Outro dia se iniciava, o frio de Era era perturbador, não poder sair de casa por causa da temperatura e pelos bichos chifrudos correndo pelas ruas. O que me restava era sempre ficar olhando pela janela vendo toda aquela escuridão sem fim, simplesmente eu estava perdido, sem rumo, sem um proposito de vida, ser um médico? Quem iria querer ser tratado por um submundano, ser um cozinheiro? Quem iria comer algo feito por um submundano. Quem vivia comigo gostava de mim ou só estava ali pelo teto e pela fogueira que as mantinha vivas? Acho que sou um subvergente, fugi da rota do meu destino.

Todas estavam na sala fazendo qualquer coisa fora do meu conhecimento, naquela hora, o sentimento de vazio tomou meu coração, eu me escondi no mesmo quarto do dia em que meditei, não queria demonstrar fraqueza perto de ninguém. Lá eu me fechei me mantendo no escuro. Pensando bem, talvez eu nunca deveria ter perdido minha fé, talvez não fosse algo tão inútil assim. Eu fechei meus olhos me lembrando da época em que orava todo dia para me encontrar com Van, e da ultima vez que mantive algum contato com ela.

- Eu realmente devo estar muito desesperado para fazer isso. – Tirei um pequeno terço negro escondido em um bolso interno da camisa. Tremia um pouco a mão segurando aquele item, possivelmente estaria cometendo um erro. – Faz algum tempo, espero que não esteja braba, eu me exaltei a última vez. Muita coisa aconteceu desde do dia que eu tinha decidido parar de falar com você. – Apertava o terço com a mão direita. – Eu não sei se você me acompanha ainda Van, mas olha onde eu parei, eu não sei se sou feliz ou tenho tanto assim como queria, mas, eu não sou mais um escravo, tenho uma casa e aparentemente uma família.

Mordi o dedo do indicador causando um corte no dedo da mão esquerda, deslizei o dedo pelo terço deixando o sangue escorrer. – É, faz tipo, dois meses, eu sai por aí em ‘’missão’’ para o duque anão, dai eu me perdi e reviravoltas aconteceram, eu parei numa caverna cheia de gente e durante a noite invadiram a caverna e bem, eu tentei fazer algo. Nada bom aconteceu, muita gente morreu, não foi como se eu ligasse, Van. Quem eu queria vivo está lá embaixo. Escapei por pouco do local. Idas e vindas até Krieger algumas coisas aconteceram, eu quase fui morte por um fodido de um escravista, logo um escravista achou que ia conseguir me matar Van, enfim, alguns escravistas perderam a cabeça e alguns escravos estão correndo por ai hoje em dia, e você sabe o que dizem né? Homens mortos não contam história, todas as moedas em seus bolsos se tornaram essa bela casa e um grande estoque de comida lá embaixo. – Levei o terço até a testa. – Meu pedido continua o mesmo, espero seu braço e o descanso no vale das liras. – A quarentena que Era estava gerando estava trazendo minha fé por Van novamente.
 

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