Despertar de um sonho, um pesadelo para obter mais propriedade descritivia, infelizmente, tornava-se algo que vinha acontecendo em minha vida com certa frequência. Indenpendente daqueles que provariam-se de minhas próprias experimentações, destacavam-se aqueles que independiam sequer dos problemas que cercavam minha pequena existência. O primeiro deles foi em conjunto com Ilia, estar com ela fez-me um pouco mais segura e confiante, Tenebra foi a origem daquele mal agora e em conjunto com a elfa conseguimos escapar até com alguma segurança, o livro, o grimório da peste fez-se a prova de sua veracidade.

O segundo e mais recente agora não foi culpa da mesma individualidade, ou, pelo menos eu creio que não. Tenebra possuía uma plano mais direto, fechado, era mais gratuitamente hostil e utilizava de lacaios individualmente poderosos em sua maioria, ainda que houvessem alguns lacaios menores. Já o que encontrei foi algo muito mais diverso e disperso, mais perigoso e agoniante, diversos mundos e aspectos que eu jamais tinha experimentado e então centenas ou milhares de inimigos sedentos que foram apenas de mais para que eu conseguisse enfrentá-los. Desta vez a prova de que aquilo não foi apenas um delírio fazia-se na forma de algumas adagas com propriedades estranhas.

Esperei que fosse dia de fato, não queria afobar-me e envolver outros em meus problemas então mesmo a fada eu liberava após recuperar as armas que ela parecia estar apreciando degustar. Sunna era minha única companhia, montada na égua cavalgando em direção a universidade de Ignis. - Calma, calma garota... Dou o comando tranquilizando-a quando finalmente estou naquele local. Nefertari me recebe quase de imediato, um semblante solícito, uma bolsa em seus ombros. - Senhorita... Senhora Hikari, perdão. Levem a égua da líder ao fundo por favor rapazes. O que a traz aqui hoje? Consigo perceber sem dificuldades que não faz muito tempo que ela chegou pela forma como ainda não se desvencilhou dos pertences.

- Não te preocupes comigo, irei estudar alguns livros, eu os pego por conta, não precisa incomodar os funcionários. Em um tom gentil cumprimento a mulher com a mão no peito. Respiro profundamente, ajeito meus pensamentos e entre pela grande porta, caminho pelos corredores em busca do terceiro andar onde alguns livros velhos e novos sobre história encontravam-se. Eu até tinha um conhecimento razoável, mas, dentre o que eu havia estudado eu especializava-me de forma mais ampla no território de Aronian graças ao ferreiro e herói local Arnor, que falecido fez companhia à mim enquanto fantasma. Precisava buscar algo mais voltado ao continente de Samaria caso meu palpite estivesse certo.

Deixo as adagas sobre uma mesa ao canto enquanto começo a procurar pelas prateleiras alguns livros úteis. Apesar de Yun em si não ter respondido ao meu chamado tenho motivos o bastante para crer que aquela entidade que encontrei na ilha sobre o gigante ser ela, ou, dividir ao menos algum tipo de relacionamento com a mesma por sua índole e poder. Lançar-me daquele jeito não seria um feito simples, tampouco expulsar-me apenas por desejo de um dos ambientes oriundos daquela estranha ambientação roxa repleta de portas e destinos. Uma guardiã talvez? Não, seria estranho se aquele aspecto não fosse ao menos um akar em si.

Cinco ou seis livros eram pegos por mim e então jogados sobre a mesa desordenadamente, apenas um mais próximo de onde eu estaria sentada de modo que pudesse estudá-lo. Basicamente ele era um livro raso sobre opiniões que abordava não especificamente apenas a dividindade que eu desejava. Dentre suas escrituras ele falava um pouco sobre a relação de algumas divindades, se já não me fosse comum a história e conhecimentos provindos das terras malditas, até surpreenderia-me em uma abordagem muito mais sóbria e imparcial dos conflitos entre os panteões. Haviam alguns conceitos de como os aronianos veem Bunhi, por exemplo, tal qual é visto por os que vivem aqui o soberano da Justiça Baru.

Infelizmente, aquele livro não tem muito sobre o que busco e logo notando isto deixo-o de lado pegando outro. Este em si, cujo símbolo na própria capa é uma raposa é destinado a contos em torno da própria Akar dos sonhos. Histórias de soldados confortados em meio ao sofrimento da guerra por imagens gentis quando descansaram suas cabeças nos travesseiros dos acampamentos ou como famílias foram confortadas de suas perdas por visitas de seus entes noturnas, permitidas pela gentil Yun. Não sabia ao certo o quanto daquilo era real e o quanto era apenas a manifestação dos desejos deles próprios em conseguir alcançar uma situação melhor, ou, aceitar as perdas que passaram.

Ainda que algo mais apropriado, aquele também não era o conhecimento que eu buscava. Com isto em mente sigo adiante para outros livros que ali estavam, suas páginas eram velhas e quando os abro, percebo que na verdade mesmo seu idioma não é o mais comum atualmente. É arcaico, de tempos mais remotos que sem ajuda não consigo lê-los. Novamente caminho pela sala em busca de encontrar um dicionário que possa auxiliar-me, não demoro, ali mesmo um pouco mais acima com auxílio de uma escada em um livro empoeirado encontro os símbolos marcados e utilizadas naqueles que preciso entender. Pego e desço novamente até a mesa.

Ler e traduzir nunca é uma tarefa fácil, toma tempo e esforço, porém, eu não conseguiria aquietar-me se não resolvesse aquilo por conta própria e logo. O dia ia fazendo-se noite e o sol no exterior já tinha se deitado, velas iluminavam a mesa de pedra em que eu forçadamente continuava buscando conhecimento. Os caracteres iam sendo desbravados e, com a insistência, aos poucos alguns tornavam-se mais habituais e não precisava conferir o signifado destes, enquanto a maioria precisava de um acompanhamento firme para construir um significado mais real e satisfatório.

Os livros diziam mais profundamente sobre os desfechos divinos e seus conflitos. Tinha uma abordagem mais fria, diria até odiosa. Parecia que foi escrito por um dos antigos dragões com bastante rancor contra o pai de todos e também para Hokar, quem escreveu aquilo não via com bons olhos nem um e nem outro, se for opinar tenho quase certeza que o autor os mataria com as próprias mãos se conseguisse. É fácil notar isto pelo desdém que é empregado ao descrever a captura de Yun, quase como se em sua visão ela merecesse isso. Não compactuo com isto, sinto-me mal inclusive de ler palavras tão frígidas, não compactuo com este tipo de tratamento nem mesmo para com meus inimigos.

Nefertari aproxima-se pela porta notando que mesmo estando bem tarde eu ainda encontro-me ali carregando um pequeno castiçal em suas mãos. - Ainda desperta senhora? Deverias descansar. Ela dormia ali mesmo, morava praticamente ali, exatamente por isso já estava em roupas mais confortáveis. Vez ou outra eu passava a noite aqui em sua companhia para estudarmos, hoje mais cedo quando ela estava no exterior era de fato mais surpreendente do que se ao invés disso tivesse a encontrado já tomando café. - Tenho que traduzir estes livros... Dizia em meio a um bocejo. - Tu sabes como sou quando estou em busca de algo. Tu esteves fora? Digo, hoje tu esteves de chegada.

Quando pergunto a mulher faz uma feição surpresa e sorri. - Tu es muito observadora, assim como contenho alguns segredos? Ela brinca em meio a um sorriso que parece o chacoalhar da calda de uma serpente, tal qual sua voz também é arrastada como se um estivesse bem ali conversando comigo. - Estive investigando algumas coisas em relação aos desenvolvimentos recentes com os bruxos do coven, a torre, enfim, preciso estar a par caso isto resvale em um de nossos alunos mais "secretos". Meus olhos se erguem de canto, preocupada, mas, em um suspiro concordo e agradeço. - Certo, continuais com teu bom trabalho. Seja cautelosa, apenas lhe peço isto.

Ela se vai e eu voltou meu foco as páginas daquele livro. Olho a esmo alguns instantes evidentemente já cansada, com a breve pausa perdendo o foco momentaneamente é natural que precise de um segundo ou dois para recuperar o ritmo. Não mais que isto, prossigo lendo sobre como ela foi cruelmente torturada por Azor Hokar, pilar e antagonista do criador. Informações, poderes, para ser franca temo que boa parte do que buscava em realidade era apenas a confirmação de seu próprio prazer em verter o sangue de alguém que discordava dos seus ideais. Talvez, apenas verter o sangue de fato importasse, por mais que eu conheça ambas narrativas todos os feitos empregados pelo poderoso ser pareciam mais fruto de seus próprios interesses levianos que realmente carregar uma mensagem consigo.

Morta. É desconcertante pensar sobre as angústias que isto poderia causar em alguém. Seriam aquelas criaturas manifestações dos medos da Akar que zela pelos sonhos? Ver alguém que cuida dos exércitos para mantê-los sãos compensando os dias sangrentos com noites tranquilas temer tropas malignas como aquela é realmente doloroso, meu desejo de salvá-la que antes era vivído o bastante para enfrentar algo tão poderoso zela ainda mais vivo em mim. Não sei como ela me vê, se para ela sou tão pequena que não possuo importância individual, ou, se ela me vê como um tipo de amiga tola que buscou salvá-la quando ela mesma era mais forte do que eu, mas não importa, encontrarei uma forma de resgatá-la das garras daquela criatura se ela estiver presa com ele. Talvez esta seja a razão pela qual eu não pude clamar por ela.

Fecho ambos os livros, os dois que retratavam o seu legado e aquele com o qual busquei traduzir seu conteúdo e pego aquelas adagas em mão, analisando-as. Consigo sentir que em verdade elas possuem um fio afiado em si, não são apenas doces, na verdade elas são realmente armas. Giro-as em minha mão sentindo quão leves são e sorrio por pensar que algo tão peculiar veio comigo de um mundo tão sombrio quanto o que estive, golpeio o ar com uma expressão séria e hostil rangendo os dentes. - Me espere Yun, verás que não sou tão frágil quando tu jugastes ao tirar-me de lá, verás que eu também posso ajudá-la como tu ajuda os que sofrem em suas batalhas.


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