao certo o que dizer, ou o que fazer, principalmente quando fora servido pela condessa. Arqueou o cenho em uma expressão de duvida, hesitante, esticou-se para alcançar e degustar mais um pouco. Bebericou alguns longos goles, pois aquela noite seria um tanto quanto complicada.

    Esticou suas costas informalmente se afundando no assento, sua postura de outrora deu lugar a algo ligeiramente mais relaxado. A farda a qual possuía era ligeiramente colada, odiava isso, mas tinha que usar. A roupa marcava demais suas pernas, e realçava um pouco seu traseiro, mas estava sentado, por isso, não seria problema. Fitou-a nos olhos, na forma como se portava sem a presença de Edgar. Suas falas seriam vociferadas de uma forma mais solta, parecia uma boneca de porcelana a qual o sopro de Ay havia tomado seu ser e dado vida. Quinn arfou, soltando um leve riso ao ouvi-la dizer, pela primeira vez naquele encontro, se forma menos robótica ou controlada.

    ── Eu guardo inúmeros segredos! De pessoas que sequer imagina. ── Era notório que, por ser conselheiro, ouvir segredos e coisas inapropriadas para a sociedade já era algo como ossos do próprio oficio. ── Alias, eu não estou proibido de beber em serviço ── Beber com Lizzy havia tornando-o um pouco mais resistente, por isso, degustou um pouco mais do Uísque ──Eu acabei optando por mentir de leve com a intenção de me livrar... ── Olhou para a porta e, temendo o retorno do Herdeiro ao aposento, sussurrou ── ... Dele ── Abriu um sorriso e ergueu o copo para brindar. Teria uma companhia interessante agora, o que outrora fora estragado por uma lembrança  de um de seus amores, fora corrigido pela graciosidade de Anne e seu jeito único de ser. Pensou em algumas coisas envolvendo sua ética e moral, que pro sinal era um tanto quanto dúbias, e nas consequências de seguir seu instinto. O rosto fofo seguido de uma reclamação do álcool lhe fizeram ficar mais solto e tomar uma posição perigosa.

    ── Há uma forma ideal de beber isso! ── Deu um leve balançada fazendo o liquido se adaptar ao calor ambiente, em seguida, apontou para a condessa ── deve ser acrescido uma dosagem mínima de água para mudar o sabor tornando-o mais suava ── como não havia a água ali, simplesmente engoliu seco todo o restante. Fez uma careta pelo amargo oriundo da quantidade massiva de álcool. Meneou a cabeça observando um desconforto em virtude do vestido, assim, corrigindo a postura, inclinou-se para frente, desviando o olhar para a porta. Iria tomar uma personalidade mais solta, algo que ela havia visto quando ele lidava com Kadrin

    ── Se me permitir, queria entender de que forma alguém como a senhorita sobrevive em um local tão frívolo e rígido como esse? Sem nenhuma arte ou musica, sem nenhum sorriso sincero, nem nada do tipo... ── Olhou-a com amis afinco, sua voz era um timbre abaixo do ideal, não queria ser pego. Antes de tudo, incomodado com o desconforto, sentiu que deveria protestar, afinal, Kadrin certamente faria o mesmo. ── Não quer afrouxar um pouco o espartilho, ou algumas de suas amarras? Sinto que a Rainha iria arrancá-lo de você caso a visse assim ── Sua voz era um pouco amis suave, sua expressão relaxada e serena. Não estava tão sério e rígido como anteriormente, na verdade, sentia-se mais livre diante da madame Belleguarde.


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    Quinn
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    Anne Belleguarde
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    A bebida costumava abrir portas. Deixava a cabeça um pouco mais leve, mas aliviava justamente por isso a pressão que Anne sentia sobre seus ombros. Havia cobrado a si mesma de ser muitas coisas e era difícil pensar em tudo aquilo sem suspirar. O som do crepitar das chamas criava um ambiente aconchegante, o retrogosto do uísque a deixava atenta quanto aos efeitos da bebida, a biblioteca lhe transmitia um ar de familiaridade. Diante do fato de que nenhum dos guardas ou nobres daquele lugar costumava frequentar a biblioteca além dela a fazia sentir que aquela era sua fortaleza pessoal. Um lugar onde estava segura, mesmo que apenas parcialmente. Sua fortaleza tinha muitas muralhas, simbolizadas pelas muitas estantes altas que se espalhavam pelo recinto.

    — Imagino que seja confiável, já que Darya te escolheu como conselheiro. — Anne comentou, despreocupadamente. Ela sentia algum grau de nervosismo na presença de Quinn. Por um momento, sentiu vontade de comentar sobre o segredo que eles dois compartilhavam. O beijo nos aposentos da rainha. Contudo, não lhe surgiu coragem. Diante da frase a seguir, ela olhou para porta, um pouco apreensiva que ele retornasse e a pegasse com um copo de bebida na mão. Seus olhos brilhavam pela umidade neles, realçando o azul celestial de sua íris. Voltou seus olhos para Quinn, levando um pouco mais de tempo para processar o que ele havia acabado de dizer. — Vai me dizer que não ficou interessado nele? — Anne riu, um pouco de incredulidade, mas também alívio. — A maioria costuma cair na conversa dele. Ele nem mesmo liga de disfarçar na minha frente. — Anne disse, balançando a cabeça em uma negativa e então, bebericou mais um gole do uísque.

    A frase a seguir, sobre como beber uísque a fez dar de ombros e se levantar. Quinn, um pouco como a maioria dos homens, achava que sabia de tudo. Anne sabia qual era a melhor forma de se beber uísque, ela apenas não ligava, não ligava de diminuir o quão ruim era aquele sabor. De certa forma, era a punição dela por estar bebendo. Queria que fosse desagradável, queria se sentir mal por estar fazendo aquilo. Queria saber que estava fazendo algo errado e queria sentir isso.

    — Não quero que seja suave. — Ela disse, referindo-se a bebida e caminhando lentamente até diante da fogueira. Fitava as chamas crepitando, a dança que faziam e como sem medo consumiam a madeira. Não havia nada que pudesse parar o fogo se ela arremessa uma daquelas toras em brasa contra uma das estantes. Para deixar que as chamas se libertem, é necessário combustível. — Eu não preciso sobreviver. Só fingir que estou viva. — Disse após um suspiro cansado e se voltou novamente para o conselheiro. Ela o olhou fundo nos olhos enquanto caminhava até o sofá onde ele estava. — E você, Quinn? Você sobrevive ou finge? — Anne se sentou no sofá a cerca de um metro e meio do rapaz, bebendo mais um gole do uísque. Deixou-o na mesa de centro antes de colocar o braço sobre o encosto do sofá e se recostar relaxada. Diante da preocupação do rapaz, ela sorriu. — Eu não estou usando espartilho, bobo. — Disse com um tom divertido, antes de arquear uma das sobrancelhas. — Você gosta de ajudar as garotas com vestidos, não? Talvez tenha talento para ser uma aia.



    NOTAS

    — Ross
    Anne Belleguarde
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    Quinn
    Conselheiro
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    Uísque era a pior bebida para o conselheiro. Primeiro que o despertava memórias de tempos que não voltariam mais deixando o sabor prejudicado, segundo, porque tentaria beber tudo pelo simples fato de que afogaria todas as lembranças consumindo a garrafa toda. Sempre que podia, evitava ao máximo tal bebida preferindo conhaque ou até mesmo um vinho comum. Seu olhar dividia atenção entre Anne, seu copo e a garrafa que ainda possuía uma quantidade  grande do liquido, não hesitou em ingerir mais um pouco. Amargo, forte, retirava de Quinn alguns sentimentos e travas sociais a medida que liberava parte de quem realmente era. Quando olhava para o fogo trepidar meio a lenha, despertava uma sensação de acolhimento e de ternura. Queria poder passar dias frente a lareira degustando o maldito uísque. Mudou um pouco a postura, ajustando-se adequadamente, já não mais estava tão jogado assim.

    ── Ele não faz meu tipo nem de longe ── Dizia de forma séria e límpida, sem hesitar, afinal, a personalidade e todo o conjunto lhe desagradou um pouco. Seu olhar pousou sob o copo e então retornou para ela. Uma leve tristeza repousou sob seu ser. Ter uma vida plastificada, com um peso sob os ombros não parecia ser nada bom, na verdade era terrível. Não lembrava se todo mundo naquelas terras era assim, pelo menos não se recordava do herdeiro do ducado agir de uma maneira similar a Edgar. Na verdade, sequer lembrava muita coisa, o álcool já estava a fazer a sua mágica. A conversa tomou um rumo interessante, rumava a uma filosofia típica dos homens de Vaneel. Quando bebiam, costumavam fazer indagações aleatórias que mais parecia ser um profundo e rico conhecimento. Uma situação hilária.

    Observava a condessa mover-se pela sala, bebendo, e olhando o fogo. Tornou a afundar um pouco mais na poltrona e analisá-la com mais afinco. Queria negar que sentia um certo desejo, uma vontade de toma-la para si, mas caso fizesse isso, como lidaria com as consequências? Não sabia dizer, mas evitava pensar e deixar as coisas do jeito que estavam indo. Esboçou, de forma rápida, um semblante triste que nada combinava consigo. Novamente, bebericou. Já não mais fazia caretas ou nada do tipo, não sentia o amargo das memórias e sequer precisava ingerir mais.

    ── Nenhum e nem outro. Eu apenas vivo! Sem pretensões ou coisa do tipo. Sigo indo conforme a situação me leva, seja com liberdade ou sem. ── Era claramente uma mentira, a maior parte da sua vida era sobreviver para não ser engolido pela sociedade. Sua investida em ajudá-la no vestido, que por sinal era apenas uma tentativa de sentir o doce aroma que emanava daquela garota, fora frustrados. Quinn teve seu rosto enrubescido por ter sido "pego no flagra". Tossiu de leve para disfarçar enquanto desviava o olhar para qualquer canto da sala. Levantou-se vagarosamente, a passos largos, seguiu até a mesa de centro depositando ali o seu copo.

     ── Não sirvo para ser uma aia, minha personalidade é mal educada, Anne!  ── Quinn deixaria a formalidade para forçar a condessa a lembrar-se do que aconteceu naquele dia. Andando um pouco para o lado, sem tirar os olhos dela, aguardava as reações a qual ela teria. No entanto retomaria a fala para respondê-la  ── Eu sou um cavalheiro incurável! Não resisto a damas precisando de ajuda, seja com vestidos, bebidas ou quem sabe outra coisa  ── Sua voz era suave e descontraída, falava baixo e soltava pequenos risos que, em conjunto com o ambiente, deixava cada vez mais interessante. Os lábio de Anne pareciam convidativos, queria sentir o resquício de uísque misturado ao sabor da própria condessa, mas ainda não sabia se deveria arriscar-se. Seu corpo, arrastado por um caminhar informal, foi circundar a parte de trás do sofá até a prateleira onde havia um livro a qual era destinado ao aprendizado musical. Pegou-o de forma despretensiosa, não queria ler, mas estava querendo construir um assunto.

    ── Gosta de musica? Eu costumo tocar violino e piano para Darya e sua irmã. As vezes em datas especiais e as vezes apenas para fazer a mais nova relaxar e dormir ──  Colocou o livro esverdeado novamente no local, seria uma ofensa deturpar a ordem daquela biblioteca e certamente o egocêntrico herdeiro iria encher seu saco ── Quando for ir visitar Vaneel, ou a duquesa, me avise. O castelo e suas fortalezas são mais vivas do que aqui. Quem sabe poderei mostrar a você que sei mais do que apenas tirar e colocar vestidos ── O conselheiro de Darya insinuava que ela deveria ir até o condado a qual nasceu, lá, como possuía um castelo, poderia dedilhar um piano para alegrar a condessa, ou quem sabe, proporcionar um pouco mais de liberdade. Aproximou-se, de forma descontraída, vendo que Anne repousava de forma relaxada no sofá, aproveitou para fazer um movimento brusco por trás e, apoiando-se próximo a ela, disse com a intenção de assustá-la ── Talvez eu chame a Kadrin ── Após ter visto a reação, esboçou um sorriso simples junta de um leve riso ── É brincadeira

    NOTAS

    — Ross
    Quinn
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    Anne Belleguarde
    Condessa
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    :shark:

    Para Anne, não havia no mundo algo realmente perfeito. Contudo, entendia que havia um estado que as coisas deveriam estar como ideais. Olhando ao seu redor, era difícil encontrar alguma coisa que estivesse como ela desejava. Quase nada era de fato como ela queria, mesmo quando lhe atendiam os desejos. Havia uma porção de sentimentos que as pessoas não compreendiam, mesmo quando faziam algo por ela. Será que era tão difícil entender que não é sobre ter as vontades cumpridas, mas sobre sentir que não precisa de mais nada? Queria sentir que já tinha o que precisava, mas isso não acontecia. Havia alguma coisa faltando.

    Na cabeça de Anne, isso era a liberdade. Liberdade era o que lhe faltava. O direito de fazer aquilo que queria.

    As palavras de Quinn a confortaram um pouco. Ele não estava caindo na conversa de Edgar, ela até mesmo o tinha julgado mal. Talvez, aquele conselheiro fosse muito mais inteligente do que ela imaginava e aquele tipo de jogo ele já compreendesse naturalmente. Ela se recostou mais no sofá, pensando no que ele havia dito. Apenas vivia, sem se preocupar que as coisas lhe estavam servindo idealmente. Ela vivia com aquele sentimento de solitude, movida pela sensação de que só poderia viver se tivesse o que queria. Quem sabe, não fosse completamente verdade e ela já tivesse liberdade, apenas não a exercia. Anne sentia como a bebida afetava sua visão e seu corpo, deixava-a mais mole e as cores pareciam mais vívidas. Enquanto isso, Quinn se levantou e começou a falar algumas coisas.

    — Não sei, você me parece tão educado e confiável. — Ela disse, talvez como uma forma de contrariar ao que ele havia dito sobre ser mal educado. Claramente, ele se contradizia, ao se colocar como mal educado e logo adiante como um cavalheiro. Contudo, talvez a definição dele para aquelas coisas fosse diferente. — Se não fosse por Darya, quem sabe eu poderia te contratar como minha aia. — Brincou, seguindo-o com os olhos.

    Pensou se deveria beber mais, mas já sentia um rubor na face que e um torpor que estava prejudicando não o controle de seu corpo, mas de sua mente. Ela se sentia cada vez mais movida a gentilezas, cada vez mais empática e queria na verdade um pouco de contato físico. Infelizmente, Quinn ou era muito estúpido ou não queria nada com ela, pois ele se afastou e começou a falar sobre música. Anne conhecia um pouco sobre música e conforme o garoto sumiu de suas vistas, ela tamborilou os dedos no encosto do sofá, tentando controlar os pensamentos em sua mente. Olhou para a porta, como se a vigiasse, movida pela culpa.

    — Eu sempre gosto de ouvir. Em especial os concertos mais antigos, da época da Fundação. — Anne disse e deu um suspiro. — São tão cheios de esperança e gratidão.

    Então, de repente, Quinn surgiu logo atrás dela, assustando-a e a garota se desencostou e em um susto se virou para ele, colocando os joelhos sobre o sofá. Ela o olhou, com seus grandes olhos azuis. Não entendia porque ele havia citado a rainha, talvez quisesse insinuar alguma coisa... não, com certeza, estava insinuando alguma coisa. Por algum motivo, ele não só se lembrava do que havia acontecido nos aposentos da rainha como estava dizendo que queria que acontecesse novamente. Aquilo irritou Anne.

    — Idiota! — Exclamou e deu um tapa no rosto de Quinn. Não era um tapa realmente forte, apenas queria puni-lo de algum jeito. Fitou-o fundo em seus olhos, pegando o queixo dele e endireitando a face do rapaz. Puxou o rosto dele em direção ao seu e o beijou. Primeiro, timidamente, um selinho. Se afastou, olhou para a porta que jazia fechada e então de volta para os olhos dele. Beijou-o mais uma vez, dessa vez, devagar, saboreando a boca dele como se fosse alguma iguaria única. Sabia que não poderia ter aquilo de novo, a qualquer momento poderia ser retirado dela, então, aproveitou a maciez dos lábios dele como se naquele ato o marcasse.




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    — Ross
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    Quinn
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    :Quinn:

    Madame Belleguarde

    O assunto pertinente ao conselheiro se tornar uma Aia de Anne renderia um pequeno riso. Pensou nas regalias a qual poderia obter, as fofocas que escutaria e as informações privilegiadas que podia absorver. Respirou fundo, com uma voz suave, comentaria, de forma breve e em baixos tons, um resmungo que remetia a um desejo. Claro que aquela ideia era insana, não seria tolerado que Quinn ficasse próximo dela sem a intervenção da avó.

    ── Não seria ruim... ── Pensativo, circundou antes de assustá-la, quando feito, abriu um sorriso largo e bobo pela reação de Anne. Seu rosto sentia o ardor suave que do tapa que havia recebido, o que arrancaria um olhar mais solto. Os castanhos olhos foram de encontro ao azul oceano gostando do selinho a qual havia recebido. Olhou para a porta, ligeiramente preocupado, mas sabia que se fosse pego, na pior das hipóteses, poderia tentar recorrer a ajuda de pessoas influentes. Sentiu os lábios serem envolvidos em um caloroso beijo molhado. Desfrutou o sabor remanescente do uísque trazendo memórias mais calorosas e de libertinagens. Mordiscou, de forma provocativa, o lábio inferior da garota. A destra acariciou o rosto macio, as pontas dos dedos tatearam até o pescoço e ombros.

    ── Eu... ── Iria comentar algo, mas o roso angelical, os lábios umedecidos e o doce aroma da condessa lhe forçaram a ir para o terceiro beijo. Dessa vez era mais caloroso em intenso, envolvia em um mais caricias e beijos. De repente, cessou calmamente, deixando seu rosto em um jeitinho mais feminino possível. As expressões de Quinn se transformaram em algo ligeiramente fofo e atraente. Afastado com a boca semi aberta, passou o dedo no próprio lábio limpando-o com cautela ── Idiota ── Brincou recitando a frase de outrora. Voltou a caminhar retornando a parte da frene do sofá, parando frente a garota. Levou a destra acariciando o rosto da menina, descendo pelo pelo pescoço

    ── Eu sonhei com seus beijos depois... ── Olhou para a porta, mas voltou a ela. Quinn não sentia nada muito profundo, apesar de achá-la bela. O que realmente lhe despertava para se envolver, de forma arriscada, era as memórias trazidas pelo uísque. Suas melhores noites de Sexo eram oba companhia de uma boa garrafa de Uísque da capital. Se Anne notasse, o rosto estava mergulhado em um certo desejo de ter com ela. ── Será que ela é virgem? ── indagou-se ao olha-la com ternura e doçura. Tentava deixar a decisão sob a mão dela, quando obter o sinal, não perderia mais tempo.

    NOTAS

    — Ross
    Quinn
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