Aquilo era um desastre! Um completo desastre.

Nasira refletia enquanto analisava os detalhes dos impostos dos últimos três anos - isto é, desde o momento que havia assumido o cargo -. A duquesa se questionava como tinha sido relapsa a ponto de deixar aquilo acontecer. Os número até poderiam ser bons, mas, aquilo era um absurdo para com os cidadãos de seu reino. Era preciso agendar uma reunião urgente com o conselho.

Por alguma razão os mais pobres estavam pagando mais que aqueles que tinham renda pelo simples fato de não trabalharem com porcentagens, mas, com um valor fixo, como se os cidadão de Aur vivessem num grande pedágio. Obviamente, para quem possuía maior renda, não via problemas com o valor fixo dos impostos. No entanto, a duquesa sabia que os mais pobres sofriam.

— Vocês poderiam me explicar isso?  — a D’Zir exclamou jogando as prestações de impostos dos últimos três anos sobre o centro da mesa. — Eu não consigo imaginar onde isso é justo para os cidadãos de Aur.

A maioria dos conselheiros apenas a fitavam, espantados. Alguns folheavam as planilhas, tentando entender o motivo daquele alvoroço.

— Alguém poderia me dizer quem é o responsável por isso? Cadê o mestre da moeda? Eu quase não o vejo nas reuniões. Estaria ele querendo perder o cargo?

Foi quando um ronco no fundo da sala chamou a atenção de Nasira. Um senhor, em sua forma pequena de fada, encontrava-se a dormir na sala de reuniões. A duquesa inspirou fundo, era perceptível que ela se segurava para não explodir.

— Não me digam que esse é o meu mestre da moeda. — ela exclamou, tentando manter a calma. Era óbvio que aquilo estava uma bagunça, seu mestre da moeda era um senhor a beira da morte que precisava mais do que urgentemente de uma aposentadoria.

— Certo. Sylas, você vai cuidar de informar ao…—  ela apontou para o até então mestre da moeda — que ele ganhou umas merecidas férias para o resto da vida e agora está aposentado! —  decretou.

— Agora… Vamos fazer uma reforma nesses impostos, não mais trabalharemos com valores fixos, eu quero uma coleta de impostos justa e um mestre da moeda decente! Genevive, você está encarregada de encontrar meu novo mestre da moeda, tens até a próxima lua cheia para cuidar dessa missão. Por hora, Muriel e eu cuidaremos do novo plano de impostos e… — ela ponderou por alguns instantes, então fitou os dois conselheiros restantes. —  Sylas e Julius cuidarão das próximas arrecadação mensais enquanto não tivermos um novo mestre da moeda. Estamos acertados?

— M-m-mas…! Senhora! —  Sylas, o mais velho dos conselheiros tentou contra argumentar. —  Ninguém pediu por uma reforma nos impostos… por que não deixar como está?

— Deixar como está? — Nasira repetiu a fala, atônita, não acreditava que um de seus conselheiros pensava daquela forma. — E você ainda se acha conselheiro? A mim pouco importa sua idade, sua mentalidade miúda demonstra o quão incapaz é para o cargo. Não é só porque o povo não demonstra insatisfação que não há o que melhorar, Conselheiro Sylas. Que tipo de Duquesa seria eu se ficasse parada enquanto há essa discrepância nos impostos? O meu povo merece o melhor, eu posso até ter nascido num berço de ouro, mas, minha família está aqui para garantir as riquezas de nossa terra e de nosso povo sejam bem administradas. Enfim, minhas ordens foram dadas e espero que sejam bem acatadas. Quanto aos impostos, acredito que seria melhor, a partir de agora, que trabalhássemos com porcentagens e que ela fosse feita de acordo com o salário dos cidadãos.  

— E como faremos para contabilizar isso? — questionou Julius.

Todos a fitavam, esperando pela resposta.

— Os cidadãos terão que fazer uma declaração daquilo que ganharam ao longo do mês. A partir disso será aplicada a porcentagem de… — Nasira pegou os papéis, era necessário realizar alguns cálculos para definir a porcentagem ideal. Não deveria ser baixa, ou o cofre ficaria sem dinheiro, o que resultaria em pouco investimento, no entanto, não poderia ser alta, ou estaria explorando sua gente. Era necessário que a duquesa ponderasse a porcentagem aplicada. Para isso, precisava levar em conta a quantidade de pessoas nos vilarejos e a média salarial. — Me dê alguns minutos…

Nasira pediu e se dispôs a analisar papeladas e mais papeladas, tanto de censos quanto da média salarial de alguém com um emprego fixo. Começou a escrever números em alguns papéis e a fazer cálculos, os conselheiros apenas a fitavam sem entender.

De acordo com os últimos censos de Aur, havia uma média de pelo menos 5000 pessoas saudáveis trabalhando ativamente num emprego fixo. Tal dado excluía tanto crianças, fadas abaixo dos 50 anos, quanto idosos, fadas acima dos 450 anos, que eram as pessoas que Nasira queria poupar da taxação de impostos, uma vez que não possuíam uma renda fixa e eram sustentados pelos mais novos em suas famílias.

Se eles conseguissem a média salarial de 80 sanários de pratas por mês e fosse cobrada a taxa de 3% ao mês, era possível garantir pelo menos uns 55 sanários de ouro para os cofres. Considerando que viesse a ter uma variável da renda mensal dos cidadãos, era possível tanto quanto ultrapassar essa média, quanto não alcança-la, mas, Nasira confiava em seus cidadãos e acreditava que conseguiria manter a receita mensal do reino, principalmente quando se considerava que essa era somente.

— A taxa deverá ser de 3%. — Ela decidiu, descansando os papéis sobre a mesa. —  Não é alta, logo não trará revolta. Também não é baixa a ponto de nos deixar sem dinheiro, os investimentos poderão ser mantidos. A partir de amanhã poderão divulgar essa notícia, as novas regras sobre os impostos serão de declarar a quantia recebida. Fadas abaixo dos 50 anos estão isentas de impostos assim como fadas acima dos 450 anos. Aqueles que recebem abaixo de 80 sanários de prata também estarão isentos, mas, todos acima dos 50 anos devem declarar ao reino o salário e comprovar que é de fato esse o valor que recebem. Estamos entendido?

Nasira os fitou, parecia que seus conselheiros se esforçavam para digerir as novas informações.

— Posso contar com vocês? — O tom de voz da Duquesa, desta vez, não era duro, era cansado. Apesar de nova, a casa se esforçava para cuidar da única coisa que os pais tinham deixado para ela. Ser Duquesa e gerir um povo era um grande e árduo trabalho, pessoas dependiam dela e das decisões dela. Se Nasira pudesse, não estaria ali. No entanto, não tinha escolha.

Os conselheiros assentaram com a cabeça e, finalmente, a reunião chegou ao seu fim.