As Crônicas de Samaria :: Ducado de Aur
- Pessoas envolvidas: @Nasira Zori D'Zir e @Sarthis Los'Dir
- Localidade: Aur, Munhal.
- Classificação: Fechada.
A presente narrativa aborda o primeiro contato on game entre Nasira e Sarthis, nas dependências do ducado de Aur, algumas semanas antes da partida do nobre para o encontro com o tio, com quem ficaria por quatro anos.
Última edição por Sarthis Los'Dir em Sex maio 15, 2020 2:31 pm, editado 1 vez(es)
Set it on fire
Os preparativos para partir estavam surtindo em efeitos que condenavam a mente do jovem Los’Dir, que havia desmerecido seu destino por tempo demais. Depois de muito conversar com seu pai, desistiu de lutar contra o dever que vinha com sua linhagem. Estudar não fazia parte de seus planos enquanto ainda tinha algum controle sobre a própria vida, mas, ao salientar diariamente que não pretendia fazer parte do âmbito militar, recebeu a inconveniente notícia de que seria o próximo a subir para o cargo de general das tropas de Aur. Para isso acontecer, deveria ter todo um preparo com a milícia do norte, onde seu tio era o inquisidor chefe e um dos melhores estrategistas da região.
Depois de muito resistir, finalmente fora abatido pelo cansaço e vencido pelo dever de sangue. Sarthis aceitava o seu destino, ainda que não se mostrasse grandes interesses nele. Isso, é claro, por agora. Futuramente descobriria uma paixão envolvente pela arte da guerra e estratégias, assim como seu tio. Embora levasse tempo para construir todo o caminho que lhe levaria ao futuro cargo, precisava reportar sua partida a casa de Aur, no castelo regente. Burburinhos corriam aos ventos com a fama da herdeira e sua beleza peculiar. Seus amigos mais íntimos murmuravam baboseiras sobre os grandes olhos castanhos e os cabelos em cascatas que praticamente exigiam o toque, mas Sarthis não se dava o trabalho de ouvi-los, ou acreditar, no caso.
Aur era reconhecido por sua boa genética a todos os que residiam nas fronteiras, deduzia que os boatos não passassem apenas do fruto da imaginação dos contadores de histórias. Já havia visto de perto algumas beldades, mas nada capaz de prender sua atenção por tempo o suficiente. Limpando a mente dos comentários que o entreteram por alguns minutos, Sarthis tentou descansar um pouco para não chegar tão exausto na curta viagem até o castelo. Poucas horas separavam sua residência do destino final, uma e meia, no máximo.
A chegada se consagrou com tropas ao lado de fora, o cocheiro administrando a apresentação do nobre que vinha a mando do ofício e todos os pareceres que circulavam perante o encontro. Quando desceu para o salão de entrada do castelo, ajeitou o cinturão onde a espada estava presa e endireitou a postura. Estava vestido com a armadura da casa Los’Dir, e nos ombros pendia uma capa vermelha, o que daria pompa ao vestuário mas o irritava profundamente. Agora, parado junto aos guardas que o acompanhavam e os homens do batalhão principal, aguardava a chegada da herdeira para terem um momento de prosa.
"Você tem que saber argumentar bem", ela dizia. "Não pode ser cabeça-oca que só pensa em luta, quem cuidará do reino quando eu e seu pai formos encontrar a morte?", ela dramatizava. "Tem que se vestir bem, se portar de forma correta, você não é um muleque qualquer para correr pelo reino, por Natura, Nass, você já tem 99 anos!", ela reclamava. E isso continuava até o ponto em que nem eu e nem ela nos aguentávamos mais e então, ambas explodíamos uma com a outra e brigávamos.
Era um ciclo vicioso. Aeysha D'Zir tinha um gênio forte e Nasira não ficava muito atrás, tinha puxado mais da mãe do que ela gostaria. Então, sempre acabavam entrando num confronto direto uma vez que nem uma das duas cedia, pelo menos não quando atingiam o limite. E era nessa momento que Joshua o pai justo e bondoso interferia.
— Vamos, a sua mãe só está querendo o melhor para você. — E era sempre a mesma conversa. Papai, no entanto, conseguia ser mais pesuasivo do que minha mãe.
— Você sempre diz isso. — resmunguei inspirando fundo. — É só que ela tirou minhas tardes de treino com tio O'Brien, ela sequer me deixa ver Benjamin, pai. Ele é meu melhor amigo, o único. — a última fala fora dita num tom quase inaudível, mas, minha expressão era pura tristeza. Afinal, por sermo um reino misto entre fadas das trevas e fadas da luz, ainda havia um certo receio nos mais novos de confiar em mim devido a minha aparência. Os mais velhos por sua vez tinham superado isso depois de alcançar os 100 anos, mas ainda me ressentia o que tinha passado na infância.
— Certo, certo. E o que acha de hoje irmos ver os guardas? Você sabe, desde que Benjamin completou 50 anos, ele ficou bastante decidido sobre se tornar um cavaleiro. Imagino que talvez você o encontre lá e ainda vai poder respirar um pouco o ar fora desse castelo velho. O que me diz? — E lá estava meu pai com seus planos que sempre me faziam ceder, como eu dizia, papai sempre era mais convincente.
Vesti minha armadura de couro e o acompanhei num vôo animado em direção ao local onde ele encontraria os soldados para conversar.
— Ross
Set it on fire
O momento de espera no saguão rendeu um minuto para Sarthis refletir sobre a sua postura durante os últimos anos, fator principal para ser enviado para as terras distantes, onde o tio lhe faria recomendações de vértices obrigatórios. Para ascender no cargo futuro, precisava prosperar em suas escolhas, e apesar de gostar do estilo de vida que levava, no fundo concordava com aquela mudança. Talvez, apenas talvez, esta consideração tenha sido a responsável por fazê-lo ceder. A casa de Aur o fazia tomar consciência de que as coisas poderiam ser menos efetivas caso continuasse seguindo pelo rumo errado. Para uma fada das trevas, o Los’Dir tinha altas tendências para sujar sua espécie caso os burburinhos deixassem o ducado.
A chegada do duque comprometeu a postura dos soldados, que logo aderiram ao enrijecer da coluna e o apontar do queixo para cima. Sarthis não gostava daquela posição, de deixar-se submisso a alguém para quem deveria responder. Seu sangue quente o testava aos limites de cada situação, mas naquela, teve de dar voz a obediência. Todo o momento se consagrou quando o herdeiro cumprimentou seu regente, esticando o braço para o aperto formal. Mãos próximas ao cotovelo de cada um, assentiram em respeito. Os ventos sussurravam sobre a simpatia do governante, o que poderia ou não refletir na imagem de seu acompanhante.
A figura que o acompanhava fora apresentada aos poucos homens que ali estavam, como a futura duquesa de Aur, aquela a quem deveriam responder. Sarthis comprimiu os lábios discretamente, umedecendo do superior ao inferior com a ponta da língua. Então aquela era a famigerada Nasira? Repentinamente, sentiu uma inquietude o atingir na região estomacal, nervoso como se estivesse ao ponto de prestar serviço imediato. Ou era outra coisa? Seja o que fosse, não merecia competir contra a atenção desperta pela menina. Ali, pôde comprovar pessoalmente que os boatos não passavam disso. Boatos.
Certamente sua beleza não estava prescrita nas parábolas de Munhal. Nenhum bardo deveria ter cruzado com tamanha jovialidade espontânea em cada traço, e por um momento imaginou uma canção que tinha ouvido numa das estalagens que tinha ficado numa das viagens primaveris. A canção que falava sobre a moça feiticeira, que apunhalava homens depois de seduzi-los, para salvar suas dependências. Desejando uma caneca de hidromel, o jovem fez uma breve reverência quando cumprimentou Nasira, incerto de como deveria se portar diante dela. Sua falta de jeito era perceptível, ela mesma deveria ter mais ciência do que ele sobre muitas coisas.
O duque deveria discutir algumas coisas com os homens, algo sobre o avanço das tropas numa região menos populosa para planejarem explorações e pesquisas com mais proximidade dos pontos alvos. Sarthis ficou para trás, ainda nervoso, mas disfarçando como podia. — Vossa Graça. — Fez mais uma breve reverência, como se esperasse ser deixado ali sozinho, uma vez que sua mente despreparada o fizesse crer que Nasira fosse acompanhar seu pai junto dos outros guardas. Não estavam muito longe, apenas a alguns metros. Quatro ou cinco, no máximo.
soldados logo procurei com os olhos meu mais antigo amigo, Benjamin. Para minha infelicidade ele não se encontrava ali. Entretanto, eu tinha uma postura a manter e não deixei minha decepção transparecer mantendo um sorriso gentil em meus lábios cumprimentei os soldados na frente da fila um a um.
— É um prazer conhecê-lo, espero que as atividades no em nosso exército não sejam tão pesadas. — Comentei brincando enquanto cumprimentava um ou outro soldado arrancando risadas de alguns fazendo com que recebessem um olhar sério do superior deles pela perda da compostura. Eu bem sabia como eram pesados os treinos, o mestres de armas do castelo forçava-me a realizar algumas atividades que nem chegava a metade das dificuldades pelos quais os soldados que serviam Aur passavam. — Ora, é apenas uma risada, o que seria a vida sem um pouco de risada? — murmurei quando notei a repreensão silenciosa do superior.
Foi quando eu o fitei, era o último soldado da fileira que faltava cumprimentar. Não sabia seu nome, mas, de súbito me senti afetada por sua presença. Senti minha respiração faltar e um arrepio percorrer meu corpo quando nossos olhos se encontraram. Ao contrário dos demais ele efetuou uma breve mesura para mim, parecia desconcertado assim como eu.
Sorri de forma mais sincera e quando notei, havíamos ficado para trás. Meu pai havia ido junto aos outros soldados para um salão onde deveria acontecer a reunião.
"Vossa alteza", ele disse e sua voz era tão atraente quanto ele próprio.
— Soldado... — eu o respondi incerta, não sabia se deveria ir e encontrar meu pai, não sabia o motivo para aquelas sensações as quais não conseguia compreender. — C-como é o seu nome? — Decidi, então ceder a minha curiosidade em saber mais sobre ele. Era meio injusto para mim quando todos pareciam saber quase tudo ao meu respeito, mesmo as inverdades...
— Ross
Set it on fire
De esguelha, o jovem Los’Dir poderia notar a atenção paralela dos guardas que antes haviam estado em seu encalço. Para não mostrarem sinais de desrespeito para com o duque de Aur, mesclavam suas atenções entre as pautas de grande vigência naquele encontro. Por toda a viagem tinham tomado a liberdade para provocar Sarthis, que ainda não tinha idade o suficiente para prestigiar um conselho de guerra. Ainda em treinamento, precisava se adequar até o último escalão de exigências para enfim se enturmar. Agora, os outros demonstravam grande inveja de sua posição. Mais próximo do que qualquer outro da herdeira, seus nervos estavam em paridade com a ansiedade.
Imaginando que o tempo lhe daria um espaço decente para se recompor, o futuro general estava ainda mais comprometido. A voz daquela fada soava como uma canção bélica, com os instrumentos tocados pelos deuses e somente ela agraciando os ouvintes com aquele tom único. Sarthis precisou piscar os olhos seguidas vezes, suspirando pesadamente. — Sarthis Los’Dir, minha senhora. — Apresentou-se com algum esforço para emitir algum som, aproximando uma mão de uma das dela, pronto para recuar se assim fosse o desejo da moça. Caso a validação se tornasse espontânea, Nasira sentiria o beijo bem pressionado no dorso de sua mão.
Quando se afastou, teve ciência de que permanecer em presença dela poderia lhe custar muito mais esforço do que imaginava. Certamente Nasira deveria ter um paquera, não era tão jovem ao ponto de renunciar aos encantos de quem desejava, nem tão velha para se opor ao mesmo. Seu pai não havia mencionado sua presença até o instante, determinado a contar seus planos aos homens que o acompanhariam em batalha, os mesmos paspalhos com quem Sarthis treinava todos os dias. O pensamento de imaginá-la com mais alguém o incomodou, repentinamente.
Para espantar o imaginário e não se ater aos limites impossíveis de algo platônico, o Los’Dir sorriu marotamente. — De armadura…. Diferente de outras ladys. Seu nome agrega beleza entre as bocas de Aur, e constato a realidade. Mas não sabia que era apta ao combate. Gosta disso, milady? — Em tom baixo o suficiente para apenas eles dois ouvirem, Sarthis tentou puxar algum assunto, ainda que estivesse realmente interessado naquela observação.
Foi quando a mão dele tocou a minha e eu senti os lábios deles pressionados em minha pele. Honestamente, não entendia aquelas reações à Sarthis e senti minhas bochechas esquentarem, deveriam estar levemente coradas. Pisquei os olhos algumas vezes tentando me acostumar com aquelas reações e sorri para ele.
— Oh... os Los'Dir, claro. — Murmurei ainda corada. — Conheço sua família, mas, estou surpresa que nunca tenhamos nos vistos, lembro-me que no último encontro com o chefe dos Los'Dir, ele havia comentado com meu pai sobre ter um filho... seria este você, Sarthis? — a semelhança era próxima da imagem que eu possuía de quem supunha ser o pai de Sarthis, apesar de que tal encontro não havia durado mais que poucos minutos, uma vez que só tinha sido apresentada ao homem e ido embora.
Fitei o longo corredor me questionando se o rapaz não teria a atenção chamada por minha culpa, afinal, tinhamos ficado para trás e nos ausentado a suposta reunião que fizera com que meu pai e duque se deslocasse até ali. Mais uma vez ele se dirigiu a mim, despertando-me de meus pensamentos. A menção a minha beleza me deixou desconcertada, sabia que falavam sobre mim, mas, era diferente de ouvir diretamente.
— Oh... isto? — ri-me fitando minha roupa, apesar de ser uma armadura, era adequada aos limites de minha força atual, uma vez que eu era incapaz de usar armaduras metálicas. Apesar da boa observação, o fato de eu ir a um quartel me deu a liberdade para usar tal roupa, achava que vestidos se limitavam à salões, bailes e encontros formais da realeza. — Bom, apesar de ser mais apta para a magia, meu pai sempre acreditou que eu deveria estar preparada para o inimaginável. — falar sobre aquilo recordou-a dos velhos tempos, de quando ainda era mais nova e treinava junto de O'Brien, seu melhor amigo. — Não posso depender somente da magia, ele sempre me dizia, apesar de minha relutância eu acabei gostando dos treinos pelos quais passei, eram mais divertidos do que ficar presa na biblioteca estudando. — Mais uma vez ri recordando-me de minha relutância em ir treinar, eu sempre apanhava do filho de meu tutor. — É claro que eu não devo ser tão boa quanto vocês soldados, sei me virar com uma espada e num combater corpo a corpo, mas, tenho que alternar meus estudos entre modalidades de luta e conhecimentos para me ajudar o reino quando... — ela titubeou, a ideia de seus pais morrerem parecia surreal demais para Nasira — ... eu vier a assumir o ducado.
Então fitou o corredor mais uma vez e o pensamento sobre a reunião retornou a sua mente. Voltou sua atenção ao homem diante de si.
— Sarthis, você não terá problemas por não estar na reunião?
— Ross
Set it on fire
O jovem soldado parecia estar influenciado por todos os componentes que faziam Nasira ser ela. O castanho dos cabelos que contrastavam com a pele caramelada, dando vida ao brilho curioso e efeito de profundidade nos olhos cor de canela. Os lábios grossos faziam-na parecer um quadro à óleo, uma das novas tecnologias descobertas pelos artistas que filtravam o mundo para obterem os melhores materiais bem na palma da mão. Sujeito ao toque. Mas o que estava pensando? Certamente ela teria lhe chutado, caso pudesse ler os pensamentos ousados que lhe distraiam somente em ter que olhar para a moça. Lhe devia todo o respeito, mas não conseguiu se controlar. O que diabos estava acontecendo?
O reconhecimento do núcleo familiar poderia ser uma cortesia fajuta para prevalecer uma imagem de simpatia implacável, mas os fatos se concretizaram com a menção ao pai e ao filho que nunca surgia diante dos ofícios de sua casa. O rubor esfumou as maçãs faciais de Sarthis, que prensou os lábios por breves segundos. — Eu não era necessário para muitas coisas, mas sim, era de mim que falavam. — E era dele que precisavam, num futuro. Assumir responsabilidades era apenas o começo de uma jornada que para muitos era uma benção e para poucos era uma maldição. Ele, assim como todos os outros homens de Aur, tinham apenas a incubência de decidir de qual parte seriam inclusos.
O Los’Dir prestou atenção no monólogo iniciado pela herdeira do ducado, extremamente encantado com a vocalidade melódica que escapa de seus lábios. Se Nasira nunca pensara em ser cantora, deveria considerar o estudo, ao menos. Silenciado pela justificativa que puxara para uma pontada de dor nas palavras finais, ele se arrependeu momentaneamente de ter feito a pergunta. Combateu a vontade de erguer o queixo feminino ao apoiar o polegar abaixo e ter para si a atenção dos olhos cor de canela, ele apenas ouviu, quieto em seu canto.
Pelo fado do tempo, uma hora ou outra teriam de assumir o lugar de seus pais. Saber daquilo com antecedência não os provia de uma sensação de superação ligeira. — Milady, se me permite dizer…. A senhorita deve ser mais preparada do que muito de nós. Mulheres possuem uma força de vontade que nós, homens, costumamos perder com a raiva repentina que surge diante de qualquer circunstância. Não somos tão racionais o tempo todo. — A autocrítica era sincera. Sarthis franziu o cenho, mordendo o lábio inferior brevemente. Era incômodo saber daquilo, mas não negar a verdade o destacava mediante os jagunços que eram os seus colegas da guarda.
Ainda na posição de ombros rijos e coluna reta com braços para trás das costas, o rapaz comprimiu os lábios outra vez. — Ainda não passei pelo intensivo da milícia, não posso participar das discussões para estratégias. — Murmurou, puxando uma respiração profunda. Estava há dias de ser mandado embora para os anos que passaria com o tio, finalizando a preparação para, finalmente, se tornar um membro oficial das tropas. — Você é linda, Nasira. — A frase escapou pelos lábios de Sarthis, que arregalou os olhos com o comentário em rompante. Que idiota!
Tossiu brevemente para tentar esconder a vergonha, mas a face extremamente vermelha até a ponta das orelhas era uma evidência torrencial do que havia feito. — Desculpe, milady. Me perdoe pelo inconveniente. — Queria se chutar, arrebentar-se ou realizar qualquer punição que o fizesse ser retirado dali imediatamente. Com sorte, ninguém teria prestado atenção neles naquele instante.