Dentre todas as opções que Caelynn tinha em suas mãos para humilhar o irmão, dá-lo a responsabilidade de fazer ronda noturna provavelmente havia a pior para Elrohir. O cavaleiro não apenas fora obrigada a patrulhar os corredores do palácio enquanto diversos olhos o encaravam com curiosidade ou escárnio, como ainda precisou fazer isso enquanto cada pedacinho de sua mente pensava incessantemente nela. No pouco que havia visto de suas roupas de seda anteriormente, na forma como ela havia passado a língua pelos lábios antes de falar com ele… Ter que trabalhar enquanto a mente estava tão em outro lugar era terrível.

Quando enfim chegou a hora de passar a vigília a outro guarda - que propositalmente se atrasou -, o rapaz não conteve um caminhar apressado até seus aposentos. Ao menos seu banho já havia sido preparado, provavelmente por ordem de Caelynn, o que permitiu que ele se lavasse rapidamente para remover o suor e o cansaço da longa viagem até ali. Mas não quis aproveitar a banheira quente para relaxar, como normalmente faria. Tinha pressa, afinal.

Utilizou um desodorante com aroma suave e cobriu parte do corpo com um óleo perfumado antes de vestir suas roupas. Como era de costume, trajava calças de couro e uma camisa feita de tecido leve e justo. Seu cabelo perfeitamente penteado, como deveria ser, recebeu uma pequena dose de óleo para manter o brilho e foi finalizado com um galho pequeno de árvore - um costume em Munhal e especialmente do próprio Elrohir. Tendo finalmente terminado de se arrumar, deixou seu quarto e caminhou vagarosamente pelos corredores de Elen’ëar.

Sabia que a irmã sempre ordenava que não fossem feitas patrulhas no corredor onde ficavam seus aposentos. A desculpa para isso era que detestava o barulho dos homens caminhando próximo de sua porta, mas a verdade era que isso criava o pretexto perfeito para que nunca houvesse ninguém próximo o bastante para ver onde o cavaleiro estava indo. Nem mesmo servos ou outros funcionários do palácio tinham coragem de adentrar ali enquanto Caelynn estivesse no quarto, e com isso a caminhada foi rápida e silenciosa.

Bateu à porta ao chegar lá, abrindo-a logo em seguida por saber que estaria destrancada. Girou a chave no momento em que cruzou o limite, e pela primeira vez desde sua chegada o rapaz soube que poderia ser ele mesmo. Caelynn já o aguardava, com meia taça de vinho servida e trajando um robe fino que praticamente a deixava nua - e Elrohir não tirou os olhos dela nem por um momento, não sabendo se olhava justamente para o corpo exposto ou para os lábios vermelhos tão convidativos.

Sentiu o coração bater mais forte, o desejo reprimido lutando para sair de maneira incontida e total. Mas há muito havia aprendido a domá-lo, sabendo que cada segundo ao lado da irmã deveria ser aproveitado ao máximo. Deu um passo para frente, sentindo o aroma amadeirado de incenso misturar-se ao próprio perfume da duquesa, e sorriu para ela.

— Você está linda essa noite, Cae — disse, com uma voz bem diferente da que costumava usar com ela. Essa era doce e gentil, mas ao mesmo tempo carregava consigo as segundas intenções da fada. Aproximou-se um pouco mais, ainda com os olhos fixos na mulher, em dúvida do que fazia primeiro. Poderia simplesmente beijá-la e iniciar aquela noite, mas optou por servir-se primeiro de uma taça de vinho. — O que você planejou para nós, querida irmã?

Elrohir notou a mudança de emoções no olhar da irmã, mas não passou muito tempo pensando na causa. Imaginou que talvez fosse por ter se servido de vinho antes de ter ido a ela, mas já havia sido igualmente repreendido por tomar a atitude oposta em outra ocasião. Havia aprendido há muitos anos que o humor de Caelynn fluía de modo imprevisível, e tentar acompanhar apenas causaria estresse ao tolo que o fizesse. No lugar disso, limitou-se a observar enquanto a mão se fechava em volta da taça e uma resposta desinteressada era dada. E segundos depois veio o momento de explosão que o cavaleiro já sabia que viria.

A taça se chocou contra a parede, deixando uma mancha que algum pobre servo deveria limpar. O rapaz agradeceu pelos corredores vazios, pois o grito provavelmente teria sido escutado pelos servos e guardas caso contrário. E por um momento o cavaleiro viu-se em conflito. Sua parte acolhedora quis abraçá-la, cuidar dela, mas a parte que tinha saudades após o mês de viagem o impediu, alertando que fazê-lo estragaria toda a noite. Por sorte, naquela vez escolheu a segunda parte.

A irmã acabou se recuperando sozinha após alguns instantes com os olhos fechados. O pedido de desculpas foi respondido com um mero aceno de cabeça, que ela entenderia como um indicativo de que não haviam problemas. Os olhos de Caelynn então passearam pela mesa à sua frente, e Elrohir viu o exato momento em que notaram a pequena arma que repousava sobre ela. Bastou um segundo para que ele visse a ideia se formando em sua mente e soubesse o que ela queria antes mesmo que qualquer palavra fosse dita.

— Quando não é algo perigoso entre nós, Cae? — Perguntou, com um sorriso, enquanto viu a irmã caminhando em sua direção. A adaga parecia brilhar em sua mão, dando um ar tão belo quanto amedrontador à fada das trevas. Por um momento, como em tantas outras vezes, Elrohir perguntou a si mesmo se algum dia ela teria coragem de matá-lo. O olhar em seu rosto poderia muito bem ser o de uma assassina, pois tudo o que ele indicava naquele momento era perigo. — E quando eu me opus ao perigo?

O cavaleiro aguardou cada passo da irmã em silêncio, apenas olhando seus olhos enquanto um semi-sorriso surgia em seus lábios. Quando ela parou de frente para ele, próxima o bastante para que ambos sentissem o calor do corpo um do outro, a mão esquerda do homem tocou a cintura da mulher com leveza, enquanto a direita tocou seu ombro. Os dedos desceram a pele fina em um roçar suave enquanto os olhos continuavam conectados, até o momento em que alcançaram o pulso.

Elrohir apertaria os dedos ao redor dela apenas com força o bastante para que fosse compreensível que, naquele momento, o domínio era dele. A adaga seria guiada até o pescoço da dama e a expressão do homem indicaria o prazer que ele tinha em brincar com a vida dela. Com a mão que segurava a cintura o cavaleiro giraria a duquesa até que ela estivesse de costas para ele, a adaga tocando a pele no exato limite entre a ameaça e o corte.

— Não gostei de ser colocado na ronda noturna, cara lady Meliamne — disse, ostentando entre os lábios um sorriso quase perverso que ela não veria. O rosto aproximou-se do dela o suficiente para que a respiração lhe tocasse a pele, antes de um sussurro alcançar seu ouvido. — Como pretende me recompensar por isso?

Elrohir sabia bem que sua irmã o possuía por completo em quase todas as situações. Sabia que morreria e mataria por ela com um simples comando, e o faria com um sorriso no rosto se fosse para agradá-la. Já havia se conformado há muito com a dependência que havia criado por ela e em como isso afetava seu modo de agir.

Porém, havia um único lugar e uma única ocasião em que ela não tinha controle sobre ele. Um local em que a palavra da duquesa não era lei.

— Você tem certeza disso, Caelynn? — Perguntou, os lábios ainda próximos do ouvido da irmã enquanto sentia o próprio corpo se esquentar com o movimento do quadril da mulher. A voz saiu em um tom mais grave que antes, quase ameaçador. Cada sinal que ela dava de que já estava entregue - como o arrepio em seu corpo ou o gemido baixo que não havia sido contido - era um passe para que o homem brincasse ainda mais com ela. Para que a deixasse cada vez mais louca, até o ponto em que ela sequer soubesse mais seu próprio nome.

— Minha duquesa, é mesmo?  — Elrohir relaxou a adaga, sorrindo de maneira ameaçadora ao olhar para o local em que as unhas haviam se cravado. — Eu acho que você apenas diz isso porque sabe que não vou ferir seu pescoço… — as palavras continuavam a sair no tom rouco e ameaçador, e o homem estava tão próximo que Caelynn sentiria o roçar de sua barba contra a pele fina e delicada. Enquanto falava, começou a descer a lâmina fria e afiada pelo robe da duquesa, cortando o tecido sem se importar com seu valor. — Não, não o seu lindo pescocinho… seus súditos pediriam explicações, não é mesmo? — Deslizou a lâmina entre os seios de sua irmã, rompendo todo o tecido que os cobria. — Mas acho que talvez você leve mais a sério se for em um local onde não veriam a cicatriz…

Dito isto, um pressionar um pouco mais forte foi feito com a adaga exatamente entre os seios, apenas o suficiente para que um fino filete de sangue escorresse pela pele e desse mais peso à ameaça.

— Aqui dentro você não é minha duquesa, irmã. Aqui dentro você é minha... cadelinha. — disse, ainda mais próximo de seu ouvido. O braço esquerdo, que antes envolvia a cintura, deslizou até a barriga da irmã e a puxou para trás. O contato entre os corpos trouxe ainda mais calor para o cavaleiro, que respirou profundamente o perfume doce e inebriante da duquesa. Aquele cheiro, o cheiro dela, sempre o fazia perder completamente qualquer noção que ainda possuísse.

Aproveitando-se da proximidade, encostou os lábios no pescoço de Cae com certa suavidade, quase que uma ironia em contraste ao tom ameaçador que utilizava e à adaga que ainda tinha o sangue da mulher em sua lâmina. O beijo que iniciou foi lento e demorado, na medida certa para fazê-la querer mais. Para deixá-la impaciente, para mostrar a ela que ele ditava o ritmo ali. E a mordida que deu ao final, forte o bastante para causar uma leve dor, indicava que apesar de tudo ele ainda sabia exatamente do que ela gostava.

Ver o quanto Caelynn havia ficado obediente com o tempo era uma sensação prazerosa até demais para o cavaleiro. Ao contrário do início, em que ainda havia nela a noção de que seria capaz de controlá-lo até mesmo ali, ela sequer tentava mais resistir a ele. Seu corpo estava completamente entregue e cada reação, desde o puxão que ela deu em seus cabelos ao modo como seus olhos se fechavam para aproveitar ainda mais o prazer, servia para confirmar isso.

Ouviu a irmã deixar escapar outro gemido, dessa vez mais alto, e sorriu sem descolar os lábios de seu pescoço. Sabia que ela queria mais, e ter esse poder todo para brincar era irresistível. Novamente alternou entre ameaça e carícia, mantendo os lábios em mais um beijo suave enquanto a adaga deslizava pelo restante da seda e abria um caminho para o corpo da mulher. A lâmina estava perigosamente perto da pele, de modo que a irmã poderia praticamente senti-la cortar, mas Elrohir não o faria ainda.

— Minha, sim — respondeu, satisfeito com a reação da mulher. O murmúrio rouco que deixou seus lábios carnudos foi capaz de arrepiá-lo, aumentando a sensação de calor que já havia se espalhado por todo o corpo. Sua respiração começava a ficar descompassada mesmo que não estivesse fazendo nada que exigisse de seus pulmões, tamanha era a excitação que sentia apenas por ter o corpo dela colado ao seu. Por ter os quadris encaixados, por sentir o roçar de sua bunda contra ele e pelo lento mover das asas em reação aos toques.

— Ah, Cae, eu sei bem o que você quer com essa provocação — disse, aproximando-se novamente do ouvido dela. A adaga passou pela barriga da duquesa, deixando mais um pequeno corte na região, enquanto a mão esquerda apertou com força sua coxa. As unhas pressionaram a carne enquanto o cavaleiro puxou mais o corpo dela para perto de si. E então soltou, abruptamente. — Sei como gosta de ser tratada, mas você precisa merecer primeiro.

Deixou que ela interpretasse o que queria dizer com a frase antes de voltar a aproximar os lábios do pescoço dela. O beijo dessa vez foi mais urgente, enquanto as mãos agarraram com certa força a cintura da fada, deslizando pelo corpo agora nu como se desejassem explorá-la por inteiro. A boca foi subindo em beijos mais rápidos, e uma mordida foi deixada antes que ele subisse de vez para enfim encontrar os lábios de Cae.

Suas mãos aumentaram a pressão, sendo o suficiente para causar certa dor, no exato momento em que o beijo se iniciou. E ali Elrohir demonstrou quão intensa era sua saudade, em um contato urgente e quase apaixonado. O beijo deixava claro que ele precisava dela. Que precisava tê-la ali, naquela posição. Os lábios pressionados contra os dela moviam-se em um ritmo que ambos já conheciam muito bem após tanto tempo, interrompidos apenas para uma pequena mordida antes de retomarem seus movimentos.

A sensação de poder que tomava conta do corpo do cavaleiro ao ver sua irmã implorando daquela maneira era quase como uma droga na qual era completamente viciado. Torturá-la daquela maneia havia deixado de ser um mero hábito para tornar-se uma necessidade, algo pelo qual o homem ansiava mais que tudo e que fazia compensar cada segundo em que precisava fingir odiá-la e desprezá-la, e cada momento em que tinha de se sujeitar a seus caprichos. Havia aprendido exatamente quanta dor e quanto prazer podia dar a ela para deixá-la completamente aos seus pés, rendida e suplicante, e os gemidos e movimentos sensuais apenas provavam que ele estava no caminho correto.

O tesão do homem aumentava em igual proporção ao descontrole da duquesa, que passou a mover seu quadril com voracidade contra ele em resposta ao beijo quente e intenso. As mãos delicadas tentavam rasgar a roupa do cavaleiro, mas não encontravam força sequer para isso, e a voz suplicante demonstrava que há muito já havia perdido aquela batalha. Deslizando a lâmina fria pela coxa da irmã, Elrohir ameaçou aproximar-se de sua virilha enquanto os lábios iniciaram outro beijo urgente sobre a fina pele de seu pescoço.

Brincou, alternando mordidas e beijos enquanto a faca passava por toda a coxa sem deixar nenhum corte, até o momento em que sua mão foi guiada para baixo. Caelynn levou os dedos do homem entre suas pernas, em uma tentativa de mostrar a ele o quanto o desejava. E de fato o cavaleiro surpreendeu-se com o quanto ela já estava molhada com aqueles toques, deixando que um sorriso triunfante e provocativo cruzasse seus lábios enquanto permitia que os dedos fossem esfregados por ela pela região.

— Ah, querida irmã... você sempre se perde tão facilmente... — disse, provocando-a, enquanto tomava o controle dos movimentos. O dedo do meio deslizou até a entrada devagar, aproveitando a lubrificação para provocá-la. Ameaçou penetrá-la, indo até o limite antes de voltar a subir. Estava prestes a continuar a provocação quando a duquesa recuperou um pouco de sua vontade e utilizou de suas asas para jogar ambos contra a parede. Elrohir sentiu uma pequena dor passando pelas costas com o impacto, mas ignorou completamente em prol dos movimentos intensos que a mulher agora fazia contra ele.

A lâmina da adaga voltou a subir, deixando um pequeno corte na coxa ao mesmo tempo em que os lábios voltaram a tomar os dela com uma urgência e necessidade incompreensível. O calor dos corpos parecia tomar conta de todo aquele ambiente, e o cheiro de suor misturado com o perfume da duquesa era completamente inebriante. Os lábios se moviam em perfeita sincronia, em um beijo que era apenas deles e demonstrava o ápice de sua intimidade e entrega. E, conforme as línguas dançavam pelo controle daquele contato, os dedos da mão direita começaram a deslizar para cima e para baixo, circulando o clitóris da irmã em uma provocação contínua.