Rápida, ela corre entre as árvores da larga floresta, seu ambiente natural. Seus passos são precisos e não podem falhar. A respiração é tão concentrada que subtraiu sua presença do ambiente. No meio das copas, os olhos negros perscrutam os arredores feito uma ave de rapina à caça. Está a procura de rastros, quaisquer que sejam.

Em todas as suas empreitadas, a elfa constatou que os Corrompidos são de longe o povo mais indiscreto. A trilha de destruição os acompanha.

Sob a lua pálida, Ilia vai ao encontro de outros que estejam envolvidos com os contrabandos de animais em Xuridra. Nas últimas missões, recolheu pistas e travou embates diretos, mas o tráfico ainda não teve fim. Os seres de Aronian persistem em trazer sua corrupção a Samaria.

"Aquilo é...", pensou ao avistar algumas árvores tombadas, marcadas por vincos de lâminas e talvez garras de animais. "Nenhum animal entra em conflito com a própria floresta."

Furtivamente, Ilia aproximou-se do incidente, sem descer das árvores. Sobre o galho mais alto, ela analisou a cena. Após constatar o óbvio, a elfa fechou seus olhos. Compenetrou-se em suas orelhas pontiagudas, atiçando-as. Com a ajuda do silêncio da floresta, ela conseguiu escutar alguns gritos quase inaudíveis, porém reconhecíveis: rugido de Tautras.

Respirou fundo. "Ora, ora, mais uma vez. O que eles tem com Tautras?", indagou retoricamente em pensamento.

Ilia apressou-se em direção ao rumo de onde vinha o barulho. Os rugidos de um Tautras são altos e reverberantes; portanto, dado o volume em que ela escutou, a elfa soube que os animais estavam longe. Deveria ser rápida para não perder o tempo. Em outras missões, ela viu que os Corrompidos arrumam um jeito de guiar suas vítimas aos portos mais distantes, nas encostas da ilha, a fim de singrar até as águas sórdidas.

Galho após galho, Ilia teve que abrir mão de parte da sutileza dos seus movimentos. Os pés pisavam firmes contra as madeiras escuras, algumas colisões em galhos mais frágeis soaram vários estalos — incluindo alguns vestígios de lenho que caíram ao chão. Mas não havia tempo para se fazer oculta como antes.

"Ah não", pensou, arregalando os olhos ao perceber que pisou em falso. A haste onde os seus pés tocaram estava podre e, consequentemente, quebrou-se com o passo da elfa. O instinto de sobrevivência falou alto; Ilia se jogou para o lado, no lapso de um reflexo, e felizmente conseguiu se agarrar no tronco a tempo. "Foi por pouco...", refletiu enquanto suspirava, observando a altura da queda que levaria.

Escutou um estrondo e, então, o silêncio. O barulho repentino relembrou a de cabelos negros sobre a sua tarefa. Ela lançou o olhar na direção do rumo que tomava, respirou fundo outra vez e correu.

"Eles foram sedados", imaginou o que havia acontecido.

Ilia já estava próxima do porto. Porém, a noite silenciosa era inquietante e só aumentava a pressão de não poder fazer barulho. Quando chegou mais perto, teve que suavizar seus movimentos. Ainda espreitava sobre os galhos, tocando a madeira com bastante cautela.

Os olhos soturnos mais uma vez vasculharam o cenário, e daí a elfa visualizou-os: primeiro, um grande barco atracado; depois, dois Tautras pateando lentamente para chegar à rampa que dava acesso aos naus, guiados por um grupo de figuras cuja imagem estava eclipsada pela penumbra.

"Não estão sedados... estão hipnotizados", constatou, vendo os grandes animais seguirem os homens.

A elfa taciturna saltou do seu esconderijo nas copas, chegou ao solo a partir de um rolamento que atenuou sua queda. Com a postura curvada, ela continuou se achegando pelas beiradas, aproveitando-se da mata alta para não ser vista.

Com o olhar atento, ela observou o grupo dando uma pausa poucos metros antes de chegar à rampa que já estava de prontidão. Do barco, outras daquelas figuras saíram, munidas por cordas e toras de madeira. Todos se reuniram em volta dos Tautras e começaram uma série de amarrações.

"Um, dois, três, quatro...", começava a contar em seus pensamentos quantos sequestradores haviam ali. " Cinco, seis, sete e... oito!"

Enquanto três ficaram finalizando os últimos nós, os demais adentraram o navio. Ilia respirou fundo ao encontrar, nessa situação, uma brecha. É melhor lidar com três do que oito. Agilmente, Ilia abusou da leveza da sua raça para se aproximar ainda mais. Ela foi de encontro ao mais distante dos três seres; enquanto dois cuidavam de um animal, o alvo dela estava sozinho com o outro.

Serpenteando pela mata, das sombras Ilia ergueu-se no ponto cego da vítima. Detrás ela o viu através da penumbra: um homem careca e de trajes maltrapilhos, completamente concentrado nas amarrações que fazia.

A víbora aproveitou-se da distração da presa para, rapidamente, dar o seu bote — musculatura contraída, pernas prontas para impulsionar e garantir o avança mais rápido e letal.

Quando emergiu do negrume, os anéis que adornavam os cinco dedos da mão direita de Ilia transformaram-se em garras, as quais ferozmente adentraram a garganta do Corrompido. Feito as presas da cobra mais mortífera, um veneno inebriante foi introduzido no homem que, por ter sua garganta perfurada, não conseguiu gritar por ajuda.

Considerações: