• Azor Hokar, o deus da destruição, o senhor da consumação, retornou. Reencarnado no mês de Era, em 329, no Império Corrompido de Aronian. Enquanto o continente dos heróis, Samaria, está mergulhado em guerras e conflitos territoriais e políticos, Hokar reúne suas forças para trazer por fim sua vingança sobre toda a Criação – E por sua trágica derrota na Era dos Deuses.

    Enquanto isso, Mahoro Trakarhin, o rei dos imortais e guardião do Criador, prepara os reis e tenta apaziguar as guerras de Samaria para que possam olhar para o verdadeiro perigo que reside ao norte, no Império Aroniano.

    Não se renda ao temor que Azor Hokar representa e todo o mal que ele ameaça trazer. Una forças com o lado que melhor te convier e participe dessa aventura épica!
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    As Crônicas de Samaria :: Ducado de Meliamne

    Caelynn
    Aventureiro
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    — Mês/Ano: 258 E.R
    — Pessoas envolvidas: Caelynn
    — Localidade: Ducado de Meliamne
    「R」
    Caelynn
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    Caelynn
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    Um passo, dois passos. Pula. — Ei, onde estava o... — Espera. Onde estava mesmo? Caelynn parou abruptamente enquanto olhava ao redor. Distraída com a série de brincadeiras que criou em sua cabeça, a menina respirou fundo analisando em volta. Estava em algum corredor do Castelo, isso era nítido. Mas, parando pra pensar um pouco, a menina nunca estava ali antes. Era levemente escuro, com as pedras um tanto gastas e totalmente vazio. Não conseguia ver seu fim, mas notou que há alguns metros à frente havia uma escadaria que levava para algum lugar mais subterrâneo.

    Saltitando e dando pequenos impulsos no ar com as asas, a pequena fada seguiu aquele corredor e consequentemente as escadas. Viu que levava pra mais um corredor, porém dessa vez pareceu mais um... Ela não conhecia a palavra, por isso denominou como buraco. Curiosa, continuou andando até ouvir vozes. Dois guardas riam enquanto estavam de costas para a entrada, não a vendo. Curiosa, Caelynn correu enquanto se jogava no ar, usando suas asas para dar mais impulso e atravessar a entrada enquanto não notavam sua presença.

    Assim que se viu sozinha, começou a olhar com curiosidade para o lugar. As pedras eram bem escuras, gastas. Via até marcas profundas cravadas nas paredes. Também notou barras, feitas de um metal igualmente sujo e gasto e formando uma… jaula? Onde estava? Papai nunca a havia contado sobre aquele lugar e para que servia. Distraidamente, tocou as barras de ferro com as pontas dos dedos, sentindo o forte cheiro de ferrugem.

    — Ei, garota. — Uma voz grave e levemente rouca a fez pular assustada, quase jogando-se contra as grades.

    — Quem é? — perguntou um pouco amedrontada, procurando a origem da voz. No fundo escuro do corredor, uma mão se estendeu por entre as grades. Seus dedos eram magros e muito sujos. As unhas se alongavam em um formato estranho, com uma sujeira preta acumulada embaixo. — Aqui. — Voltou a falar. O coração da menina batia acelerado enquanto caminhava devagar, sempre o mais longe possível das grades. Quando adentrou na penumbra, frente a sua cela, levou alguns segundos para deixar seus olhos se acostumarem com o ambiente, e assim que o fez, prendeu a respiração.

    O homem que estava sentado naquela cela era velho. Muito velho. Caelynn nunca havia visto uma pessoa tão velha antes. Seus cabelos eram compridos e finos, com alguns tufos faltando. Seus chifres eram extremamente grandes e retorcidos, e a ponta de um deles parecia ter sido arrancada. A pele de seu rosto era extremamente enrugada e com manchas, além de muito suja. Também era extremamente magro e Caelynn pensou como ele não saiu dali por entre as grades, porque deveria realmente ser possível.

    — Quem é você? — Perguntou baixinho, ainda assustada. O homem tossiu algumas vezes antes de se encostar na parede de pedra. — Me chamo Lyurid. — Disse simplesmente antes de tossir mais uma vez. — E você, como se chama? Nunca encontrei ninguém aqui. Achei que iam me deixar apodrecer pra sempre... — Comentou um tanto dramático. — Me chamo Caelynn Meliamne. Por que você está aqui? Aqui é todo sujo, frio. — Comentou enquanto olhava em volta, tentando cobrir o corpo com as asas para espantar o frio. O homem deu uma risada abafada, com a pergunta e com a ironia do destino, colocando a filha do duque a sua frente.

    —Fui colocado por engano aqui. — Limitou-se a dizer. Ainda confusa e curiosa, a menina sentou-se no chão. — Por quê? O que você era? — O homem respirou fundo enquanto encostava a cabeça para trás e fechava os olhos, sorrindo levemente. — Eu sou um grande bruxo, sabe. — Disse, mas vendo a expressão confusa da menina, continuou. — Não sabe o que é um bruxo? Bem. Desde muito novo que meus pais diziam que magia poderosa corria em minhas veias. Meus pais sempre foram muito devotos a magia, aos rituais e deuses. Eles sempre ofereceram suas vidas, e a de seus filhos, para a Natureza. Nossa magia vem da Natureza, sabe. Você já deve ter sentido alguma vez, isso que às vezes queima dentro de você. É a Natureza te chamando. — Ele disse.

    Caelynn parou de prestar atenção por alguns segundos e olhou para as próprias mãos, as virando lentamente. Realmente sentia isso que ele estava falando, às vezes sentia algo queimar dentro de si. — A Natureza dá tudo o que precisamos. Nos dá alimento, nos proporciona sabedoria, paz. Então por que não retribuir? Meus pais sempre nos ensinaram que precisamos sacrificar em prol do próprio sacrifício de Natura em nosso favor. Para termos sempre as bênçãos de Natura, fazemos o seguinte. — Ele fez uma pausa, para tossir.

    Caelynn mantinha-se atenta as palavras dele, absorvendo tudo o que podia. Tinha tido aulas sobre Ayo e Natura, mas ouvir de alguém que realmente praticava seus rituais era algo novo. E extraordinário. — Com a orientação de Na’tu, escolhemos um mês específico. Estações específicas. No mês Ira, no início da Primavera, nos reunimos no Maan’o’Ethriel e sacrificamos três pessoas. — Caelynn arregalou os olhos com o pensamento do sacrifício, mas manteve-se calada, ouvindo. — As terras precisam sem férteis e produtivas. As florestas também precisam continuar mantendo sua produção, para nossa sobrevivência e a dos animais também. Quem Na’tu escolhe, será enterrado vivo sob as margens do rio. Chamamos de “a semente”. Porque enterramos vivo, entendeu?

    Limitando-se apenas a acenar com a cabeça, a menina continuou a ouvir. — No mês de Oro, escolhemos alguém que terá redenção e purificação da alma. Prendemos uma pesada pedra aos punhos e calcanhares dele. O cortamos e deixamos fluir. Esse sangue é jogado nas águas do rio. Então, no mês Bel, vem minha parte preferida. — Manteve-se em silêncio por alguns segundos parecendo voar em pensamento para outro lugar, enquanto cantarolava uma música desconhecida para a menina. — Cantamos músicas para Natura, então amarramos a pessoa nas raízes expostas de uma árvore, deixando-o sangrar, para que assim seu sangue regue a terra e as raízes. Ele é um bem-aventurado.

    —Só participei uma vez de um sacrifício em gratidão a Natura. Eram três voluntários, meus amigos. Eles se sentiram honrados em sacrificar seus corpos e alma para que Natura pudesse nos abençoar por mais um ano. A nossa magia, criança, vem da natureza. Vem de Natura.


    Caelynn estava em um misto de sentimentos. Fascinada com a devoção que ele tinha com aquela deusa, assustada em pensar pessoas se entregando para morrer para uma deusa. Por fim, manteve-se em silêncio por alguns minutos, só olhando para o homem. — Preciso de sua ajuda, para sair daqui. Quero ser uma das honradas pessoas que entregam sua vida para nossa amada Natura. Já estou velho, não servirei para mais nada nesse mundo. Poderia me ajudar? — Ele pediu de uma forma que trouxe uma sensação de extrema tristeza para a menina. Caelynn apenas acenou com a cabeça, mantendo-se encolhida entre as próprias asas.

    — Muito bem, vou te explicar o que vai precisar fazer, ok? Primeiro quero que veja comigo a estrutura dessa velha e pequena cela. Olhe primeiramente as paredes e o teto. São de pedra como o restante do Castelo, mas nota-se pela cor, pela textura da pedra, que esse lugar aqui é muito mais antigo que o restante do palácio. A cor escura é de mofo. Como aqui é mais subterrâneo e não tem entradas de ar, a umidade acaba mofando tudo. Se você não viesse eu acabaria por morrer de tanto tossir por isso. — Ele diz, tossindo levemente para demonstrar.

    Caelynn olhava tudo com curiosidade, notando também algumas rachaduras na pedra. Realmente aquele lugar devia ser bem antigo. — As grades também estão bem desgastadas, enferrujadas com a umidade. Mas aqui não são as celas principais, já que de segurança não tem nada. Se eu fosse um pouco mais forte conseguiria quebrar essas barras. — Murmurou enquanto desferia um chute nas barras, irritado. Caelynn pôde notar também que as grades das outras celas estavam iguais ou piores que as dele, algumas quebradas até. — Sou de baixa periculosidade, por isso me deixaram apodrecendo aqui. Por isso também só há dois guardas meia-boca me guardando. — Disse visivelmente irritado.

    — Ok, agora quero que verifique pra mim o que esses meia-boca estão fazendo. — Pediu à menina, acenando com as mãos e olhando animado para a porta. Estava feliz com a perspectiva de finalmente sair dali. Caelynn prontamente pôs-se de pé, ajeitando as penas das asas enquanto caminhava saltitante pelo corredor, escorregando as pontas dos dedos pelas grades sujas. Para não ser vista, manteve-se quieta e observou. Havia dois guardas, ambos fadas de luz. Eram um pouco mais baixos que seu irmão, com cabelos bem cortados. Meu irmão é mais bonito, pensou enquanto se concentrava em notar mais coisas para relatar ao velho.

    — Como estão vestidos? — Disse o velho, meio sussurrando lá do fundo. Caelynn apertou os olhos para tentar perceber tudo quanto fosse possível para ele. Esperava lembrar de tudo depois. Trajavam armaduras leves. Não estavam com espadas embainhadas igual os outros soldados de seu pai. Gritavam em meio a risos um com o outro enquanto, sentados, jogavam dados no chão, brincando de algo que a menina não conhecia. Olhou também em direção as escadas, mas não viu ou ouviu ninguém. Imaginou que seria um bom sinal.

    Voltou correndo animada para o velho, sentia-se em uma aventura. Mal podia esperar para contar tudo ao seu irmão mais tarde. — Então, eles estão sabe, sentados. Aí o mais velho fez assim BUM, com as mãos. — Começou a contar atropelando as palavras e gesticulando com as mãos. O velho balançou a cabeça rapidamente enquanto olhava aflito pro início do corredor. — Xiiiiu, senão eles vão te ouvir. Calma. Primeiro, como eles estão vestidos? Com armas? Estão em dois mesmo? — Perguntou baixinho. Caelynn fez uma careta tentando se lembrar do máximo de detalhes possível.

    — Estão com aquelas armaduras bonitas, com um símbolo assim no braço. Hum, não vi as espadas deles na cintura igual os outros soldados usam. Não estão também com capacete, elmo. Não sei bem o nome. — Deu de ombros, desinteressada nessa parte. — Estão rindo e brincando com dados. Também não reparei em mais ninguém nas escadas que saem daqui. — Completou e notou que o velho sorria. —Certo, agora quero que pegue um pedaço desses de barra que esteja solto nas outras celas. Não pode estar muito enferrujado. — Orientou ele.

    Caelynn rapidamente saiu à procura, puxando e empurrando as barras caídas junto com as grades para ver se alguma poderia se soltar. Percebeu que no fundo de uma das celas, havia uma caída, com uma ponta sobressalente. Logo entregou para o homem, que sorrindo um tanto sem dentes, olhou atento para a pequena fada. — Agora vai ser o seguinte. Lembra que eu te falei que essa pedra é antiga? Desgastada? Com um pouquinho de esforço, vou conseguir quebrar ela o suficiente pra soltar uma dessas barras do chão, e poder sair. — Ele disse enquanto começava a bater com a ponta da barra no chão, na base de outra barra que estava presa.

    Caelynn viu o homem suar enquanto com muito esforço, batia na pedra. O mais difícil, na opinião da criança, talvez fosse não fazer tanto barulho. Via que os músculos que restaram sob aquela pele enrugada estavam tensionados. Seu rosto se retorcia em dor, e por várias vezes ele precisou parar um pouco ou para descansar, ou para verificar se não vinha ninguém. Caelynn não soube quanto tempo durou, mas depois de muitas batidas, suor e dor, o velho respirou profundamente. — Acho que pronto. Sei que não tem muita força, mas no meu estado também não tenho. Mas se juntarmos acho que conseguimos levantar essa barra. — Ele disse arfante, chamando a menina.

    Caelynn prontamente se encaminhou para a barra e posicionou-se do jeito que imaginava que seria, pra levantar aquilo. — Vou segurar aqui junto, aí quando eu falar “já” você puxa pra cima com toda a força que conseguir, ok? Vamos lá. Um...dois. JÁ. — O homem disse mais enfático enquanto, com toda a força dos dois, levantaram a barra. Por alguns segundos parecia que não iria sair do lugar, mas em um solavanco, a barra saiu da pedra. Caelynn comemorou com pulinhos enquanto arfava, visivelmente cansada. O homem também ficou alguns segundos se recuperando enquanto saía para o corredor.

    A criança então conseguiu ver melhor o velho. Suas asas eram enormes, tão grandes que deixou a menina um tanto perplexa. As penas negras eram reluzentes e até arrastavam pelo chão enquanto ele caminhava. “Quero ter asas tão bonitas quanto, quando eu crescer” pensou maravilhada. — Certo, agora vou te ensinar uma última coisa antes de ir cumprir meu destino: como sairemos daqui sem sermos notados. — Ele disse enquanto abria um sorriso divertido. Novamente a menina sorriu encantada com aquele homem, tantas coisas novas.

    — Primeiro precisamos ser cautelosos com nossos passos. E isso aqui que vou te ensinar, você poderá usar para muitas coisas, então não foca só aqui tá. Pensa que você pode também entrar escondida no quarto do seu pai... — Disse brincalhão enquanto piscava praa ela. — Sempre pise o mais leve possível. Pode treinar depois e usar suas asas pra isso. Se acabar usando só elas, pode ser que faça muito barulho. Então assim, vamos andando bem devagar e bem leve ok? Sempre encostada nas paredes para que se alguém estiver vindo, não te veja de relance. — Começou ele, fazendo exatamente o que falou, andando bem leve e encostado o mais próximo das celas.

    — Se tiver meio escuro no lugar, é melhor ainda. Assim você pode ir caminhando nos lugares mais escuros e fica mais difícil ainda alguém te notar. Por exemplo, a gente está andando aqui, e ouvimos alguém se aproximar do corredor. Só correr pra dentro de uma cela dessas escuras, ficar lá bem caladinho, que ninguém vai te perceber ali. — Disse enquanto piscava para ela. Pararam cerca de um metro de onde os guardas estavam. Abaixando-se para ficar na altura da pequena fada, o homem olhou atentamente nos olhos dela.

    — Agora vou precisar muito da sua ajuda. Você vai precisar ser muito corajosa. Eu vou fingir que vou te sequestrar, ok? Mas eu prometo que não vou te machucar. Porque se eles virem que estou com a filha do duque, eles não vão fazer nada comigo e vão me deixar ir embora. Você consegue ser bem corajosa? — Perguntou ele, de forma tendenciosa. Caelynn prontamente balançou a cabeça em sinal afirmativo.

    O velho a puxou para o colo, segurando firme seu corpo enquanto com um braço, colocou em volta do pescoço da menina. Caelynn sentia o coração bater forte em adrenalina. Seu pai talvez lhe desse mais atenção agora, com um homem fingindo sequestrá-la. O velho começou a caminhar com ela, apertando levemente seu pescoço até chegar nos guardas, que assustados se levantaram de forma abrupta, os olhos arregalados. — O q... Lady Meliamne... Solte-a! Agora mesmo! — Disseram de forma trêmula.

    — Me deixem ir, que deixarei a menina aqui. — Disse ao continuar caminhando, dessa vez apertando um pouco demais a garganta dela. Caelynn começou a ficar assustada, e arranhou um pouco a pele enrugada do homem. — Tô ficando sem ar... — Tentou tossir um pouco pra recuperar o fôlego, em vão. Os guardas estavam apavorados, olhando um pro outro, tentando buscar algo para fazer. Mas eram inexperientes, e não sabiam como agir.

    — Vou levá-la para ser sacrifício de Natura. Vocês não podem fazer nada para impedir. Ela ter chegado a mim foi obra da deusa, tudo para cumprir seus propósitos. Ela nunca nos desampara. — Disse ele de forma assustadora, fazendo com que a menina tentasse loucamente se desvencilhar. Não queria participar daqueles sacrifícios horrendos que ele a contou mais cedo. Ela não queria ficar longe de seu irmão. — SOCORRO! IRMÃO! —Tentou gritar, mesmo que sua voz saísse entrecortada por tosses sem fôlego.  

    Um dos guardas saiu correndo por uma salinha que havia no canto direito de onde estavam, enquanto o outro permaneceu acuado contra a parede. O velho continuou subindo as escadas e logo encontrando-se na parte exterior daquele pequeno calabouço em que estava preso horas antes. Fechou os olhos e respirou fundo, sorrindo com a brisa fria da noite em seu rosto cansado. — Eu sabia que Natura não me deixaria apodrecer naquela prisão. Eu sabia... — ele conversava consigo mesmo, enquanto com um bater de asas, os dois logo subiam em direção ao céu.

    Estar do lado de fora pareceu renovar as energias do velho, que antes mal conseguia erguer uma barra e agora era capaz de voar com a menina no colo. Ela nada podia fazer além de olhar desesperada para o castelo, enquanto devagar era levada pelos ares. Não sabia aonde estava indo. Não sabia o que ele faria com ela. Foi realmente Natura que a levou até esse homem? Seria ela realmente uma deusa tão má que a tiraria de seus pais, de seu irmão? Chorava. Com medo, com frio.

    Demorou muito, tempo o bastante para que o desespero desse lugar à aceitação, quando sentiu que estavam descendo, em uma floresta que nunca esteve antes. Era muito escura, muito fechada. A lua não conseguia iluminar totalmente por entre as árvores e ela mal enxergava a si mesma.

    — Desculpe ter te enganado, criança. Mas Natura realmente te trouxe pra mim. — Ele disse, arfante pelo esforço de ter voado carregando-a. Aquele devia ser o lugar onde o homem se refugiava, pois tinha uma velha cabana no meio da relva, com alguns utensílios de cozinha. Não conseguia enxergar quase nada quando foi jogada de forma abrupta no chão, tendo seus pés presos a uma raiz sobressalente que pareceu se mover sozinha. A fada encolheu-se como pode, cobrindo-se com as asas e tentando manter a respiração a mais controlada que pudesse.  Queria pelo menos se despedir de seu irmão. Natura a privaria disso?

    Algum tempo se passou e a completa quietude da floresta ecoava nos ouvidos da menina. O silvo do vento foi o que a manteve acordada, mesmo que o sono e o cansaço quase a vencessem. — Não sabia que Natura era uma deusa má. — Comentou baixinho, atraindo a atenção dele. — E não é! Por que blasfemas desse jeito? — Perguntou ele levemente irritado. — Não sabia que deusas boas pediam crianças em sacrifício. Quer dizer, eu sou uma criança né. — Voltou a dizer. As palavras saíam da boca dela de forma levemente automática, mesmo que sua cabeça não conseguisse raciocinar direito.  

    O homem manteve-se quieto enquanto ela falava, talvez pensando no assunto. — Por que ela pediria o sacrifício de uma criança que nem a conhecia? Sou uma criança boa. Obedeço a meus pais. Bem, quase sempre. Eu amo meu irmão. Então por que você não me deixa ir, e pega um infiel? Ou alguma outra pessoa que queira também se sacrificar. Acho que você não seria muito bem recebido no além vida por ter sacrificado uma criança... — Continuou ela, mais animada agora que viu ele ponderando sobre o assunto.  

    Sentou-se então, respirando fundo para tentar demonstrar um grande pesar. — Eu realmente não queria estar na sua pele. Já pensou também no que os outros seguidores de Natura pensariam? Ou de Ayo? — Balançou a cabeça, respirando fundo para aprofundar o pesar. Caelynn notou que o vento parou de uivar e alguns barulhos estranhos de folhas sendo partidas, ou galhos. Vieram buscá-la? Elrohir? — Por que você não se entrega sozinho em um sacrifício, como também pedindo perdão à Natura por ter pensado em matar uma criança? Aposto que ela receberia seu sacrifício com louvores. — Continuou enquanto se espremia o máximo que podia contra a raiz. Sabia o que aquela luva grande de seu irmão era capaz.

    Caelynn nunca esqueceu daquela expressão, e mesmo anos depois seria incapaz de decifrá-la. Não sabia se era arrependimento ou medo. Repulsa pelo que havia feito ou pelo que iria fazer. A única coisa que conseguiu interpretar muito bem foi o desespero no olhar de um homem prestes a morrer, a expressão que tomou conta de seu rosto após minutos de absoluto silêncio, quando seu irmão irrompeu por entre os galhos das árvores com uma manopla de guerra gigante em sua mão esquerda.

    Não houve tempo de fazer nada, e no último instante de sua vida o velho abandonou o desespero e sorriu, parecendo entender. E então a arma acertou o rosto dele em cheio, derrubando-o em uma poça de sangue. E o sorriso permaneceu lá, tão deformado quanto o rosto após o impacto.

    Caelynn manteve os olhos fechados a todo momento, abraçando forte as pernas. Não queria ver se Natura apareceria ali e machucaria seu irmão para defender o homem. Não queria ver Elrohir ferido. — Cae... — Ele gritou aliviado e puxou a menina para os próprios braços, arrancando de vez a amarra em seu calcanhar. — Cae, Cae. Você está bem? Está ferida? Estou aqui agora. — A acalmou, apertando-a em um forte abraço. E ele mais uma vez a havia salvo.

    Observações:
     
    Caelynn
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    As Crônicas de Samaria



    recompensas


    OBS: A DIY receberá um desconto de 20% nas perícias recompensadas, pois houve um equívoco com a linha temporal das fadas. A missão se passa em 258 E.R e você descreve como personagem NPC central uma fada das trevas idosa. No entanto, as fadas das trevas apenas começaram a existir e a nascer após a guerra das raças e, considerando a longevidade das fadas, é impossível que uma fada das trevas alcance a idade avançada descrita por você.

    +800xp em Magia e Oculto
    +800xp em Percepção
    +800xp em Fé e milagres
    +800xp em Furtividade
    +800xp em Lábia
    +5 PC
    (Boost de DIY utilizado e contabilizado)
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